O semblante do técnico brasileiro diante da desclassificação precoce era de amargura e desolação |
Eu juro prá vocês! Uma imagem me comoveu esta
semana que passou. A quem eu comentei sobre isso, se mostrava incrédulo. Alguns
alunos me disseram: “Ah, não professor! O senhor está fazendo piada!” Mas eu
insistia: “Pessoal! Tive pena do Dunga, sim!”
A imagem do técnico, que a televisão mostrou
ao final da partida entre Brasil e Peru, era pura desolação. Sintetizava a amargura
e a desolação do ex-capitão da seleção, diante da derrota que mandava para casa
antecipadamente o time verde amarelo. E com um GOL de mão...
No dia seguinte não resisti, e fui tentar
buscar explicações para mais este vexame.
O gol irregular do peruano liquidou o sonho da Copa América |
Pois encontrei um artigo muito interessante
de nosso compatriota, jornalista David Coimbra, intitulado “O que o Populismo fez com o Futebol”.
E sabe que gostei? Tanto que trouxe aqui para vocês, meus diletos leitores.
Acredito que gostarão do conteúdo, pois na minha opinião reflete uma realidade
que não havia me dado conta.
Vejamos:
É um Lego, uma peça engatada na outra,
formando uma lógica irrecorrível.
Repare:
A Lei Pelé favoreceu a debandada de nossos melhores atletas |
Pelé, que na juventude foi o redentor do
futebol brasileiro, na maturidade foi seu algoz.
Ronaldinho, o último craque do Brasil, foi
mesmo o último: foi o marco do fim.
Sim, porque o futebol brasileiro começou a
terminar em 2001, quando Ronaldinho se evadiu do Grêmio para o PSG. Era o
primeiro jogador a se valer da nefanda Lei Pelé, a lei que desprotegeu os
clubes brasileiros e abriu o mercado para os piratas europeus.
Na época, eu era editor de Esportes da Zero Hora. Debatia
a respeito com meus colegas. Íamos para o café da Redação e terçava armas com o
Mário Marcos, com o Moisés Mendes, com o Diogo Olivier. Era só eu no forte,
cercado pelos inimigos amigos da Lei Maldita.
Ronaldo foi um dos jogadores que deixou o país para jogar no Barcelona muito cedo |
Meus amigos se deixaram seduzir pela retórica
demagógica de que os jogadores seriam "libertados". Balela.
Libertados foram os clubes ricos da Europa, que agora podiam descer para os
trópicos e se abastecer quase de graça de jogadores que ainda ostentavam as
acnes da puberdade.
A lógica da matriz explorando a colônia havia
sido reproduzida no futebol. Não era mais Portugal atravessando o Mar Tenebroso
para encher suas caravelas de pau-brasil, eram espanhóis, ingleses, italianos,
franceses e alemães buscando atacantes e meio-campistas no nascedouro das
escolinhas.
O Ivan Pinheiro Machado um dia observou:
– Esse Alexandre Pato, me disseram que ele
era um Beethoven, e ele é um Zé Ramalho.
Escolinha do Real Madri no Rio de Janeiro |
A mesma coisa Anderson, o Andershow, do
Grêmio. Ambos saíram de Porto Alegre com 17 anos de idade. Pato ganhou corpo,
ganhou euros, ficou bonito, namorou a filha de Berlusconi e esqueceu-se de
jogar bola. Anderson, de atacante insinuante virou volante desasado.
A Europa os mutilou.
Como mutilou outros tantos. O único jogador de
talento diferenciado do Brasil, Neymar, só é quem é porque teve tempo de se
desenvolver no Santos.
Não é por acaso que a última conquista
importante do futebol brasileiro aconteceu em 2002. Naquele ano havia
Ronaldinho, Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Cafu, todos com identificação com
os clubes brasileiros. O menos identificado era Ronaldo, mas Ronaldo sempre foi
fenômeno.
Seleção Brasileira 2016: uma grande parcela de jogadores desconhecidos da população brasileira |
Hoje, a Seleção tem jogadores desconhecidos
do torcedor. Hoje, a Seleção não importa mais a ninguém. E isso é o mais
admirável. O plano solerte de liquidação do futebol brasileiro deu errado e
certo ao mesmo tempo. Porque os 12 grandes clubes do Brasil, que eram os alvos
do ataque, conseguiram se adaptar e sobreviver. Eles possuem anticorpos
resilientes: os torcedores, que os amam incondicionalmente, sejam quais forem
seus jogadores, sejam quais forem seus dirigentes, sejam quais forem suas
conquistas. O centro do futebol brasileiro sempre foi o clube, e não o jogador.
Assim, os clubes se reergueram e a grande vítima foi o produto com o qual a CBF
mais lucra: a Seleção Brasileira.
Torcedor brasileiro tem demonstrado desmotivação com a Seleção |
Formada por jogadores sem identificação com o
torcedor, transformada em mascate da CBF e showroom de jogadores para os clubes
europeus, a Seleção Brasileira não desperta mais interesse algum, não comove,
não emociona, não mobiliza.
O 7 a 1 para a Alemanha foi o produto final
do populismo da Lei Pelé. E, como derradeiro toque de sarcasmo, a tragédia
ocorreu numa Copa disputada no Brasil, tocada por um governo populista e
corrupto como a CBF.
Nesta semana, quando a Seleção Brasileira
repetiu o placar de 7 a 1, só que a favor e contra o time quase amador do
Haiti, nesta semana em que a Seleção Brasileira passa pelos Estados Unidos
provocando bocejos, pensei: eles conseguiram. Em 15 anos, acabou o futebol
brasileiro, acabou a Seleção Brasileira, acabou a política brasileira, acabou
tudo.
Jornal Zero Hora – Esporte
e Política – edição de 11/06/2016
2 comentários:
Caro Jairo Brasil, é só pensar um pouquinho. Quem manda é quem retem o dinheiro, ou seja o patrocinador, é ele quem determina quem é ou não integrante da seleção.
Convoquem jogadores de dentro do Brasil, que querem aparecer na vitrine no futebol mundial e teremos novamente dedicação à camisa.
http://blogs.lance.com.br/deprima/wp-content/uploads/2016/03/Backdrop.jpg
Futebol de verdade só na várzea.
Meu caro Jairo!
Lamento, mas laboras em um equìvoco.
Não estás falando do futebol brasileiro.
falas do futebol da CBF. Este como da FIFA não passam de vil mercadoria.
Um abraço desde Macapá
achassot
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