23 junho 2012

UM GRANDE PAÍS, UMA GRANDE MULHER

Não é segredo pra ninguém a admiração que tenho pela nossa presidenta Dilma. Eu votei no primeiro turno na candidata Marina Silva, por simpatizar com a proposta do Partido Verde à época. Entretanto, no segundo turno me decidi pela candidata Dilma Rousseff por vários motivos. Primeiramente porque jamais fui partidário de qualquer proposta neoliberal, como aquela do candidato de FHC, José Serra. Também fiquei indignado com o tipo de campanha tucana, de uma sordidez tremenda, onde até de “religioso” o candidato do PSDB pousou, para tentar ganhar votos. Lembro ainda de algumas figuras que eu admirava antes da campanha, e que assumiram o lado tucano. Como por exemplo, o pastor Silas Malafaia. Jamais consegui assistir qualquer programa do pastor depois disso. E, por fim, minha intenção maior na decisão por Dilma era o voto no ineditismo de uma mulher no poder, e que levasse adiante muitas das iniciativas do governo Lula, além de ter sido colega na Fundação de Economia e Estatística do RS de um grande amigo meu, o Betinho Medeiros, infelizmente falecido em janeiro de 2011. Foi pelas palavras do Betinho que pude conhecer a competência da candidata que sucederia Lula da Silva.

Sessões de palmatória e pau-de-arara
Mas a minha admiração por Dilma, e a certeza de que meu voto valeu a pena, ficaram mais comprovados ainda nesta semana, quando o jornal Folha de Minas trouxe reportagem sobre o período da ditadura onde ela foi vítima da tortura.

Tenho certeza de que se fosse outra pessoa, como candidata a cargo político, se utilizaria dos sofrimentos da ditadura como força de campanha para angariar votos. Mas, diferentemente destes políticos de ocasião, sem passado histórico confiável, Dilma se elegeu pela honestidade do discurso, pela veracidade das propostas e pelo espírito ético que tem demonstrado desde que decidiu-se pela vida pública.  

Segundo a Folha de Minas, a presidente Dilma Vana Rousseff foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira, e não apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro, como se pensava até agora. Em Minas, ela foi colocada no pau de arara, apanhou de palmatória, levou choques e socos que causaram problemas graves na sua arcada dentária. É o que revelam documentos obtidos com exclusividade pelo Estado de Minas, que até então mofavam na última sala do Conselho dos Direitos Humanos de Minas Gerais (Conedh-MG). As instalações do conselho ocupam o quinto andar do Edifício Maletta, no Centro de Belo Horizonte. Um tanto decadente, sujeito a incêndios e infiltrações, o velho Maletta foi reduto da militância estudantil nas décadas de 1960 e 70.

Perdido entre caixas-arquivo de papelão, empilhadas até o teto, repousa o depoimento pessoal de Dilma, o único que mereceu uma cópia xerox entre os mais de 700 processos de presos políticos mineiros analisados pelo Conedh-MG. Pela primeira vez na história, vem à tona o testemunho de Dilma relatando todo o sofrimento vivido em Minas na pele da militante política de codinomes Estela, Stela, Vanda, Luíza, Mariza e também Ana (menos conhecido, que ressurge neste processo mineiro). Ela contava então com 22 anos e militava no setor estudantil do Comando de Libertação Nacional (Colina), que mais tarde se fundiria com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), dando origem à VAR-Palmares.
O registro de Dilma nos arquivos do Doi-Codi

As terríveis sessões de tortura enfrentadas pela então jovem estudante subversiva já foram ditas e repisadas ao longo dos últimos anos, mas os relatos sempre se referiam ao eixo Rio-São Paulo, envolvendo a Operação Bandeirantes, a temida Oban de São Paulo, e a cargeragem na capital fluminense. Já o episódio da tortura sofrida por Dilma em Minas, onde, segundo ela própria, exerceu 90% de sua militância durante a ditadura, tinha ficado no esquecimento. Até agora.

Com a palavra, a presidente: “Algumas características da tortura. No início, não tinha rotina. Não se distinguia se era dia ou noite. Geralmente, o básico era o choque”. Ela continua: “(...) se o interrogatório é de longa duração, com interrogador experiente, ele te bota no pau de arara alguns momentos e depois leva para o choque, uma dor que não deixa rastro, só te mina. Muitas vezes usava palmatória; usaram em mim muita palmatória. Em São Paulo, usaram pouco este ‘método’”.

Dilma foi transferida em janeiro de 1972 para Juiz de Fora, ficando presa possivelmente no quartel da Polícia do Exército, a 4ª Companhia da PE. Nesse ponto do depoimento, falham as memórias do cárcere de Dilma e ela crava apenas não ter sido levada ao Departamento de Ordem e Política Social (Dops) de BH. Como já era presa antiga, a militante deveria ter ido a Juiz de Fora somente para ser ouvida pela auditoria da 4ª Circunscrição Judiciária Militar (CJM). Dilma pensou que, como havia ocorrido das outras vezes, estava vindo de São Paulo a Minas para a nova fase do julgamento no processo mineiro. Chegando a Juiz de Fora, porém, ela afirma ter sido novamente torturada e submetida a péssimas condições carcerárias, possivelmente por dois meses.

BILHETES

Bilhetes interceptados pelos militares
Nesse período, foi mantida na clandestinidade e jogada em uma cela, onde permaneceu na maior parte do tempo sozinha e em outra na companhia de uma única presa, Terezinha, de identidade desconhecida. Dilma voltou a apanhar dos agentes da repressão em Minas porque havia a suspeita de que Estela teria organizado, no fim de 1969, um plano para dar fuga a Ângelo Pezzuti, ex-companheiro da organização Colina, que havia sido preso na ex-Colônia Magalhães Pinto, hoje Penitenciária de Neves. Os militares haviam conseguido interceptar bilhetinhos trocados entre Estela (Stela nos bilhetes, codinome de Dilma) e Cabral (Ângelo), contendo inclusive o croqui do mapa do presídio, desenhado à mão (veja reproduções ao lado).

Seja por discrição ou por precaução, Dilma sempre evitou falar sobre a tortura. Não consta o depoimento dela nos arquivos do grupo Tortura Nunca Mais, nem no livro Mulheres que foram à luta armada, de Luiz Maklouf, de 1998. Só mais tarde, em 2003, ele conseguiria que Dilma contasse detalhes sobre a tortura que sofrera nas prisões do Rio e de São Paulo. Em 2005, trechos da entrevista foram publicados. Naquela época, a então ministra acabava de ser indicada para ocupar a Casa Civil.

O relato pessoal de Dilma, que agora se torna público, é anterior a isso. Data de 25 de outubro de 2001, quando ela ainda era secretária das Minas e Energia no Rio Grande do Sul, filiada ao PDT e nem sonhava em ocupar a cadeira da Presidência da República. Diante do jovem filósofo Robson Sávio, que atuava na coordenação da Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tortura (Ceivt) do Conedh-MG, sem remuneração, Dilma revelou pormenores das sessões de humilhação sofridas em Minas. “O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida”, disse.

HUMILDE
Solitária onde Dilma ficou presa em Minas Gerais

Apesar de ser ainda apenas a secretária das Minas e Energia, a postura de Dilma impressionou Robson: “A secretária tinha fama de durona. Ela já chegou ao corredor com um jeito impositivo, firme, muito decidida. À medida que foi contando os fatos no seu depoimento, ela foi se emocionando. Nós interrompemos o depoimento e ela deixou a sala com uma postura diferente em relação ao momento em que entrou. Saiu cabisbaixa”, conta ele, que teve três dias de prazo para colher sete depoimentos na capital gaúcha. Na avaliação de Robson, Dilma teve uma postura humilde para a época ao concordar em prestar depoimento perante a comissão. “Com ou sem o depoimento dela, a comissão iria aprovar a indenização de qualquer jeito, porque já tinha provas suficientes. Mas a gente insistia em colher os testemunhos, pois tinha a noção de estar fazendo algo histórico”, afirma o filósofo.

Por isso tudo, e pelas demonstrações firmes e de austeridade na vida pública, tenho a certeza de que estamos diante de uma das melhores expressões do estadismo brasileiro. E como sei que a Sociedade de forma geral só valoriza seus personagens depois que eles deixam a vida trivial para entrarem na história, tenho certeza de que um dia no futuro, as novas gerações poderão dizer com admiração e orgulho: “Que grande MULHER governou este país no início do século XXI”.

 Fonte: Folha de Minas – acesso 17.06.2012

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega Jairo, há duas dimensões nesta blogada semanal: uma, a elaborada justificativa de teu voto em Dilma;outra, a trazida desta pagina tétrica da história pátria que relembras com oportunidade. Parabéns com admiração
Attico Chassot