17 janeiro 2010

PERDAS QUE NOS IMPÕE A NATUREZA

A dimensão dessas tragédias que estamos vendo acontecer, é possível aquilatar pelas perdas humanas que são capazes de trazer como resultado. Mais uma vez começamos o ano com catástrofes naturais, onde em muitas delas podemos tirar lições sobre a irresponsabilidade de nosso comportamento. De outras nem tanto, pois contra a fúria da natureza o homem se mostra totalmente impotente, sem nada poder fazer, há muitos séculos.

Mas voltemos às perdas humanas. Os efeitos da tromba dágua de Angra dos Reis, ou como queiram denominar outros estudiosos, foram desastrosos com pessoas que tão somente queriam desfrutar de um período de férias em local de magnífica paisagem e conforto. A repercussão se dá principalmente pela perda de vidas adolescentes, certamente prenhes de sonhos e planos. Já nas cheias proporcionadas pelas águas excessivas dos rios do estado gaúcho, uma comunidade inteira se consternou com o drama de Agudo. Agricultores mensuravam de cima de uma ponte os estragos causados pelas chuvas incessantes, quando foram surpreendidos pela fragilidade material do constructo, deficitário certamente de inspeções regulares pelos órgãos responsáveis.

Mas, com toda a certeza, a tragédia do Haiti, vitimando ainda não se sabe ao certo uma quantidade assombrosa de pessoas, crê-se que mais de 45.000, marcou o primeiro mês da segunda década do novo milênio. Mas um nome entre os mortos faz com que a tragédia se torne mais enfadonha para nós brasileiros e para aqueles que são sensíveis às causas humanitárias, a morte de Zilda Arns.

Médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Zilda Arns nasceu no dia 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha, estado de Santa Catarina. Irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo, era mãe de cinco filhos: Rubens (Médico Veterinário), Nelson (Médico), Heloísa (Psicóloga), Rogério (Administrador de Empresas) e Silvia (Administradora de Empresas). Para chegar até a indicação ao Prêmio Nobel, Zilda Arns percorreu um longo e dedicado caminho. Sua formação começou em Forquilhinha, SC e em 1959 terminava o curso de Medicina, em Curitiba. Partiu então, para suas especializações, que envolveram desde a Educação Física, a cursos de Pediatria Social, encaminhando-se então a outros cursos de aperfeiçoamento. Começou sua vida profissional como Médica Pediatra do Hospital de Crianças Cezar Pernetta -Curitiba/PR - 1955 a 1964 e em 1983 foi a Fundadora e Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Suas participações em eventos internacionais foram diversas, de Angola à Indonésia, dos Estados Unidos à Europa, Zilda Arns representava a Pastoral, realizava palestras, acompanhava Comitivas Brasileiras a outros países e levava a Pastoral da Criança para o mundo. Participava ainda de outros tantos eventos Latino Americanos, principalmente apresentando e divulgando o trabalho da Pastoral da Criança. E foi assim que morreu durante o terremoto ocorrido no Haiti, realizando palestra numa igreja da capital, quando a construção veio abaixo.

Uma perda como a de Zilda Arns torna nossa vida mais pobre, com certeza. Liderança incontestável na atuação com as populações necessitadas, era capaz de mobilizar contingentes de pessoas em prol da ajuda humanitária como ninguém. E esse poder que poucos possuem. Por isso, a perda se torna irreparável. Certamente, seu trabalho terá prosseguimento, com aquelas pessoas que com ela aprenderam muito sobre a importância da vida do próximo.

Para que se tenha idéia do trabalho de Zilda Arns, adiro agora ao Blog do Mestre Chassot (www.mestrechassot.blogspot.com), em sua escrita do dia 14 ultimo passado. Segundo ele,

“Até sua morte no terremoto do Haiti na terça-feira (12), Zilda coordenava cerca de 155 mil voluntários, presentes em mais de 32 mil comunidades em bolsões de pobreza em mais de 3.500 cidades brasileiras.

O trabalho de Zilda Arns serviu de modelo para vários países, como Angola, Moçambique, Guiné-Bissau; Timor Leste, Filipinas, Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai, Equador e México. Em algumas dessas nações a própria médica ministrou cursos sobre como estruturar as ações.

Além do trabalho reconhecido mundialmente com as crianças, Zilda também era fundadora e coordenadora da Pastoral da Pessoa Idosa, fundada em 2004. A entidade visa capacitar líderes locais para ajudar idosos a controlar as vacinas, evitar acidentes domésticos e identificar doenças físicas e emocionais.”

Num mundo de extremas diferenças, e que prescinde cada vez mais de trabalhos solidários que contemplem pessoas sem renda e sem perspectivas, a perda de Zilda Arns deixa uma lacuna imensa. E o que mais me frustra particularmente, é saber que tão cedo não teremos uma Zilda Arns convivendo entre nós. Que o seu trabalho frutifique! Essa pelo menos é minha esperança.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu querido Jairo,
muito pertinente tua homenagem à Zilda Arns. Fiquei orgulhoso de ver referido nossa confluência de opiniões em teu texto, como aliás tem sido -- para orgulho meu -- em nossas ações,
com admiração
attico chassot