29 junho 2013

NO RASTRO DO VANDALISMO

Desde o Comício das Diretas, na década de 1980, não se via uma
mobilização tão expressiva da população brasileira
Ainda continua rendendo muita notícia nos órgãos de imprensa e mídia eletrônica os acontecimentos destas últimas semanas, quando a população demonstrou toda sua insatisfação com a situação política nacional. E a reboque destes movimentos, cenas de vandalismo se misturaram a movimentos pacíficos de reivindicação.

É sobre este "vandalismo" que gostaria de trazer uma reflexão na edição desta semana. Pois acredito que um dos papeis fundamentais deste Blog é descortinar (ou desvelar, como quer o leitor acadêmico) realidades obscuras da compreensão do leitor. Não que eu queira apregoar algum traço de desconhecimento a todos que prestigiam este espaço semanal de informação. Longe de mim esta pretensão. O objetivo fulcral é informar.  

Os Vândalos eram povos bárbaros que atacavam o Império Romano nos anos 400 da Era Cristã,
e deixavam rastros de destruição por onde passavam
Pois bem. O “vandalismo” foi um termo cunhado ainda no século XVIII, e é um sinônimo de “destruição”. Sua raiz etimológica tem origem no povo vândalo, um dos povos bárbaros que invadiram o Império Romano. O uso da palavra “vandalismo” se tornou comum com Henri Gregoire, bispo de Blois, no início da Revolução Francesa. Naquele período, Gregoire denunciava a destruição de artefatos culturais como monumentos, pinturas, livros e outros objetos, destruídos pelos vândalos franceses como símbolos de um ódio ao passado de “feudalismo”.

Mas e hoje? Depois de passados mais de 1500 da queda do Império Romano do Ocidente? Que significado tem esse “vandalismo” que, outrora praticado por povos bárbaros, hoje retorna à realidade em pleno Terceiro Milênio?

Sim, todos nós de sã consciência somos contrários ao vandalismo praticado nas manifestações de rua que ocorrem atualmente. E não é prá menos, pois os prejudicados, muitas vezes, nada têm a ver com esses destruidores de patrimônio público e privado, e que pretensamente dizem demonstrar um sentimento que repudia o abuso do dinheiro público e a corrupção.

Agora, o vandalismo também pode ser praticado com o próprio “dinheiro público”, como se viu em muitos casos, e que talvez justifique o movimento que tomou conta das ruas. Faço relato de alguns destes casos a seguir, que são tão somente “uma gota no oceano”. Ou me digam se isso não é vandalismo?
 
As privatizações do período FHC ficaram conhecidas
pelo livro "Privataria Tucana"
Caso 1 – Privatizações do Governo FHC

As privatizações realizadas durante o governo FHC também foram denunciadas pelas irregularidades nos processos. De acordo com os relatos dos ministros Paulo Renato e Mendonça de Barros, o ex-presidente foi avisado das denúncias. Mesmo assim, enfatizou que o governo nada tinha a ver com a questão e recomendou que as propinas não fossem pagas. Ou seja, lavou as mãos como Pilatos. Mas, para quem quiser se inteirar de forma mais profunda neste processo, há uma literatura interessante. A obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr., "A Privataria Tucana", traz até documentos comprobatórios da farra com o dinheiro público, e foi tema de uma edição deste Blog em janeiro de 2012, sob o título "O que fazem com nossos impostos"(http://profjairobrasil.blogspot.com.br/2012/01/o-que-fazem-como-nossos-impostos.html.)  

Caso 2 – O Senador e o Bicheiro

O senador Demóstenes Torres se notabilizou pela dupla personalidade
Em março de 2012, um senador da república, eleito pelo voto popular, ficou conhecido pela dupla personalidade com que atuava na vida pessoal e política. Ou seja, na tribuna do senado socava o púlpito com rompantes em defesa da ética e da moral, enquanto nos bastidores fazia uso dos favores do contraventor Carlinhos Cachoeira. Pego de surpresa, Demóstenes Torres, senador pelo estado de Goiás, não soube justificar o patrimônio acumulado e os favores recebidos. Atualmente responde a inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal e, pasmem, recebendo o mesmo salário de R$ 24 mil reais como se fosse ainda funcionário do Congresso.

Caso 3 – Os Mensaleiros

O período do governo Lula ficou bastante conhecido
pela denúncia dos casos de corrupção, como o do Mensalão
Após quatro meses e meio de julgamento, o Supremo Tribunal Federal condenou 25 dos 38 réus do processo do Mensalão. Casos de compra de votos, desvio de dinheiro, e favorecimento de empresas foram notórios. E os condenados continuam em liberdade, numa rotina normal como se nada devessem ao Estado. Sabe-se que ainda cabe recursos e defesa. Mas, a morosidade do processo traz uma demonstração de enorme impunidade.

Estes são alguns dos casos que demonstram a inépcia das autoridades públicas nos últimos anos, e que podem justificar os movimentos que ora se multiplicam pelo país, seja nas metrópoles, seja nas cidades interioranas. O desleixo com que os poderes executivo, legislativo e judiciário têm tratado a população, na troca de seus impostos por serviços de qualidade e adequados, foi o principal combustível destas manifestações. Quem sabe também das depredações e do vandalismo.


Ou você acha que “vandalismo” também não é depredar o dinheiro público?  Dinheiro este que é fruto do suor e do trabalho de toda uma população que agora está nas ruas e que, ao longo dos últimos anos, tem visto estes valores serem dilapidados por uma classe política totalmente omissa e indigna do poder que recebeu.        

2 comentários:

Uilson Carvalho. disse...


Caro Jairo, nestes tempos insertos quero muito acreditar que essa nação possa tomar jeito, porém vou com o São Tomé e só acredito vendo.

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,

uma excelente leitura que poderia chamar-se ‘vandalismo em dois tempos’.
Na primeiro nos levas ao berço de nossa civilização eurocêntrica e nos mostras como nossos fundadores não souberam fazer alianças com as indesejadas visitas ao todo poderoso Império Romano. Então ‘os outros’ eram bárbaros ou vândalos.
No segundo momento, viajas no tempo 15 séculos e chegas ao Brasil e encontra outros vândalos. Estes não são, na tua arguta leitura, aqueles que estão nos ensinando a conjugar um verbo que parecia anacrônico: vandalizar.
Vês como vândalos os que de gravata e paletó roubam o erário. Concordo.
Se bradamos que a criminosa reforma do Estádio Mané Garrincha (o sr. Joseph Blater, me perdoe por nominar assim a Arena de Brasília) custou 1,2 bilhão de reais, o que dizer do sr. Eike Batista que só em uma de suas empresas deu um calote de 6 bilhões. Ele é vândalo também.
Obrigado por mais uma bem análise de conjuntura Euro século 5º e Brasil século 21.
A admiração do

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com