01 março 2019

ATENÇÃO, GRAVANDO: "OUVIRAM DO IPIRANGA..."


Passados dois meses de novo governo, algumas ações já podem ser vislumbradas, embora seus escassos resultados já deixam a população um tanto irrequieta. Logicamente que é pouco tempo. Isso grande parte concorda. 

Alunos perfilados exercitam o hino nacional em escola do Distrito Federal
Já vimos ações na segurança pública com o novo ministro encaminhando seu projeto anticrime; na área econômica o ministro anuncia com alarde a reforma previdenciária; na área ambiental uma faxina na superintendência do Ibama; etc e tal... 

Mas o que mais chamou a atenção na última semana foi a primeira ação do ministro da educação: sugerir às escolas o cântico do hino nacional, sendo o mesmo gravado sob a forma de vídeo e encaminhado ao ministério em Brasília. 

Vamos ler o interessante conteúdo:

“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração.
Brasil acima de tudo. Deus acima de todos! ”

Ricardo Velez Rodriguez

Prezados Diretores, pedimos que no primeiro dia de volta às aulas, seja lida a carta que segue em anexo nesta mensagem, de autoria do Ministro da Educação, professor Ricardo Velez Rodriguez, para professores, alunos e demais funcionários da escola, com todos perfilados diante da bandeira do Brasil (se houver) e que seja executado o hino nacional. 

Solicita-se por último, que um representante da escola filme (pode ser com celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do hino nacional. E que, em seguida, envie o arquivo de vídeo (em tamanho menor do que 25 MB) com os dados da escola (nome, cidade, número de alunos, de professores e de funcionários) para os seguintes endereços eletrônicos: 


Sou a favor de que se conheça o hino nacional, coisa que muitos ignoram, incluindo autoridades e pessoas de destaque. Tem gente que não passa da primeira estrofe. E o aprendizado desde as series iniciais faz parte da nossa formação cidadã. 

Mas honestamente, seria trágico não fosse cômica a atitude ministerial.
Grande parcela das Escolas Públicas está totalmente sucateada


Sabedores que somos das péssimas condições da educação nacional, da estrutura precária da grande maioria das escolas públicas brasileiras, é impensável que uma autoridade escolhida para realizar uma transformação naquilo que deve ser considerada questão fulcral no nosso desenvolvimento, aja desta maneira. 

Cá com os meus botões, fiquei imaginando o momento em que essa ideia foi gerida ali no gabinete ministerial. Me parece que houve por parte do ministro uma preocupação em se fazer saliente na equipe presidencial. De certo, imaginou ele, o ano letivo seria inaugurado por uma enxurrada de vídeos que lotaria a caixa de mensagens do ministério. E seriam tantos que o ministro convidaria o presidente para assisti-los em seu gabinete, e glorioso diria: 

Viu, presidente? Estamos abafando! O que achou desta minha ideia?

Mas, como qualquer ideia pouco refletida, carregada de esnobismo e de vaidade, o hino nacional cantado por alunos, professores e funcionários, e filmado pelo representante da escola transformou-se em nitroglicerina pura. Foi mote poderoso para os meios de comunicação sempre atentos a tudo que Brasília irradia constantemente.

O ministro Ricardo Velez reconheceu o erro e voltou atrás em sua decisão
Analisando o fato em si, pode-se denotar que a princípio a pasta da educação se mostra um tanto desorientada. Fiz algumas investidas no histórico do professor Ricardo Velez e analisando seu Currículo Lattes percebe-se formação razoável, com atuações discretas em instituições de ensino reconhecidas nacionalmente, com ênfase maior em graduações de filosofia e teologia. Mas o que salta aos olhos neste histórico do Lattes é a pouca experiência com as questões técnicas, didáticas e pedagógicas do Ensino Básico. Não que isso seja imprescindível na situação do cargo. Mas para quem está imbuído na resolução de problema tão complexo quanto a educação brasileira, certamente a ausência deste conhecimento vai fazer muita diferença. 

Os críticos de plantão poderão argumentar que se ele se cercar de especialistas, tem possibilidade de fazer um bom ministério. Mas ainda assim, mesmo atuando há tempos em território brasileiro, sua nacionalidade colombiana pode dificultar o entendimento das exigências e da nossa educação em sua essência. Sem contar que para uma gestão eficaz e de resultados consistentes, se faz necessária uma experiência concreta na condução de projetos pedagógicos sólidos e que busquem indicadores similares aos de Suécia, Dinamarca, Coreia do Sul e outros modelos de sucesso.

Mas, vamos dar tempo ao tempo! Quem sabe este não seja um pequeno lapso de principiante no cargo. Sejamos como Santo Agostinho: 

“Não há lugar para a Sabedoria, onde não há Paciência!”

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