09 agosto 2013

O "COMPORTAMENTO OPERANTE" DE MARCELO

Marcelo aprendeu a atirar com o pai, sargento da Rota.
Me considero disciplinado em relação às minhas atividades. Tanto que manter este Blog desde março de 2007, publicando um artigo por semana, acredito que não seja uma tarefa fácil, ou de alguém que tenha um senso de disciplina bastante forte, embora vez por outra somos tomados pela preguiça e a modorra.

Baseado nisso, já tinha um artigo prontinho para publicar esta semana, mas resolvi mudar o foco. Já havia pensado em falar do Dia dos Pais, e do quanto há bons exemplos de dedicação paterna e comprometimento a serem mostrados. Mas o crime do menino que, segundo as primeiras investigações, matou os familiares e foi à Escola, me deixou perplexo e inoperante. Parece roteiro de filme antigo, como lembrou uma colega docente na Escola Factum ontem à noite: "Matou a família e foi ao cinema", drama brasileiro de 1969. Por isso, resolvi falar de adolescentes e comportamento, bem como, da influencia que o meio exerce sobre eles.

Assim como todos que se inteiraram da trágica notícia da semana, eu também senti dificuldades para entender o que sucedeu em Brasilandia, zona norte da capital paulista. Mas a polícia parece não ter dúvidas sobre a autoria do crime. Todas as evidências imputam a autoria ao jovem de 13 anos.

A mãe, cabo da PM, ensinou o filho a dirigir
Desde o ocaso do século XX, as notícias dão conta de que as famílias tem tido dificuldades para administrar a criação de seus filhos. A vida moderna absorveu marido e mulher no mercado de trabalho, em busca de melhores condições de vida. Por consequencia, deteriorou em grande medida as relações familiares. Os filhos da nova geração crescem e se desenvolvem sem a atenção semanal dos pais. Em contrapartida, os momentos de convivência se tornaram mais libertinos e de pouca exigência no tocante à responsabilidade de cada um, seja pai, seja filho. Num regime de compensação do tempo perdido de relacionamento, trocam-se valores éticos e morais por valores financeiros e materiais.

Após depoimento de testemunha na tarde desta quinta-feira, dia 08, soube-se que Marcelo Eduardo Pesseghini já havia aprendido a atirar com o pai, o sargento da Rota, Luiz Marcelo. Uma outra testemunha afirmou perante o delegado que investiga o caso, que a mãe do menino e cabo da PM paulista, Andréia Pesseghini, ensinou o filho a dirigir. Agora imagine, você leitor, um adolescente de apenas 13 anos já qualificado no "porte" de dois tipos de armas, uma de fogo e outra de transito, duas das que mais matam em todo o país. Aliás, fez uso do bom conhecimento operacional destas duas armas de matar no dia da tragédia, carro e pistola. Minha pergunta é se havia necessidade disso antes dos 18 anos.      

Na página das redes sociais, figuras de jogos de guerra
É o que acontece com muitos pais que, submetidos durante a semana a jornadas de trabalho incessantes e intermináveis, acabam, por desencargo de consciência, extrapolando em atitudes de permissividade nos finais de semana. Em momentos onde os filhos necessitam não somente de apoio e reforço positivo, mas imprescindivelmente de limites, tudo é lícito, tolerado e permitido. E até mesmo incentivado, sem que os pais se deem conta do risco que muitas vezes isso pode representar.  

A teoria behaviorista dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo (respostas) e o ambiente (estimulações), onde Skinner formulou um tal "comportamento operante". Esse comportamento, para ele, é resultado do comportamento reflexo ou respondente, exemplificados pela luz acesa no escuro, que faz com que nossas pupilas se contraiam, ou na salivação provocada por uma gota de limão em nossa língua.

O conflito familiar é comum
na idade adolescente
Não sou nenhum especialista em psicanálise. Longe de mim esta pretensão. Mas talvez algumas destas teorias, como a de Skinner, expliquem o comportamento que surpreendeu e surpreende até hoje os responsáveis por investigações criminais como esta, bem como, os parentes e amigos que buscam entender atitudes como a de Marcelo Eduardo. O contato com a realidade violenta e brutal, que é parte integrante do trabalho de profissionais da justiça, como os pais de Marcelo, pode e deve ter impregnado o ambiente onde ele vivia. Sendo assim, se pode evidentemente deduzir que, acometido desta realidade e de toda a crueldade que a cerca, são imensas as probabilidades do menino assumir este comportamento operante.     

3 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega e amigo Jairo,
sou empático com tua bravura em publicar, deste 2007, este hebdomadário tão denso a cada fim de semana.
Também entendo o quanto a tragédia que assuntaste nos faz estéreis intelectualmente.
Encolho-me nessa desculpa e abstenho-me de qualquer comentário.
¿O que poderia acrescentar às tuas bem postas análises?
Com admiração

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com

Uilson Carvalho disse...


Bom dia Jairo, acho que o post de hoje é um pouco precipitado atribuindo a tragédia ocorrida ao menino Marcelo Pesseghini. A própia polícia já se contradisse duas vezes à respeito do ocorrido, estou com muitas dúvidas e vou esperar até uma conclusão convincente da investigação.

Até lá fico com a opinião do Luis Nobre sobre as investigações:

https://www.youtube.com/watch?v=_UpDh0bU0xQ&feature=c4-overview&list=UUP3JPfxPbMzjeVfzj70TGtg



Aproveitando o alvoroço que a mídia está fazendo contra os vídeo games cito aqui a resposta da UBISOFT:

"Em resposta aos pedidos de posicionamento da Ubisoft sobre o caso da família Pesseghini, trata-se de uma tragédia e nossos pensamentos e orações vão para a família e os amigos das vítimas. Nessa hora de consternação de toda a sociedade, é natural a busca por respostas.
No entanto, em nenhum estudo até agora realizado há consenso sobre a associação entre a violência e obras de ficção, incluindo livros, séries de televisão, filmes e jogos. É uma falácia associar um objeto de entretenimento de milhões de pessoas, todos os dias, em todo o mundo, com ações individuais e que ainda estão sendo esclarecidas. Novamente, isso é uma tragédia sem sentido e os nossos pensamentos e orações estão com a família e amigos das vítimas.
Agradecemos aos fãs da série que manifestaram apoio contra mensagens sensacionalistas associando o jogo à tragédia e convidamos a todos a se solidarizarem com a família e os amigos das vitimas."


Sem mais meritíssimo!

Uilson Carvalho disse...


Para complementar a polêmica segue estes dois links ;)


http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/08/11/legista-do-caso-pc-farias-contesta-pm-de-sp-e-diz-que-filho-de-sargento-da-rota-foi-assassinado.htm




http://www.youtube.com/watch?v=-iGgFvDLwn0