22 agosto 2010

E O PROFESSOR? TAMBÉM LÊ?

Não são poucas as vezes que se insiste aos alunos da importância do ato da leitura, para que se possa entender todo o constructo de um conteúdo, de uma disciplina, de uma Escola, de um mundo todo afinal. E a resistência a esse hábito é muito grande. Alunos e alunas são insistentemente resgatados pela indolência proporcionada pela mídia, cuja facilidade do computador e da televisão trazem as coisas prontas, já mastigadinhas e sem a necessidade de um maior aprofundamento e reflexão.

É como um ditado bem antigo, e que cabe perfeitamente nessa análise: “Comprar Gato por Lebre”. Aceitar como verdade tudo que se ouve na mídia é fornecer a outros o poder da reflexão, tão necessário no desenvolvimento de um espírito crítico.

Em sala de aula observam-se poucos alunos e alunas com verdadeiro espírito crítico, pois a grande maioria está imbuída de uma cultura de massa, fundamentada em cima do óbvio e de amenidades de um mercado que busca clientes passivos e não cidadãos críticos. Um mercado cujo maior objetivo é criar incessantemente mais e mais uma clientela dócil.

Não é de se contestar que o hábito de ler tem sua origem no ambiente familiar, onde os pais desempenham papel crucial. Não só impor ou sugerir a leitura desde cedo aos pequenos, mas inclusive dar exemplos. Sabe-se ainda que o preço dos livros impede muitas vezes o acesso de muitas famílias, embora alternativas como Bibliotecas Públicas e de algumas Escolas retiram de cena essas justificativas.

Em plano posterior e com uma responsabilidade maior, a Escola também tem sua parcela de participação no desenvolvimento desse hábito. Um docente realmente comprometido com o desenvolvimento de seus pupilos possui a capacidade de ressaltar freqüentemente a importância do ato de ler, bem como, traz em suas rotinas pedagógicas o exercício da leitura e interpretação de textos. Enganam-se os docentes que creditam ao professor de Português a obrigação dessa tarefa. Essa é uma tarefa de todos nós, independente da disciplina e dos conteúdos que ministramos. A leitura está inserida em qualquer momento da sala de aula, pois é um facilitador no entendimento e na compreensão de qualquer realidade.

Mas como cobrar dos alunos o hábito da leitura, se o próprio professor é avesso a essa atividade? Uma grande parcela da classe docente cria uma rotina de sala de aula, onde a leitura é relegada a segundo plano; quando não um terceiro ou quarto plano, ou até mesmo descarta essa prática.

Certo dia, numa sala de professores em Escola da região, eu confessava ter gostado muito da leitura de uma obra recente do ambientalista James Lovelock, que trata das mudanças climáticas, suas causas e conseqüências. Um colega me contestou: “Professor Jairo, eu não gosto muito dessas leituras de catástrofes”. Nesse momento entendi que ele não gostava desse tipo de leitura, mas quem sabe eu poderia desfrutar de um outro tipo de literatura preferida que me indicasse. Todavia, fiquei estarrecido quando me afirmou:

“Aliás, eu detesto ler. Não é minha praia.”

É como se o açougueiro tivesse enjôos no trato com a carne, como se o pedreiro tivesse aversão à altura, como se a enfermeira tivesse receio de doenças.

Então, o que dizer de nossos alunos e de seus pais em relação ao hábito da leitura, se até mesmo aqueles que seriam responsáveis por desenvolvê-lo mais tardiamente na Escola, não adotam a prática, ou se deixam convencer pelas tentações da mídia eletrônica e desse mercado ávido por novos clientes ou consumidores?

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