08 janeiro 2009

O VALE DO ITAJAÍ: SINTONIA COM A NATUREZA

As férias para mim são oportunidades de rever amigos e contemplar alguns lugares ainda desconhecidos. Mas também são momentos de poder revisitar lugares onde residi e que fizeram parte de minha trajetória. Anteriormente relatei a importância da cidade de Concórdia, no oeste catarinense, para minha vida. Ali conheci minha esposa e praticamente foi minha primeira possibilidade de conviver num ambiente de grande empresa. Trabalhar na área de produção da Sadia de Concórdia, a unidade que deu início a todo o complexo deste grupo nacional reconhecido por sua importância na história econômica do país, representou para mim um aprendizado do qual me orgulho até então.

Agora, estou aqui no Vale do Itajaí, mais propriamente na região de Blumenau. Foi aqui que nos anos 80 do século passado (sim, sou um cidadão de dois séculos, creio que como a maioria destes que me lêem neste momento) atuei como analista de métodos e processos na Hering Têxtil S/A, uma empresa bicentenária instalada na região no limiar do século XIX, e que é parte integrante de sua história. Os irmãos Bruno e Hermann Hering, imigrantes oriundos da Alemanha, instalaram seus equipamentos no bairro do Bom Retiro e expandiram suas confecções por diversos municípios da região, levando o desenvolvimento e o crescimento econômico por todo o vale. Além de Blumenau, implantaram filiais em Presidente Getúlio, Indaial, Rodeio e Ibirama.

À experiência de grande empresa, adquirida na Sadia do oeste catarinense, empresa ítalo-brasileira por essência, pude somar outra absorvida no Vale do Itajaí: a severa administração germânica, cujo ponto forte sempre foi o combate exaustivo ao desperdício e um alto senso de organização. Isso já se percebe em visita a cidades da região, onde até mesmo jogar “bitucas” de cigarro na calçada é visto como um comportamento inadequado e reprimido com severidade pelos próprios moradores locais.

A partir desta experiência na Hering, assim como, da experiência de duas enchentes ocorridas na década de 1980, onde pude conviver no ambiente de reconstrução de uma cidade por duas oportunidades, e notar que a chave de tudo é o espírito de solidariedade e a perseverança, entende-se de que forma a cidade retoma sua rotina tão rapidamente após o caos. Tão logo as águas do rio tomam seu leito normal, os cidadãos, como soldados de um regimento sem general, tomam as ruas e calçadas e munidos de suas armas (enxadas, vassouras, rodos e baldes) reorganizam, juntamente com os órgãos municipais e seus equipamentos, toda a cidade. Foi assim sempre, agora não foi diferente, e talvez esse povo nunca se canse de lutar contra os desígnios da natureza. Há relatos de histórias semelhantes ocorridas já no tempo dos irmãos Bruno e Hermann, logo após construírem as primeiras habitações e instalarem suas máquinas.

Por isso, não é difícil entender porque, depois de apenas um mês da ocorrência das chuvas torrenciais que deixaram um rastro de destruição e morte na região, só é possível deduzir que houve aqui uma catástrofe, por causa das marcas de desmoronamentos que ainda permanecem em encostas da topografia local. Como feridas abertas pela insidiosa precipitação pluviométrica, que desta vez resolveu desaguar em uma semana o que havia reservado para alguns meses, as montanhas do vale guardam as lembranças do evento, e que por certo em breve período de tempo estarão tomadas pela vegetação; caprichos da natureza que explicam a evolução de nosso planeta. Não fosse por isso, se iria poder afirmar que a região continua exuberante como dantes, sem qualquer exagero.

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