15 junho 2013

PARA "DESCATRACALIZAR" A CIDADE

Protestos lotaram o centro de São Paulo na última semana
As últimas semanas nos reservaram situações preocupantes pelas cenas de manifestação e revolta em grande parte do país, com destaque para as metrópoles de Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Por vezes percebemos uma polícia truculenta, em outras oportunidades, manifestantes exacerbados em suas atitudes. Foi o ingrediente suficiente para que até mesmo o evento esportivo que prenuncia a Copa de 2014 perdesse seu brilho.

Mas será mesmo que os protestos observados nestas capitais tem tão somente a exigência de redução dos preços do transporte público? Ou haveria alguma coisa de maior significado na atitude destes manifestantes?

No horizonte histórico da humanidade, os movimentos populares de protesto foram responsáveis por inúmeras transformações. Ocorreram em varias partes do mundo, onde a população foi às ruas para demonstrar toda sua insatisfação. São eles responsáveis por determinados marcos na trajetória e na condução das fases da História. Mas como os próprios historiadores referem, alguns devem ser observados com mais atenção, pois podem determinar a mudança nos rumos de uma sociedade.  
 
Para Jabor, o movimento é de "filhinhos de papai"
Estive analisando opiniões de vários especialistas da mídia, tanto local quanto regional e nacional. As opiniões são as mais difusas, com pareceres díspares sobre a origem e sobre as razoes capazes de reunir milhares em praça pública. Tanto que não pude me posicionar a respeito, e hoje resolvi ponderar sobre o tema.

Um dos renomados comentaristas globais responsabilizou a classe média pelo movimento, destacando que “filhinhos de papai”, portando máscaras para não serem reconhecidos, se põem a depredar e pichar prédios públicos em nome do movimento. Na minha opinião, uma visão reducionista emitida de um escritório com ar refrigerado, de alguém que sequer tira a bunda da cadeira e vai ao “olho do furacão”, cheirar gás de pimenta e se intoxicar com fumaça de gás lacrimogêneo.  Outro jornalista, gaúcho, pertencente ao grupo de comunicação que monopoliza a mídia impressa e televisiva local, ressaltava esta semana que o movimento fornecia combustível para os adeptos do retorno da ditadura. Chamava a atenção de que esta era a mesma realidade ocorrida na década de 1960, antes da derrubada de Jango e do Golpe Militar. Totalmente descabida a observação, em tempos onde até uma “Comissão da Verdade” busca provas para punir com veemência os torturadores do regime.

Rovai: "Eles querem descatracalizar a cidade!"
Mas a opinião que me pareceu mais sensata, e que mais me sensibilizou foi a do jornalista paulista, mestre em comunicação e editor da Revista Forum, Renato Rovai. Rovai esteve nas ruas da capital paulista e acompanhou o movimento. Segundo ele, os manifestantes do Movimento Passe Livre não são baderneiros de classe média, mas garotos e garotas de classe pobre, indignados e revoltados, e que estavam ali não só para reclamar do preço das passagens, mas porque “precisam gritar que existem”. Eles precisam gritar que estão cansados de serem ignorados pelos donos da cidade, que os expulsam para o extremo da periferia, onde não há diversão, equipamentos de cultura, qualidade de vida, sonho. E onde o transporte público é um lixo. Para Rovai, a periferia brasileira está em movimento, em disputa. Se a cidade não passar a ser pensada para esses milhões de jovens. Diz ele:

"O jovem pobre não quer só comida. E não quer só migalhas. Seus pais podem ter aceitado o acantonamento. Mas eles não estão dispostos a repetir essa história. Querem estar no Centro. Querem descatracalizar a cidade. Querem poder entrar e sair. Querem circular. O acesso ao transporte público ganha essa dimensão porque é parte direta desse problema. Mas ele não é nem o todo e nem tudo. Há muitas outras coisas em jogo.

Um pouco disso se explica porque há uma cidade para poucos onde tudo acontece. Uma cidade que está sempre de braços abertos aos que têm carro, dinheiro e roupas de grife. E há outra cidade escura, onde as luzes mais brilhantes da noite são as das sirenes dos carros de polícia.”
 
A periferia das metrópoles clama por maior atenção das
autoridades públicas
Portanto, me parece que o que estamos presenciando nos últimos dias, é para preocupar. A periferia está insatisfeita e pede passagem. Exige medidas urgentes e se cansou de assistir desmandos, corrupção e falta de iniciativas públicas municipais, estaduais e federais.

Não sou adepto em sua totalidade da opinião da filósofa Marilena Chauí, que recentemente acusou a classe média brasileira de fascista, violenta e ignorante. Mas certamente, uma reflexão é necessária para que se possam contemplar de forma mais equilibrada os recursos financeiros públicos disponíveis para todos os segmentos da sociedade. Afinal, estamos no terceiro milênio, e o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo. E ainda não temos um transporte público moderno e eficiente; e que em muitas cidades é fornecido gratuitamente. Ou será que estas manifestações são realmente descabidas, e partem de um bando de vândalos e irresponsáveis?


2 comentários:

Uilson Carvalho. disse...

Só posso indicar mais canal que acompanho na net.

O "Acorda Brasil!"


http://www.youtube.com/watch?v=r14-6rjJwsc&feature=youtube_gdata


O cara é brasileiro residente no Canadá e fala com propiedade sobre esta verdadeira palhaçada continental, popularmente conhecida como brasil.

Me desculpe Jairo, mas eu perco a linha quando reflito sobre a realidade desta "M...A" de país.

O pior do brasil é o brasileiro!

E sim digitei brasil com "b" minúsculo.


Sem mais meritíssimo.

Attico CHASSOT disse...

Salve Jairo!
Ao radicalismo do promeiro comentário uma excelente resposra ao Arnaldo Jabor está em
https://www.facebook.com/sandro.miranda.925/posts/659920880688972
Parabens Jairo e se FIFA quiser transferir a Copa será muito bom.
Com estima
Attico chassot
www.professorchassot.pro.br