12 novembro 2016

FIO DE BIGODE AINDA VALE?



A expressão "fio de bigode" é utilizada para referir que um 
compromisso assumido não necessita documento


O ditado é antigo, “honra o teu fio de bigode!” Mas a prática é bem atual, a falta de comprometimento.

Em artigo publicado no jornal “A Notícia”, o Mestre em Saúde e Meio Ambiente, Humberto Batti, destaca que ...a palavra bigode é de origem incerta, mas pode ter vindo de uma antiga expressão alemã pronunciada em juramentos: “bi gott”, ou seja: “por Deus”. Um fio de bigode vale mais do que qualquer contrato escrito, palavra dada é palavra de honra, palavra de cavalheiro.

Os cartórios cada vez mais estão superlotados
pela necessidade de comprovantes
Um grande exemplo brasileiro foi Visconde de Mauá, que se tornou o homem mais rico do Brasil de sua época. Como era liberal, abolicionista e contra a Guerra do Paraguai, foi vítima de perseguição política pelo Império e faliu. Ao invés de deixar os credores na mão, vendeu todos os seus bens, pagou a todos, limpou seu nome e recomeçou, com a cabeça erguida.

Mas o que se vê hoje em dia é de impressionar. A palavra dada não é cumprida na maioria das vezes, principalmente se não há um documento assinado. Fico imaginando que talvez por esta razão é que os cartórios estejam sempre abarrotados, com pessoas aguardando por um reconhecimento de firma, ou pela validação de quantidade enorme de documentos. Tudo deve ser formalizado, pois caso contrário é grande a possibilidade de não ser cumprido. Aliás, na maioria das vezes.

A desconfiança começa a ocorrer
quando se descumpre compromissos
Hoje em dia, grande parte de nossas relações comerciais é feita por telefone, pela internet, ou ainda, pelo popular “whatsapp”, ferramenta que se tornou indispensável na aquisição de mercadorias e de serviços. Todavia, muitas destas trocas de mensagens e contatos não se consolidam. Não sei se isso acontece com vocês também, mas o “prometido” não é “cumprido”. Já passei tantas vezes por isso, que hoje sou capaz de reconhecer pelo tom de voz do interlocutor se está falando a verdade. Quando me sinaliza assim: “Vou ver e depois te retorno!”, eu já sei o tempo que vou esperar para ter a resposta, e até imagino se vai mesmos retornar. E olha que poucas vezes tenho me enganado.

Na minha convivência social tenho procurado sempre acreditar nas pessoas. E esse crédito possui um "ponto de corte", quando elas deixam de cumprir o que trataram comigo. Até ali, meu conceito sobre elas está inabalável. A partir da constatação da falta de comprometimento, acontece uma ruptura em nossas relações, e passo a não mais valorizar o que elas falam e tratam. Entra então a desconfiança, onde o nome e a palavra acabam em total descrédito.    

O jogador Gerson se tornou símbolo depois
de uma campanha publicitária nos anos 1970
Na Escola, eu e outros colegas docentes, também avaliamos o nível de comprometimento de alunos e alunas. Chegadas tardes, atrasos costumeiros, saídas antecipadas, entrega de trabalhos, tudo isso nos proporciona avaliar o nível de comprometimento e de responsabilidade destes futuros profissionais. Alguns até mesmo chegam a “matar familiares” repetidamente para justificar ausências, bem como trazer desculpas muitos esfarrapadas.

Mas compromisso assumido tem a ver com responsabilidade, e na minha concepção só um evento fatídico poderá justificar o descumprimento do que foi “acordado”. Pois em pleno século XXI, parece que o “fio de bigode” deixou de ser documento, e vale mais mesmo a Lei de Gerson (Gosto de levar vantagem em tudo, certo?).  Prá desespero de quem continua valorizando a responsabilidade e o cumprimento dos compromissos assumidos.  

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