Aliás, não foi diferente o que tentou o governo Lula em seu segundo mandato, ao esboçar um projeto de marco regulatório que propunha a criação de uma agência específica, paralela à ANATEL, com o objetivo de cuidar somente do conteúdo dessas emissoras. Foi crucificada como alguma coisa que remetia ao período da ditadura e de uma "censura disfarçada" pela ABERT – Associação Brasileira das Emissoras de Radio e Televisão, que saiu imediatamente em defesa de suas afiliadas, conforme a reportagem de Najla Passos da Carta maior em 17 de janeiro último.
Jacira Vieira de Melo |
Por isso tudo, e para que se entenda um pouco mais do episódio que, não somente tenta mostrar a irresponsabilidade da mídia nacional com relação ao seu público, mas que está sendo utilizado pela maior rede de televisão do país para arrebanhar audiência, é que trago a seguir a matéria da diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos, filósofa e mestre em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes da USP, Jacira Vieira de Melo, publicada no site da Agência recentemente.
Diz ela que a decisão da TV Globo de expulsar do reality show o participante Daniel sob suspeita de ter abusado sexualmente da colega Monique, após a polêmica sobre estupro haver explodido nas redes sociais, é muito clara: a emissora reagiu em função da repercussão negativa e não em razão do estupro transmitido ao vivo via satélite. Não interessa à TV e nem à lógica do Big Brother Brasil um debate sobre ética no programa ou na TV.
Boninho - diretor do BBB |
Boninho, diretor do BBB, em um primeiro momento argumentou que “Daniel era vítima de racismo”, provavelmente em uma tentativa de duplicação do debate: estupro ou racismo? Após a intervenção da Polícia, que ameaçou tirar o programa do ar, Boninho mudou de estrategia e afirmou que Daniel "passou dos limites".
O apresentador Pedro Bial foi lacônico ao anunciar a expulsão do participante. Aliás, no episódio do BBB que alcançou o maior índice de audiência até hoje, Bial - por explícita conveniência - não detalhou para os telespectadores - e ao que tudo indica nem mesmo aos outros participantes - qual foi o motivo da eliminação de Daniel. Ao anunciar sua saída, alegou somente que Daniel havia "infringido as regras do programa".
Passaram do limite a Rede Globo, Boninho e o participante Daniel. Infringiram a regra da ética. O diretor e a produção do BBB foram omissos, assistiram de camarote, na madrugada de sábado para domingo, ao desenrolar do que tudo indica ter sido um estupro transmitido ao vivo pela TV brasileira. Poderiam ter agido e impedido o suposto crime. Mas aquilo tudo – o estupro e a transmissão ao vivo aos espectadores pagantes - fazia parte da festa, do show. Tudo leva a crer que apostaram no escândalo, na polêmica, na dúvida sobre o caráter de Daniel, mas também de Monique. Apostaram que surgiriam os argumentos preconceituosos comuns nesse tipo de caso: "ela deu mole, facilitou, provocou". Afinal, os participantes sabem os riscos que correm pelo fato de o programa ser transmitido ao vivo.
A TV Globo parece ter entendido rapidamente os riscos que corre. A denúncia sobre o possível estupro explodiu primeiro nas redes sociais, pautando sites de notícias e blogs, que passaram a indicar links para o YouTube: estupro no BBB12. Em pouco tempo, o caso tornou-se o tema mais comentado na internet.
E o que era para ser uma festa no BBB e mais um escândalo de audiência saiu do controle. A edição do BBB de 2012 tem cinco patrocinadores - AmBev (Guaraná Antarctica), Fiat, Niely, Schincariol (Devassa) e Unilever (Omo) – que, segundo informações da imprensa, desembolsaram R$ 20,6 milhões cada um para terem suas marcas no programa, totalizando R$ 103 milhões. Sabe-se que a discussão sobre limites éticos e legais na produção de conteúdo e patrocínio de programas é uma questão que causa verdadeiro pânico na TV.
Pois esse episódio aponta para duas tendências do público: a primeira evidencia que o telespectador passou, com as tecnologias de comunicação, a ver TV e emitir sua opinião a partir de seu próprio juízo; a segunda tendência revela que a sociedade já identifica com mais clareza situações de violência contra a mulher e que a violação do corpo e da intimidade de uma mulher já é debatida como questão de direito e justiça.
São sinais claros de avanços na agenda de debates e da participação da cidadania. Falta agora que os veículos de mídia também aceitem participar desse debate sobre os limites éticos e legais de seus conteúdos e estratégias para conquistar audiências. Também faltam posições inequívocas das instituições democráticas do país sobre as consequências previstas para esse tipo de atitude de emissoras de TV, para que possam ser responsabilizadas editorialmente sobre os conteúdos transmitidos.
Meu Comentário:
E muito tenho me debatido em sala de aula para conscientizar alunos e alunas sobre o importante papel que desempenham nossos representantes no congresso nacional, principalmente nas suas decisões em relação às concessões de telefonia, telecomunicações, transporte público e tantos outros. São eles que nos representam nesta difícil tarefa de decidir o que é bom e o que não é bom para todos nós, inclusive os conteúdos apresentados pelos canais de televisão. Periodicamente esses contratos de concessão caem na mesa da Câmara e do Senado Federal, justamente para que sejam apreciados sua vida pregressa e renovados por mais alguns anos, ou para que sejam feitas novas licitações que busquem alterar essa propriedade. E a pergunta que fica é a seguinte: será que isso tem sido feito com responsabilidade pelos nossos representantes? Aliás, você em qual deles votou nas últimas eleições?
Fontes: http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/ (acesso no dia 20.01.12)
http://www.cartamaior.com.br/ (acesso no dia 19.01.12)
2 comentários:
Muito caro Jairo,
desde Buenos Aires, cidade que te é familiar, cumprimento-te pela oportunidade do assunto trazido,
Um afago com admiração,
attico chassot
Prof. Jairo!
**Expectativa:**
*Mobilização geral do público brasileiro repudiando tal evento.
*Boicote de audiência ao programa.
*Ação pública contra a Rede Globo e indiciamento dos responsáveis.
*Desmoralização da emissora à nível internacional.
*Intervenção direta dos detentores da marca "BBB" na exibição e elaboração do programa.
*Conscientização das massas à respeito desta fraude chamada de Reality Show.
**Realidade:**
Começa oficialmente hoje o carnaval de Porto Alegre!
Boa semana à todos!
Uilson Carvalho.
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