07 janeiro 2012

QUEM ROUBOU MINHA AUTOESTIMA?

Um dos papéis que nós, professores, desempenhamos em sala de aula é o de motivadores, de provocadores. Principalmente, depois do advento da chamada Escola Nova, onde o aluno deixou de ser uma figura passiva da educação e passou a ser protagonista na busca do conhecimento. E dentro dessa perspectiva, a visão otimista da realidade brasileira, em relação à política, principalmente, também é um destes papéis do professor em sala de aula. Até porque, tenho a opinião formada de que nada se consegue sem a ciência política, pois a sociedade dos homens construiu ao longo do tempo um enorme conjunto de regras que se articulam pelo uso desta ciência.

Muito bem! Mas porque estou argumentando isso tudo? Porque nos últimos tempos tenho me decepcionado tanto com as notícias da corrupção na política brasileira, que por vezes me pergunto até quando poderemos conviver com tudo isso. São muitos os representantes que, ao assumirem as vagas para as quais foram eleitos, possuem como primeiro pensamento o enriquecimento particular, deixando de lado qualquer pensamento em relação ao coletivo que o elegeu. E a percepção que se tem em relação à justiça brasileira, é que nada tem acontecido com esses golpistas do dinheiro público.

Eu que já falei aqui algumas vezes sobre a corrupção, nesta edição novamente retomo o assunto, agora para falar de um tipo chamado “lavagem de dinheiro”. E esse desabafo que motiva minha escrita, é porque acabo de ler o livro que está em evidencia nesse momento no cenário literário político nacional: “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. É um relato triste e preocupante do que se tem constatado nos últimos 20 anos da política nacional, misturada com desvio de dinheiro público, ineficiência dos órgãos públicos, lavagem de dinheiro em paraísos fiscais mundo afora e impunidade desavergonhada. Por tudo isso hoje estou muito mais pessimista em relação ao nosso futuro. Creio que estou com a autoestima perdida neste momento.

O resgate feito pelo Amaury Ribeiro faz com que nossa memória retome a história de personagens nada ilustres do cenário brasileiro. Estão ali a despudorada Georgina de Freitas, que meteu a mão no dinheiro da Previdência, o juiz Nicolau dos Santos Neto, que acumulou em suas contas no exterior o dinheiro da construção do Tribunal paulista, o senador brasiliense Luis Estevão, que também se apoderou de quantia significativa no mesmo episódio, o ex-prefeito e ex-governador paulista Paulo Maluf e suas contas fantasmas, entre tantos. E tudo isso, sem que a quantidade original afanada fosse integralmente devolvida aos cofres do governo. A grande maioria do dinheiro evaporou, ou está sendo desfrutada por parentes e prepostos.

O mar de lama que relata o jornalista, onde estão envolvidos o ex-governador paulista e ex-candidato a presidente José Serra e toda sua linhagem, vem comprovado por uma série de documentos em anexo. São inúmeros comprovantes de depósitos, um vai-e-vem intenso de valores entre empresas no exterior e em território brasileiro, dinheiro que troca de mãos a cada dia para escapulir das investigações, investimentos em ações de empresas de fachada, que só existem no papel.

O livro destaca as ações conjuntas realizadas pelo tesoureiro de campanha do PSDB, Ricardo Sérgio de Oliveira, pela filha de José Serra, Verônica Serra, seu marido, o empresário Alexandre Bourgeois e muitos outros. O conteúdo é de dar náuseas.

Dia desses conversava com meu pai, e falávamos sobre o orgulho de se trabalhar de forma honesta, evidenciando nossas competências e habilidades. Depois de muitas reflexões nos colocamos entristecidos um e outro, ao analisar essas ações que o livro descreve. A que ponto chegou a ganância do ser humano, ao tomar um dinheiro que provém da cobrança de impostos públicos e que deveria ter como destino o bem geral da população, para uso em benefício próprio. E saber que essas quantias não são retomadas, jamais voltam à sua origem em forma de benefícios. Chegávamos a conclusão de que, enquanto a maioria da população se estrebucha oito horas diárias para ganhar o salário mensal com muito sacrifício, uma meia dúzia de delinqüentes se reúne em restaurantes sofisticados para arquitetar de que forma se apoderar desse dinheiro. E o pior: o Brasil está entre os países com maior índice de corrupção mundial, ficando com números próximos de países africanos, onde preponderam as guerras tribais e a fome entre a população.

Não se sabe até quando poderemos conviver com essa realidade. O certo é que não existe um momento em que a corrupção se extinga. Ela vai e vem em menor ou maior volume. Mas na intensidade em que ocorre em nosso país “é uma vergonha”, para parafrasear um âncora da mídia noticiosa nacional.

Desejo recuperar nestes próximos dias minha autoestima, tão prejudicada pela leitura da Privataria Tucana. Para tanto quero, nas minhas férias, algumas leituras mais amenas.

Até porque, na volta às salas de aula, é necessário retomar aquele espírito motivador e provocador característico da atividade docente. Que Deus me ajude.

2 comentários:

Brukutu disse...

Jairo!

Quando enviei o cartão de "Feliz" ano novo, algumas pessoas retornaram-me questionando o não entendimento do motivo do mesmo.
Só queria chamar a atenção das pessoas para, que, em 2012 haverá a arrancada definitiva dos investimentos públicos em relação aos eventos esportivos tão cobiçados internacionalmente. Só queria deixar no ar duas perguntas.

Qual será o valor final do montante bilionário que será sacado dos cofres do povo brasileiro para a realização da Copa e Olimpíada?

Quanto deste valor será perdido durante os trâmites sombrios que rondam os processos onde há dinheiro público envolvido?

Com certeza teremos muito pano pra manga e muitos argumentos para novas obras literárias durante os próximos anos.

Feliz 2012 !!!!!!

Uilson Carvalho.

www.brukutu.com

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jairo, realmente a cada dia somos desiludidos por uma palavra que parece exótica, mas se tornou cotidiana: roubalheira.
assim associo-me ao comentário precedente muito bem posto. Tenho escrito: "A copa não e' do Brasil! E' da FIFA!
Este comentário e' de estréia com iPad. Ele não me obedece muito. Por exemplo, escrevendo, contra minha vontade aquela sigla que atenta contra a soberania nacional em caixa alta, quando três vezes escrevi em caixa baixa. O meu nome ele insiste que e' de determinado oceano.
Peco (devia ter uma cedilha no c) que releves.
Um abraço do acusador