03 janeiro 2010

VERDADEIROS AMIGOS

Olhem a data aí em cima! Nesse dia perdi um grande amigo! Um verdadeiro amigo!

Os verdadeiros amigos não pedem para entrar em nossas vidas. Eles invadem os limites de nosso território sem muitas delongas. Quando nos apercebemos, algum laço mais estreito, alguma coisa em comum faz com que em breve espaço de tempo esse sentimento se fortaleça.

Poderia aqui contar histórias de alguns amigos (sim, porque os verdadeiros são jóias raras, verdadeiros talismãs) que surgiram em minha vida, e que permanecem até hoje morando em meu coração, sem que se cobre qualquer tributo por essa ocupação. É um prazer tê-los habitando esse espaço. Aliás, o que seria de mim, se não existissem para compartilhar as amarguras e as alegrias?

Um desses nasceu ao lado de minha casa, meu vizinho. Com alguns poucos anos a mais do que eu, trazia experiências que me eram fortuitas, pois o amigo também é assim, uma fonte de conhecimentos naquele momento da adolescência em que estamos descobrindo as verdades e as mentiras sobre o mundo que nos cerca. Ele foi essencial nesses achados que fiz antes da “maioridade”, mas sempre enfatizando a boa educação e a gentileza, traço característico desse grande amigo. Aprendi coisas que a timidez e o respeito me impediam de perguntar aos meus pais, num período em que se mediam as palavras pronunciadas dentro de casa. Até ao dicionário proibido dos indecorosos palavrões, esse amigo pacientemente apresentou-me. E quem disse que isso também não é aprendizagem? Que me perdoem os mais “pudicos”, mas o currículo informal é parte integrante da Escola, basta que se observem as paredes dos sanitários por aí. São verdadeiras lousas informais.

O futuro e a idade adulta se encarregaram de trair nossa amizade, separando-nos. Fui em busca de meus projetos de vida, e meu amigo aderiu a outras parcerias.

Poetas e escritores consagrados dedicaram seu tempo na elaboração de conteúdos que reverenciassem esse relacionamento indispensável para cada um de nós.

Oscar Wilde certa feita disse: “Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou.”

Também o grande filósofo chinês, Confúcio, que viveu entre 579 e 471 a.C. salientava a importância dos amigos. Dizia ele que “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade”.

Mas, um dos melhores textos que já li a respeito de amigos, tem por autor o grande poeta e compositor Vinicius de Moraes. É de sua autoria o texto a seguir:

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

[...]

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

Por isso, meu amigo, fostes um desses que, como uma jóia, só pode ser garimpada de décadas em décadas, tal sua raridade. Talvez demore mais um longo período para que haja oportunidade semelhante. Todavia, ficará sempre comigo a saudade e a lembrança de nossa eterna amizade.

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