Desde o Comício das Diretas, na década de 1980, não se via uma mobilização tão expressiva da população brasileira |
Ainda continua rendendo muita notícia nos órgãos
de imprensa e mídia eletrônica os acontecimentos destas últimas semanas, quando
a população demonstrou toda sua insatisfação com a situação política nacional.
E a reboque destes movimentos, cenas de vandalismo se misturaram a movimentos pacíficos
de reivindicação.
É sobre este "vandalismo" que gostaria de
trazer uma reflexão na edição desta semana. Pois acredito que um dos papeis
fundamentais deste Blog é descortinar (ou desvelar, como quer o leitor acadêmico)
realidades obscuras da compreensão do leitor. Não que eu queira apregoar algum
traço de desconhecimento a todos que prestigiam este espaço semanal de informação.
Longe de mim esta pretensão. O objetivo fulcral é informar.
Os Vândalos eram povos bárbaros que atacavam o Império Romano nos anos 400 da Era Cristã, e deixavam rastros de destruição por onde passavam |
Pois bem. O “vandalismo” foi um termo cunhado
ainda no século XVIII, e é um sinônimo de “destruição”. Sua raiz etimológica
tem origem no povo vândalo, um dos povos bárbaros que invadiram o Império
Romano. O uso da palavra “vandalismo” se tornou comum com Henri Gregoire, bispo
de Blois, no início da Revolução Francesa. Naquele período, Gregoire denunciava
a destruição de artefatos culturais como monumentos, pinturas, livros e outros
objetos, destruídos pelos vândalos franceses como símbolos de um ódio ao
passado de “feudalismo”.
Mas e hoje? Depois de passados mais de 1500
da queda do Império Romano do Ocidente? Que significado tem esse “vandalismo” que, outrora praticado por povos bárbaros, hoje retorna à realidade em pleno Terceiro Milênio?
Sim, todos nós de sã consciência somos contrários
ao vandalismo praticado nas manifestações de rua que ocorrem atualmente. E não é
prá menos, pois os prejudicados, muitas vezes, nada têm a ver com esses destruidores de patrimônio público e privado, e que pretensamente dizem demonstrar um sentimento que repudia o abuso do dinheiro público e a corrupção.
Agora, o vandalismo também pode ser
praticado com o próprio “dinheiro público”, como se viu em muitos casos, e que
talvez justifique o movimento que tomou conta das ruas. Faço relato de alguns
destes casos a seguir, que são tão somente “uma gota no oceano”. Ou me digam se
isso não é vandalismo?
Caso 1 – Privatizações do Governo FHC
As privatizações realizadas durante o governo
FHC também foram denunciadas pelas irregularidades nos processos. De acordo com
os relatos dos ministros Paulo Renato e Mendonça de Barros, o ex-presidente foi
avisado das denúncias. Mesmo assim, enfatizou que o governo nada tinha a ver
com a questão e recomendou que as propinas não fossem pagas. Ou seja, lavou as mãos
como Pilatos. Mas, para quem quiser se inteirar de forma mais profunda neste processo, há uma literatura interessante. A obra do jornalista Amaury Ribeiro Jr., "A Privataria Tucana", traz até documentos comprobatórios da farra com o dinheiro público, e foi tema de uma edição deste Blog em janeiro de 2012, sob o título "O que fazem com nossos impostos"(http://profjairobrasil.blogspot.com.br/2012/01/o-que-fazem-como-nossos-impostos.html.)
Caso 2 – O Senador e o Bicheiro
O senador Demóstenes Torres se notabilizou pela dupla personalidade |
Em
março de 2012, um senador da república, eleito pelo voto popular, ficou
conhecido pela dupla personalidade com que atuava na vida pessoal e política.
Ou seja, na tribuna do senado socava o púlpito com rompantes em defesa da ética
e da moral, enquanto nos bastidores fazia uso dos favores do contraventor
Carlinhos Cachoeira. Pego de surpresa, Demóstenes Torres, senador pelo estado
de Goiás, não soube justificar o patrimônio acumulado e os favores recebidos.
Atualmente responde a inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal e, pasmem,
recebendo o mesmo salário de R$ 24 mil reais como se fosse ainda funcionário do
Congresso.
Caso 3 – Os Mensaleiros
O período do governo Lula ficou bastante conhecido pela denúncia dos casos de corrupção, como o do Mensalão |
Após
quatro meses e meio de julgamento, o Supremo Tribunal Federal condenou 25 dos
38 réus do processo do Mensalão. Casos de compra de votos, desvio de dinheiro,
e favorecimento de empresas foram notórios. E os condenados continuam em
liberdade, numa rotina normal como se nada devessem ao Estado. Sabe-se que ainda
cabe recursos e defesa. Mas, a morosidade do processo traz uma demonstração de
enorme impunidade.
Estes são alguns dos casos que demonstram a inépcia
das autoridades públicas nos últimos anos, e que podem justificar os movimentos
que ora se multiplicam pelo país, seja nas metrópoles, seja nas cidades
interioranas. O desleixo com que os poderes executivo, legislativo e judiciário
têm tratado a população, na troca de seus impostos por serviços de qualidade e
adequados, foi o principal combustível destas manifestações. Quem sabe também das
depredações e do vandalismo.
Ou você acha que “vandalismo” também não é depredar
o dinheiro público? Dinheiro este que é
fruto do suor e do trabalho de toda uma população que agora está nas ruas e que,
ao longo dos últimos anos, tem visto estes valores serem dilapidados por uma
classe política totalmente omissa e indigna do poder que recebeu.
2 comentários:
Caro Jairo, nestes tempos insertos quero muito acreditar que essa nação possa tomar jeito, porém vou com o São Tomé e só acredito vendo.
Meu caro Jairo,
uma excelente leitura que poderia chamar-se ‘vandalismo em dois tempos’.
Na primeiro nos levas ao berço de nossa civilização eurocêntrica e nos mostras como nossos fundadores não souberam fazer alianças com as indesejadas visitas ao todo poderoso Império Romano. Então ‘os outros’ eram bárbaros ou vândalos.
No segundo momento, viajas no tempo 15 séculos e chegas ao Brasil e encontra outros vândalos. Estes não são, na tua arguta leitura, aqueles que estão nos ensinando a conjugar um verbo que parecia anacrônico: vandalizar.
Vês como vândalos os que de gravata e paletó roubam o erário. Concordo.
Se bradamos que a criminosa reforma do Estádio Mané Garrincha (o sr. Joseph Blater, me perdoe por nominar assim a Arena de Brasília) custou 1,2 bilhão de reais, o que dizer do sr. Eike Batista que só em uma de suas empresas deu um calote de 6 bilhões. Ele é vândalo também.
Obrigado por mais uma bem análise de conjuntura Euro século 5º e Brasil século 21.
A admiração do
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
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