Para quem já experimentou trabalhar com pesquisa, realizar leituras críticas de vários autores sobre um assunto definido, navegar em páginas confiáveis da rede mundial em busca de material de credibilidade, não é capaz de aceitar qualquer texto apócrifo sem dele desconfiar. E comigo não é muito diferente. Depois de ler tantos autores, conseguimos identificar até mesmo o modo como esses escritores constroem seus parágrafos e articulam suas argumentações. Tenho algumas preferências de autores que sou capaz de identificar suas escritas no primeiro parágrafo lido. Cito alguns internacionais: Zigmunt Bauman, James Lovelock, Thomas Skidmore, Jeremy Rifkin, Eric Hobsbawn. Outros nacionais: Boris Fausto, Celso Antunes, Emilia Viotti da Costa, Celso Furtado, Darcy Ribeiro. E também alguns regionais: José Lutzenberger, Paulo Vizentini, Attico Chassot, Martin Dreher, Moacyr Scliar, Luiz Fernando Veríssimo.
Pois foi assim, com certo descrédito e ceticismo, que recebi um texto pela internet, cuja autoria estava creditada ao grande escritor e articulista Luiz Fernando Veríssimo. Conhecedor da maioria das obras de Veríssimo, ao tomar conhecimento das primeiras linhas do texto, pude comprovar a falsidade. Mas diante do conteúdo abordado, e de uma certa dose de veracidade na crítica emitida, segui lendo até o final porque era um assunto que me interessava e me catalisava, independente do autor, ou falso autor, cujo nome até agora não consegui desvendar.
Algumas palavras utilizadas na abordagem beiram o linguajar “chulo”, outras de certa forma até que são capazes de descrever com fidelidade o programa da Rede Globo que mais uma vez agride a telinha da TV na maioria das noites de quem não possui outra alternativa para assistir, ou gosta de perder tempo com futilidades e engordar a conta da Venus Platinada e de seu jornalista-repórter-âncora-apresentador-mercenário, ou seja lá o que quiserem denominar.
Então resolvi trazer o texto aqui, claro que com algumas adaptações, pois já que o texto foi creditado indevidamente, me senti no direito de também adaptá-lo a meu gosto, sem qualquer sentimento de culpa. Aliás, as adaptações estão marcadas em cor diferente, para o autor não dizer que me apropriei sem fazer referencia às mudanças.
Lá vai então.
“Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela [ nossa distinta ] Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço...A décima primeira (está indo longe!) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.
Dizem que [ em ] Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir [ , ver este ] o programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra a safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB é a realidade em busca do IBOPE.
Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial, que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a [ ser ] apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda, referindo-se à pena de se morrer tão cedo.
[Eu] Gostaria de perguntar, se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.
Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de “heróis”. Caminho árduo? Heróis?
São esses nossos exemplos de heróis?
Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados...
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral.
E aí vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!
Veja o que está por de trás do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
[...]
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.
Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins..., telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir.
AUTOR DESCONHECIDO
Um comentário:
Meu querido Jairo,leitora assídua de teu blog,desde esta fascinante Nova Iorque queria dizer-te que muito tenho aprendido contigo sobre as coisas do mundo. Teus pertinentes comentários são valiosos, pois nos fazem refletir sobre a vida contemporanea. Um abraço carinhoso, Gelsa
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