14 janeiro 2012

UM GAUCHO PREDADOR

Cada vez mais me coloco em desconfiança com alguns produtos que consumimos. Até mesmo as mídias sociais têm cumprido seu papel de alertar a sociedade sobre seus malefícios. Foi o caso recente da Coca-Cola Zero, que teve grande repercussão no Facebook esta semana.

Mas o nosso dia-a-dia está impregnado destes produtos: pacotes de salgados, embutidos, enlatados, etc... Se você dedicar alguns minutos para analisar as embalagens destes produtos, são inúmeros os ingredientes adicionados para preservar a vida útil dos mesmos. Isso faz com que seu tempo de prateleira aumente e, por conseqüência, o lucro dos fabricantes. São ingredientes denominados conservantes, aromatizantes, flavorizantes e outros “antes”.

Esta semana, ao ler uma reportagem na página www.pratoslimpos.org.br , me deparei com o nome bastante familiar de um agrotóxico considerado campeão de vendas pela multinacional agroquímica Bayer. Por isso, resolvi compartilhar com vocês a matéria publicada por lá.
É responsabilidade da Bayer o fenômeno conhecido como transtorno do colapso de colônias (CCD) – problema da mortalidade de colônias de abelhas – e está inserido entre os casos que serão apresentados de 3 a 6 de dezembro, no Tribunal Permanente dos Povos (TPP), em Bangalore (Índia) durante a sessão que processará as seis maiores multinacionais agroquímicas por violações dos direitos humanos.

“A morte das abelhas é um problema global e é fundamental discutir este tema e encontrar soluções internacionalmente. É um bom sinal que o TPP, como uma iniciativa global, aborde este tema, que é um problema ambiental e uma ameaça econômica”, disse Philipp Mimkes, porta-voz da Coalizão contra os perigos da Bayer, um grupo com sede na Alemanha.

Mimkes revelou que os imidaclopride (Gaucho) e clotianidina (Poncho) são os pesticidas mais vendidos da Bayer, apesar destes produtos, conhecidos como neonicotinóides, estarem ligados à morte de colônias de abelhas.

Em 2010, as vendas do Gaucho alcançaram a cifra de US$ 820 milhões e do Pancho US$ 260 milhões. Gaucho ocupa o primeiro lugar entre os agrotóxicos vendidos pela Bayer, enquanto o Pancho está em sétimo lugar. “Esta é a razão da Bayer, apesar dos graves prejuízos ambientais, lutar com unhas e dentes contra qualquer proibição na aplicação dos neonicotinóides”, afirma Mimkes.

Na Europa, em vários países o uso dos neonicotinóides foram proibidos. Na Alemanha, Itália, França e Eslovênia o Gaucho foi proibido no tratamento das sementes de milho, que é sua principal aplicação. No entanto, sua utilização é livre em vários países, incluindo os EUA, onde desde 2006, um terço da população de abelha já morreu.

As abelhas polinizam mais de 70, entre 100, culturas que fornecem 90% de alimentos do mundo. Entre frutas e vegetais, estão, por exemplo, as maçãs, laranjas, morangos, cebolas e cenouras. O declínio na população de abelhas tem efeitos devastadores para a segurança alimentar e é meio de subsistência dos agricultores. Além disso, pode afetar o valor nutricional e a variedade de nossos alimentos.

Diminuição das populações de abelhas

O termo CCD é utilizado para descrever a drástica diminuição das populações de abelha no mundo, que começou na década de 1990 – mesmo período em que os neonicotinóides entraram no mercado. Em 1994, a população de abelhas começou a morrer na França e mais tarde na Itália, Espanha, Suíça, Alemanha, Áustria, Polônia, Inglaterra, Eslovênia, Grécia, Bélgica, Canadá, EUA, Brasil, Japão e Índia.

Os neonicotinóides são uma classe de pesticidas que estão quimicamente relacionados com a nicotina. Eles são absorvidos pelo sistema vascular da planta e são liberados através das gotas de pólen, néctar e água que as abelhas se alimentam.

Embora o CCD seja causado, provavelmente, por vários fatores, incluindo estresse em função da apicultura industrial e a perda de seu habitat natural, muitos cientistas acreditam que a exposição aos pesticidas é um dos fatores mais críticos. Os neonicotinóides são de interesse particular por ter efeito cumulativo e subletais sobre as abelhas e outros insetos polinizadores. Estes efeitos incluem transtornos do sistema neurológico e imunológico refletidos aos sintomas observados nas mortes de abelhas.

O CCD tem um sério impacto sobre a economia dos apicultores de todo o mundo. Nos EUA, o volume dos negócios ligados a abelhas é de US$ 15 bilhões e as perdas em função do CCD são estimadas em 29 a 36% por ano.

Em 1991, a Bayer começou a produzir o imidadoprid, que é o mais utilizado em culturas de hortaliças, girassol e, especialmente, em milho. Em 1999, no entanto, a França proibiu o imidadoprid, após constatar que um terço das abelhas morreu após sua utilização. Cinco anos depois, também foi proibido no tratamento do milho.

A Bayer agora produz a clotiadina, uma sucessora do imidadoprid. Entrou no mercado americano em 2003 e no alemão em 2006. A clotiadina também é um neonicotinóides e altamente tóxico às abelhas.

Um estudo recente das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) descreveu que os pesticidas da Bayer imidacloprid e clotiadina colocam em risco diversos animais como gatos, peixes, ratos, coelhos, pássaros e minhocas. “Os estudos de laboratório demonstraram que estes produtos químicos podem causar a perda de direção, afetar a memória e o metabolismo cerebral e levar à mortandade”, revela o informe da Pnuma.

Devido ao seu alto grau de persistência, os neonicotinóides podem permanecer no solo durante vários anos. Os cultivos onde foram utilizados agrotóxicos anteriormente podem levar as toxinas para o solo através de suas raízes.

Em 2008 em Baden-Wuerttemberg, sul da Alemanha, morreram dois terços da população de abelhas após a clotianidina ser aplicada no tratamento de sementes de milho. Isto levou a uma perda de 17 mil euros. Foi comprovado que 99% das abelhas mortas continham clotianidina. As mariposas e outros insetos também morreram.

Meu Comentário

Não é de hoje que a Bayer age dessa forma. A história de um dos maiores ambientalistas brasileiros comprova que a empresa sempre agiu de forma irresponsável e com uma preocupação única com o lucro. José Antonio Lutzenberger foi um de seus executivos na década de 1970, e abandonou a empresa quando descobriu que a mesma investiria no fornecimento de agrotóxicos para as lavouras de banana da América Central, mesmo ciente dos prejuizos para a saúde da população consumidora e para os agricultores daquela região. Para quem quiser saber mais a respeito pode ler "Sinfonia Inacabada" de Lilian Dreyer, uma biografia de Luzenberger que em certa parte conta a relação de Lutz com a Bayer, quando seu executivo na Europa. Um grande título que merece ser lido por quem gosta das questões ambientais.  

2 comentários:

Brukutu disse...

Olá Jairo!

Quanto à ingestão de alimentos industrializados, podemos citar o caso da nutricionista que resolveu deixar um McLanche Feliz por um ano inteiro sobre a prateleira de casa e cujo resultado é de arrepiar (Link abaixo).

http://nossacozinhadani.blogspot.com/2010/09/nutricionista-guarda-lanche-do-mc.html

Referente ao verdadeiro extermínio que acomete as populações de abelhas no planeta, gostaria de recomendar o documentário:

" O Silêncio das Abelhas".

Recentemente assisti em um telejornal uma matéria à respeito de uma possível proibição das importações de suco de laranja por parte do governo estadunidense alegando justamente o alto índice de uma substância usada nos defensivos agrícolas aqui na nossa terrinha.

Uilson Carvalho.

Attico CHASSOT disse...

Meu caríssimo Jairo,
tua denúncia é tão relevante e dolorosamente impressionante que mostrei alguns dados que trazes para Gelsa aqui em Santiago do Chile.
Ela e eu exaltamos em ti um paladino do meio ambiente neste Rio Grande do Sul predador.
Com admiração,

attico chassot