Os dados refletem aquilo que acontece na realidade. E
muitas das realidades observadas hoje em dia tem a ver com empregadores que não
levam a sério a segurança do trabalho e não assumem a responsabilidade da
empresa enquanto parte da sociedade. E como parte desta sociedade cabe a ela o
compromisso pelo bem estar de seus funcionários, daqueles que são responsáveis pelo
lucro e pelo sucesso das organizações. Sabe-se que empresas responsáveis são aquelas
que consideram o trabalhador parte essencial de seu sucesso, e a eles
proporcionam condições adequadas de trabalho e proteção. Todavia, ainda vivemos
situações de extrema penúria no tocante a políticas de segurança por aqui.
Os últimos eventos ocorridos no Rio Grande do Sul em
termos de acidente de trabalho comprovam a precariedade das ações adotadas
pelas empresas. E isso não pode ser esquecido neste dia marcante.
Por isso, resolvi reproduzir o texto do sindicalista
Almir Araújo, publicado no jornal ”Tribuna do Mato Grosso” e que muito tem a
ver com a nossa realidade aqui no Estado também.
A celebração do dia de 28 de abril – Dia Mundial em
Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho – surgiu no
Canadá, por iniciativa do movimento sindical, como ato de denúncia e protesto
contra as mortes e doenças causadas pelo trabalho, espalhando-se por diversos
países. Esse dia foi escolhido em razão de um acidente que matou 78
trabalhadores em uma mina no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, no ano de
1969.
Uma sequência que mostra a insegurança no Estado |
Desta forma, queremos denunciar as mortes no trabalho como expressão mais contundente da violência sofrida pelos trabalhadores e trabalhadoras. No Brasil, dados oficiais de 2008/10 apontam o registro de 2,3 milhões de acidentes de trabalho, dentre os quais 8.089 trabalhadores morreram, cerca de uma morte por acidente de trabalho a cada 3,5 horas. Deste total de acidentes, 41.798 trabalhadores ficaram permanentemente incapacitados para o trabalho. A amputação de dedos, mãos e braços lidera os quadros de incapacidade.
Também queremos dar visibilidade aos transtornos mentais causados pelo trabalho e às barreiras impostas para reconhecê-los como acidente de trabalho, que juntamente com as LER-DORT, lideram os motivos de afastamentos do trabalho, problema que tem uma estreita relação com o aprofundamento das exigências impostas aos trabalhadores, fruto das mudanças na base técnica e organizacional do trabalho que vem ocorrendo nas últimas décadas.
Se, em épocas anteriores o trabalho era levado ao limite
da capacidade humana, tendo como alvo privilegiado o corpo dos
trabalhadores e trabalhadoras, considerado somente quem usa energia física para
realizar movimentos precisos sob um rígido controle de tempo, hoje a
exploração do trabalho continua impondo ritmos extenuantes, mas visa
também à energia psíquica: homens e mulheres polivalentes, criativos,
multifuncionais e subjetivamente engajados, capazes de resolver e até mesmo de
se antecipar frente a imprevistos que possam comprometer o equilíbrio da
produção, seja ela na indústria, na área rural, ou no setor de serviços.
Somam-se às exigências do trabalho, o aprofundamento das
formas de coerção e controle dos trabalhadores, exercidos não só pelas
chefias, amparadas por tecnologias de informática e uso de assédio moral como
estratégia de gerenciamento, como por meio da vinculação de metas e resultados
à remuneração variável, desencadeando uma dinâmica perversa em que os próprios
trabalhadores controlam uns aos outros, destruindo os laços de
solidariedade, desencadeando sentimentos de desamparo e solidão.
Neste 28 de abril – Dia Mundial em Memória das Vítimas
de Acidentes e Doenças do Trabalho, queremos resgatar a dimensão humana do
trabalho, lutar pelo fim de metas e exigências abusivas que desconsideram os
limites físicos e psíquicos dos trabalhadores e chamar a atenção da sociedade
para a violência e perseguição sofrida diuturnamente pelos trabalhadores e trabalhadoras
e suas organizações nos locais de trabalho, a exemplo de cipeiros
combativos que são demitidos por lutarem por melhoria das condições de trabalho.
Queremos, ainda, chamar a atenção do poder público para
a ineficácia dos sistemas de prevenção adotados pelas empresas de todos os
setores produtivos, cuja lógica protege mais as empresas que aos trabalhadores,
que inclui a recusa em emitir a CAT, programas de controle de risco
burocráticos, validados por médicos e engenheiros unicamente para mostrar à
fiscalização, demissão de trabalhadores adoecidos e, por outro lado, a
sofisticação dos métodos de seleção para impedir a contratação de trabalhadores
doentes, a medicalização dos trabalhadores sem intervir nas causas dos
acidentes e doenças, via de regra, culpando, responsabilizando os trabalhadores
por problemas que são da empresa. A persistência de índices elevados de
acidentes e doenças é um indicador inequívoco da fragilidade das políticas
adotadas pelas empresas e pelo poder público.
Necessitamos que ocorra a humanização das perícias
médicas e a modificação da política gerencial meramente securitária do INSS,
que trata os trabalhadores adoecidos como fraudadores do sistema, imputando uma
trajetória de humilhações para conceder os benefícios, esquecendo que estes são
direitos dos trabalhadores, contribuintes do sistema. Além disso, rechaçamos
quaisquer iniciativas que visem favorecer a privatização da Previdência Social
e reiteramos os seus princípios de Seguridade Social assegurados na
Constituição Federal de 1988.
Fonte: A Tribuna do
Mato Grosso – Acesso em 28.04.2012.
Um comentário:
Muito estimado Jairo, quando vi que ontem era o Dia Mundial em Memoria das Vitimas de Acidentes e Doencas do Trabalho ja previa a materia semanal da edicao deste blogue. Nao imaginava a densidade do que nos brindarias.
Paragons e muito obrigado!
Releva a desacentuacao e muito boa semana!
Attico Chassot
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