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Era uma vez um pequeno lugarejo |
Era uma vez, um pequeno
lugarejo plantado num vale bucólico e repleto de belezas naturais. Um lugar esplendoroso,
cheio de árvores, frutos e flores silvestres, onde o canto dos pássaros era a única sinfonia
que ali ressoava. Corria ainda um rio de água límpida e
tranquila, bem no meio daquele vale, tornando o clima ameno e agradável. Um verdadeiro paraíso.
Conta a lenda que aos
poucos, um povo simples e ingênuo veio habitar aquele lugar. Construíram suas
pequenas casas ao longo do rio, fazendo daquele recanto um local maravilhoso prá se morar. Embora a dádiva de todos os recursos que o lugar lhes ofertava, plantaram roças e pomares e passaram a
colher hortaliças, verduras e frutas. Também criavam pequenos animais para seu
sustento.

Ali ninguém era rico, tampouco ninguém
era pobre. Todos eram felizes, pois não havia necessidades que não fossem satisfeitas
por tudo o que o vale lhes proporcionava.
Acima daquele lugar tinha uma grande montanha, aonde diziam haver um tesouro maldito enterrado. Mas como
o povo simples dali não entendia de ganancia e de riqueza, jamais seus habitantes
se atreveram a explorar tal lugar. Tudo o que possuíam no vale acreditavam
suficiente para viver de maneira simples e feliz.
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E as máquinas começaram a explorar a montanha |
Mas eis que um belo dia, um
senhor de roupas e botas bonitas, desconhecidas de qualquer morador que ali habitava, com um grande anel de brilhantes no dedo indicador da mão
direita, conclamou a todos. Revelou-lhes que havia descoberto um tesouro
na montanha, e que se o ajudassem a desenterrar aquele tesouro, repartiria com
toda a população do povoado. A partir de então, ninguém necessitaria plantar, pescar ou trabalhar de
sol a sol para viver feliz naquele lugar. Somente com os dividendos do tesouro
seria possível viver ali para sempre, inclusive deixar parte deste tesouro para as outras gerações.
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Um mar de lama fétida e tóxica desceu a montanha |
Os mais velhos, ao ouvirem
o relato do senhor de roupas e botas bonitas, se mostraram muito desconfiados,
pois pela experiência que possuíam sabiam que o homem de palavra fácil e
personalidade agradável, raras vezes é homem de bem.
Mas os mais jovens, imbuídos
de grande egoísmo e de um espírito imediatista, se convenceram das palavras daquele
senhor, e aceitaram sua proposta, apesar dos conselhos dos mais velhos. Empolgados pela promessa dele e munidos de
ferramentas, todos subiram a montanha e se puseram a escavar em busca do
tesouro.
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O povoado reclama de volta o seu paraíso |
Aos poucos a montanha foi dilapidada, expondo suas entranhas e a riqueza que do seu seio brotava. Eram
metais preciosos dos quais eram feitos anéis como aquele do dedo indicador do
senhor de roupas e botas bonitas. Mas junto com os metais, uma lama fétida e tóxica
se acumulava no topo da montanha. E assim, seguiram as atividades em busca do
tesouro, em busca da riqueza, por anos e anos. E os olhos do senhor de roupas e bota bonitas
ficavam esbugalhados a cada quantidade de metal precioso que dali brotava. E ele queria mais, e mais, e mais ainda...
E os velhos, que inicialmente não quiseram
se dobrar aos apelos daquele senhor, já se convenciam de que os jovens tinham razão, embora constatassem que a repartição do tesouro não era tão igual como ele prometera. Mesmo assim, eles agora viviam às custas dos rendimentos da montanha, e haviam deixado de plantar, de colher e de pescar.
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No rio, antes límpido e tranquilo, hoje restam poças com peixes agonizando |
Mas eis que num entardecer muito lindo, daqueles capazes de emoldurar obras de arte, e que só ocorria naquele vale, uma grande e inesperada tragédia aconteceu. O sol já se punha no
horizonte, quando uma parte da montanha se rompeu, e aquele mar de lama fétida e tóxica contida no topo da montanha desceu com grande velocidade
em direção ao povoado. Foi arrastando e arrasando tudo que encontrava pela frente.
Árvores, casas, ruas, calçadas, praças e pessoas foram arrastadas e sepultadas
pela excrescência daquele material que ninguém conhecia. E o senhor de roupas e
botas bonitas, agora preocupado e apavorado, afirmava: “Não se assustem, esse material não faz mal. Fiquem
tranquilos, vamos dar um jeito”.
E o desespero tomou conta
de todos, quando viram que o povoado sumiu, junto com toda a beleza e com muitas das pessoas que ali
habitavam. Casas e ruas foram tomados pela lama fétida e tóxica, putrefazendo toda a paisagem linda que ali havia. O rio de água
límpida e tranquila se tornou um esgoto a céu aberto, com uma cor castanho escuro de material em decomposição e um lamaçal mal cheiroso. E onde havia algumas míseras
poças d’água, podiam se ver peixes agonizando. E a água que o rio fornecia para
saciar a sede do povoado, estava agora toda envenenada. Era, sem dúvida, também, a morte do rio.
E os habitantes que sobreviveram à tragédia, agora sem as suas casas, sem os seus vizinhos, sem os seu pais, sem os seus filhos, choravam e imploravam de volta o seu paraíso. Agora nada sobrara, porque ERA UMA VEZ... um pequeno lugarejo plantado num vale bucólico e repleto de belezas naturais, onde havia um rio de água límpida e tranquila, e uma montanha onde diziam haver um tesouro maldito enterrado.
E os habitantes que sobreviveram à tragédia, agora sem as suas casas, sem os seus vizinhos, sem os seu pais, sem os seus filhos, choravam e imploravam de volta o seu paraíso. Agora nada sobrara, porque ERA UMA VEZ... um pequeno lugarejo plantado num vale bucólico e repleto de belezas naturais, onde havia um rio de água límpida e tranquila, e uma montanha onde diziam haver um tesouro maldito enterrado.
Um comentário:
Muito estimado colega Jairo!
a saga de Mariana é dolorosa. As cores com as quais a pintaste são marcadas pela dor, pela tragédia e pela ganância.
Talvez, um dia falemos: "Era uma vez um rio Doce....
Com admiração e profunda dor,
attico chassot
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