25 junho 2016

A EXPLORAÇÃO DO TELEMARKETING

As imagens divulgadas por empresas em suas páginas,
não refletem a realidade 
As imagens que as empresas divulgam em suas páginas na rede mundial, não refletem a realidade de exploração e de serviço degradante do teleatendimento ou telemarketing. Atendentes sorrindo e sempre de bom humor não estão à altura das exigências que as empresas impõem a estes trabalhadores, ou melhor, trabalhadoras, pois são a maioria. 

Quem nunca recebeu aquelas ligações de cobranças ou de ofertas de produtos e serviços, e que podem tirar a paciência de qualquer um muitas vezes? Pois estes serviços de telemarketing, comuns em nosso cotidiano, são capazes de incapacitar inúmeros trabalhadores e trabalhadoras. E temos legislação pertinente a isso, pois a NR 17- Ergonomia traz um anexo (Anexo II - Trabalho em Teleatendimento / Telemarketing) em seu conteúdo. Este anexo define regras para o mobiliário, condições ambientais e de organização do trabalho, além da capacitação destes trabalhadores, bem como, das condições sanitárias de conforto e do programa de saúde e prevenção de riscos ambientais. Basta que as empresas atendam a estes requisitos mínimos. 
  
Uma enorme quantidade de organizações mundo a fora se vale desta nova ferramenta mercadológica. E o crescimento deste tipo de serviço tem exigido maior atenção das autoridades públicas, principalmente pela exigência de condições adequadas a estes trabalhadores. A maior parcela de pessoas empregadas em telemarketing é de mulheres.

Louise Mara Pereira da Silva, presidente do Sintratel
Segundo a presidente do Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing), Louise Mara Pereira da Silva, 70% dos trabalhadores de telemarketing são mulheres, a maioria com até 25 anos. Ela diz que este é um trabalho altamente estressante, mas que se encaixa na jornada da maioria das mulheres que necessita conciliar emprego e família. Diz ela: “Como esse é um trabalho que oferece risco à saúde do trabalhador, a jornada é reduzida, seis horas por dia. Então, as mulheres acabam ocupando a maior parte das vagas porque assim conseguem conciliar a dupla jornada”. Ainda para a presidente do sindicato, “por virem de um histórico no qual as mulheres eram donas de casa e não podiam deixar de dar conta dessa tarefa, elas acabaram entrando no mercado de trabalho precariamente ou em funções desprezadas pelos homens, e foram se sujeitando a isso. No caso das mulheres negras, foi pior ainda, porque elas precisaram enfrentar o preconceito. Então, não é escolha, é necessidade”.
  
A AEC de Belo Horizonte foi acionada pelo MPT de Minas
por jornada abusiva de trabalho
Alem das péssimas condições de trabalho proporcionadas por estas empresas, com salas apertadas e postos de trabalho sem um estudo ergonômico aprofundado, as jornadas cumpridas muitas vezes excedem o limite imposto pela legislação, que é de seis horas diárias. Recentemente a empresa AEC Centro de Contatos, de Belo Horizonte, foi acionada pelo Ministério Público do Trabalho por inúmeros casos de trabalhadores que excediam a jornada diária. Foram constatados registros de excesso em 129 cartões de ponto escolhidos de maneira aleatória pela fiscalização.

TRT de São Paulo
O Ministério do Trabalho também tem realizado fiscalizações nestas empresas e constatado que as mesas infringem costumeiramente a NR17 – Ergonomia. No final de 2015, a empresa de telemarketing Almaviva de Aracaju foi obrigada a incluir pausas para descanso, não manter o trabalhador em efetiva atividade de teleatendimento por mais de seis horas diárias e não impedir ou dificultar o operador de sair do posto de trabalho para realização de necessidades fisiológicas, coisa comum na rotina daquela empresa.

Os próprios trabalhadores desconhecem os seus direitos na área de telemarketing. E muitas vezes as empresas se prevalecem desta ignorância. Isso é plenamente constatado no vídeo produzido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2.a região em São Paulo – TRT nas Ruas. Observe no vídeo abaixo:


Por isso, acredito que algumas vezes nós, que atuamos na área prevencionista, também, podemos contribuir para divulgar estes direitos e tornar as jornadas de trabalho mais salutares e menos penosas. Basta que cada um faça sua parte. Assim teremos empresas mais responsáveis e cumprindo a exigência da legislação.    

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
vou ser repetitivo. Uma vez mais o Professor Jairo — o paladino em prol da saúde integral das trabalhadoras e dos trabalhadores — trouxe um assunto importante cujos bastidores desconhecemos. Obrigado.
Posso imaginar quanto insulto estas heroicas moças ouvem, especialmente quando nos acordam de uma merecida sesta,
Parabéns para ti e para elas.
Vou me portar melhor.
attico chassot
• mestrechassot.blogspot.com