05 julho 2008

A INSENSATEZ DO "COPIA-COLA" - ou se poderia chamar O Ataque dos Clones?


Está cada vez mais difícil estabelecer critérios na avaliação de trabalhos de pesquisa em nossas instituições de ensino. Solicitar hoje um trabalho de pesquisa sobre determinado conteúdo não consegue atingir os objetivos previstos pelo docente. Em poucos minutos o aluno aparece com o trabalho já impresso e com capa para entregar. Alguns alunos buscam tão somente cumprir o que foi solicitado, de olho na valor da nota de avaliação. Aprender com a pesquisa? Isso não é relevante. O importante é cumprir o que foi pedido, sem que haja qualquer preocupação com a qualidade do conteúdo. Só para exemplificar, nesta semana um aluno que não havia me entregue seu trabalho de pesquisa na data combinada pediu licença para ir até a Biblioteca. Até o intervalo ele não havia retornado. Alguns minutos depois de reiniciar a aula pós-intervalo, este aluno entregou-me em mãos um trabalho impresso de cerca de cinco páginas, com capa e tudo. Disse-me ele: "Pronto, professor! Aqui está meu trabalho! Não esquece da minha nota!"

Recentemente solicitei a alunos de uma Escola Técnica, onde ministro uma disciplina, pesquisa referente a uma temática importante do conteúdo de segurança do trabalho. Ao solicitar destaquei a importância de saberem as técnicas de resgate, sinais vitais e procedimentos para um atendimento de urgência. Ou seja, imaginava eu que sinalizando com estes tópicos estaria direcionando-os para uma pesquisa madura e responsável, de forma a incutir a importância deste conteúdo para o desempenho profissional posterior. Também era minha intenção prepará-los para a trazida de um palestrante destacado por sua atuação naquela área.

Ao receber os trabalhos constatei que alguns eram "maçudos", constituídos de várias páginas e com capas bem elaboradas. Outros eram "raquíticos", mas com capas bonitas; talvez com a intenção de ludibriar o avaliador na hora do julgamento. Estes últimos me lembraram aquela passagem da Bíblia, em Mateus, capítulo 23, versículo 27, onde o evangelista compara as pessoas sem conteúdo com "sepulcros caiados", bonitos por fora mas sem conteúdo por dentro. Claro, talvez essa comparação não tenha tanta simpatia por aqueles que me lêem neste momento, mas foi o que me passou pela cabeça naquele momento.

Prosseguindo com a correção, observei vários trabalhos idênticos, sem qualquer pudor por parte de seus elaboradores no tocante à clonagem. Até mesmo as figuras ilustrativas eram as mesmas, demonstrando que a pesquisa não tomou sequer mais de uma hora por parte do pesquisador. Tal como as figuras que estão dispostas nesta blogada, o clone é uma imitação do verdadeiro. Ou seja, é bem parecido, mas não é o original. Ou ainda, pouca coisa possui do original.

Ora vejam, quando se ingressa em um curso que poderá ser a redenção profissional em um mercado tão disputado, o mínimo que se pode exigir destes alunos é o dispêndio de alguma parcela de tempo para aprender a buscar o conhecimento. Não se deve adotar uma postura bancária da educação, tal como preconizado por Paulo Freire, nosso mestre da pedagogia transformadora e anti-utilitarista. Cabe ao docente adotar uma postura de educador reflexivo e transformador, funcionando como um orientador que indica os caminhos a serem seguidos. Então, aprender a pesquisar também é um caminho a ser seguido e um dos principais requisitos ao profissional pós-moderno.

Por sinal, quero aqui resgatar o que escreve meu querido professor Chassot em seu blog (http://achassot.blog.uol.com.br/) desta sexta-feira, dia 04 de julho, sobre este exercício da cópia. Ressalta ainda ele a recente matéria veiculada pela imprensa sobre a venda de trabalhos de conclusão de curso. Diz ele:
Se hoje a produção de trabalhos fica muito facilitada pela já clássica operação "copia+cola", também a caça a cópia ficou muito mais acessível, especialmente pela exigência de que os autores entreguem também uma versão eletrônica de seu trabalho. Desconfia-se de uma estrutura fraseal mais bem elaborada, sem citação de fonte, pode-se com razoável facilidade localizá-la com buscador na internet. Os estudante que fiquem atentos, pois a medida que fazem manobras para a dissimulação das burlas, se sofisticam os softwares para a caça à cola. [...]
Ainda nesta semana, a imprensa gaúcha noticiou o fato de uma bibliotecária de importante Universidade local, que dentro de seu sofisticado local de trabalho "vendia" produções acadêmicas".
Aqueles alunos que pensam de forma antagônica àquilo que aqui relatei, e que crêem que o objetivo único do curso técnico é a aquisição do certificado, que se preparem! É bem provável que sejam aprovados ao final de seus estágios, mesmo sem a qualidade de pesquisadores. Mas, de uma coisa estejam certos: o mercado de trabalho é implacável e selecionador. O que as empresas tem buscado cada vez mais são profissionais que possuam um "diferencial", um "plus" que os destaque da grande massa que espalha currículos dioturnamente nos RHs das corporações.

Todavia, dicentes sensíveis à importância da pesquisa e do tempo que se deve dispor na busca do conhecimento, certamente serão disputados pelo mercado com ofertas salariais que os possibilitem escolher as melhores ofertas. E tudo isso, temos observado e comprovado no acompanhamento dos estagiários em seus cotidianos.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito querido colega Jairo,
Fico muito distinguido com a citação neste teu blogue. Vamos nos unir para buscar alternativas na caça ao plágio. Não podemos impedir que alunas e alunos usem a internet para pesquisa porque alguns fazem cópia/cola. Não se pode deixar de usar uma faca, que pode ser usada para salvar ou para cortar o pão porque ele também pode matar.
Com continuada admiração,
Achassot
Www.atticochassot.com.br