09 maio 2015

UM BLEFE NA EDUCAÇÃO

O "blefe" é uma estratégia de iludir o
adversário no jogo
O jogo é um tipo de entretenimento que foi inventado para diversão. Um pouco de tempo ocioso e é possível jogar dominó ou cartas, coisa muito comum nas férias, quando se costuma estar com amigos ou parentes. Mas também há quem se aproprie dele para ganhar, para acumular. E quem se profissionaliza no jogo, adota estratégias nem tão honestas assim. O "blefe" é uma delas. Através dele é possível iludir o adversário.

O que diz o dicionário sobre isso? O Michaellis, popular dicionário da língua portuguesa, diz que “blefar” é “iludir no jogo, simulando ter boas cartas”, ou ainda, “enganar por falsas aparências”.

Os acessos ã página do FIES sempre terminavam
em "erro do sistema"
Pois foi exatamente isso que o governo federal vergonhosamente fez em relação à educação no Brasil neste início de ano. Blefou de maneira geral, iludindo alunos, professores e até mesmo as próprias instituições de ensino. E como faço parte deste processo, seja na posição de docente ou de pai de estudante, estou comprovando a angustia generalizada que tomou conta do setor.

Comecemos pelos alunos. Aqueles que buscam formação técnica através do Pronatec foram iludidos, pois as matrículas prometidas para este início de ano não se concretizaram. Restou tão somente a frustração e a expectativa de que a promessa para o segundo semestre do ano se cumpra. Os professores, que trabalham no sistema de pagamento por hora-aula nestas escolas técnicas, tiveram redução de carga horária, afetando seus ganhos e reduzindo o poder aquisitivo. Já as instituições de ensino, que apostaram no programa, estão fazendo verdadeiros milagres, assumindo todo o passivo para não excluir os alunos matriculados no ano passado. Não houve alternativa a não ser bancar todas as despesas, devido ao atraso do repasse dos recursos, situação que já acumula três meses.
 
Alunas do secretariado do SENAC do DF 
sem os recursos do Pronatec
No ensino superior não foi diferente. O governo “blefou” de maneira infame em relação ao sistema de financiamento denominado “FIES”. Com uma enorme quantidade de alunos tentando acessar a página do Ministério da Educação, sem sucesso, não foi capaz de honestamente dizer que não havia recursos para todas as solicitações. Até o dia 30 de abril, prazo final para a solicitação do financiamento, mitigava as reclamações dos internautas com justificativas de pouca credibilidade, como o excesso de acessos. Inclusive eu, fui um destes iludidos que tentou em vão por vários dias acessar a página do FIES, sem sucesso. Fiquei por horas e horas fazendo tentativas, no que o resultado sempre era de “erro no sistema”. Agora, uma grande parcela de alunos que já haviam se integrado ao sistema terão de negociar com as instituições estes valores, ou arcar por conta própria. Caso contrário, irão abandonar o sonho da graduação.

Lembro ainda que o novo ministro da educação, Renato Janine, foi entrevistado por uma emissora de rádio local e enfatizou a disponibilidade de recursos para atender a todos. O “blefe” foi constatado alguns dias depois, quando ele mesmo veio a público dizer que não havia mais recursos disponíveis. Uma vergonha absoluta. 

O ministro Renato Janine foi obrigado a reconhecer
a falta de recursos
Isso tudo me convenceu de que, tal como ocorre num jogo de azar, todos nós envolvidos na educação, fomos vítimas de um verdadeiro "blefe". Fomos iludidos, agora me convenci! E uma das coisas que mais significado tinha para mim neste governo era o investimento em educação, e que por tal iniciativa teve meu voto de maneira incondicional. Tudo que analisei externamente ao nosso país, me levou a crer que esta seria a única saída para que um país se torne independente, resgate sua cidadania e reduza o desequilíbrio social com uma melhor distribuição da riqueza acumulada. 

Fica a decepção e a certeza de que mais uma vez estamos a mercê de promessas falaciosas, num dos temas que considero dos mais importantes para o resgate do nosso país, a educação. Me indigna ouvir autoridades públicas brasileiras dizerem não haver recursos suficientes para a educação, enquanto poucas semanas antes o congresso nacional incluía no orçamento de 2015 mais de 850 milhões destinados aos partidos políticos.

E toda vez que tentei acessar sem sucesso a página do FIES, para cadastrar minha filha no programa, lembrei que ao acessar naquele mesmo período a página da Receita Federal, para declarar meu imposto de renda, em nenhum momento houve mensagem de "erro no sistema", mesmo naqueles dias finais de entrega das declarações. Alguém poderia me explicar essa incongruência? 

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Parece que elegeste a palavra perfeita para sintetizar o que vem ocorrendo: BLEFE!
é simplesmente lamentável.