O dia 05 de junho na semana que se inicia traz a marca
ambiental. Nele se “comemora”, se isto é possível, o Dia Mundial do Meio
Ambiente. Recentemente fiz um destaque aos 10 anos da morte de José
Lutzenberger, um dedicado ambientalista que nos deixou em 2002, e que sempre
teve a minha admiração pela relevante contribuição ao país e à causa ambiental
brasileira. Ele foi tema de meu trabalho de conclusão de curso de pós-graduação
em Ciências Sociais Aplicadas na UPIS de Brasília no ano de 2004 que se chamou:
“José
Antonio Lutzenberger: um estímulo ao movimento ambientalista brasileiro na
década de 1970”.
E o pensamento de Lutzenberger, com o qual pude ter o
primeiro contato naquele período, é permeado de idéias que, mesmo tendo se
passado todos estes anos, jamais deixou de ser atual. Um dos escritos do velho
Lutz que mais me chamaram a atenção foi um discurso proferido por ele na
Universidade de lós Andes na Venezuela, chamado “La Bacanal del Despilfarro”,
ou em português “A Farra do Desperdício”.
Lutzenberger: precursor do ambientalismo brasileiro |
Se a humanidade e a Civilização sobreviverem aos próximos
50 anos, os historiadores apontarão nossa época como talvez o momento mais
anormal de toda a História do Homem e os biólogos considerarão este o momento
mais crítico da longa História da Evolução Orgânica. Nunca antes o homem pôde
comportar-se como hoje se comporta e nunca no futuro poderá repetir o atual
delírio. O comportamento atual da humanidade pode comparar-se ao do pobre diabo
que ganhou o grande prêmio na loteria e que, sem saber o que é capital e como
preservá-lo, se encontra em plena bacanal de esbanjamento, seguro de que a
festa não terá fim. A Sociedade de Consumo é uma orgia. Como tal ela não terá
duração. O momento da verdade é inevitável. Estamos agindo hoje como se
fôssemos a última geração e a única espécie que tem direito à vida. Nossa ética que não abarca os demais seres,
não inclui sequer os nossos filhos.
Nossa
megalomania nos cega diante dos limites das coisas. Adoramos a quantidade pela
quantidade e perdemos de vista os aspectos qualitativos. Com isto chegamos a
uma perfeita inversão de alvos. A tecnologia, cuja verdadeira função seria a de
escravo do homem, já se tornou seu soberano. Tão cegos e alienados estamos que
aceitamos de bom grado esta escravidão. Um delegado brasileiro nas Nações
Unidas, em discussão sobre a problemática demográfica, ilustrou acertadamente
esta atitude ao afirmar que o Brasil necessita demais população e de maior
densidade de população para, note-se bem, criar mercado para as indústrias de
bens de consumo. Não mais a tecnologia para suprir as necessidades do homem,
mas o homem para atender as necessidades da tecnologia.
Desde pequenos somos incetivados ao Consumo |
A
atual forma de sociedade industrial, para funcionar eficientemente, necessita
ou crê necessitar de crescimento exponencial constante. Para manter este
crescimento, utiliza um vasto aparelho publicitário, apoiado em uma maravilhosa
tecnologia de comunicações em massa que, por sua vez, se serve dos mais
sofisticados truques psicológicos para incutir-nos hábitos de consumo que só
merecem o qualificativo de irresponsáveis, hábitos nunca vistos em sociedades
anteriores e insustentáveis no futuro. Apelando à frivolidade, à vaidade e à
ânsia de simbolizar status fictício, criam-se necessidades fúteis e artificiais
que em nada contribuem para a verdadeira felicidade humana e que, muito ao
contrário, estão na base de muita frustração desnecessária.
Lixo Tecnológico: uma amostra da obsolescência |
Com
isso multiplicamos nosso impacto ambiental muito além do que exigiria a
explosão demográfica. Gastamos mais matéria-prima, destruímos mais natureza,
poluímos mais do que seria necessário para a sobrevivência e qualidade da vida.
Basta pensar no esbanjamento irracional de papel. Quanto bosque permaneceria de
pé, quanta poluição poderia ser evitada, quanto lixo deixaria de enfear nossas
ruas e praças, se nossos jornais fossem de tamanho razoável, se usássemos só os
invólucros estritamente necessários, se os escolares usassem completamente seus
cadernos, se a publicidade servisse a finalidades sãs, se reciclássemos sempre
que possível todo papel usado? Afinal, quem consegue ler de ponta um jornal
dominical com trezentas páginas?
Além
da criação de necessidades fictícias, as necessidades reais são atendidas de
maneira a maximizar os custos em recursos e em poluição. A garrafa de leite ou
de cerveja significa uma fração apenas do impacto ambiental do saquinho de
plástico ou da lata de alumínio de um só uso. Todo objeto de um só uso
significa esbanjamento criminoso de preciosa matéria-prima, além de criar
detritos desnecessários, tanto no processo de sua fabricação, como no lixo após
o uso. Até seringas, isqueiros e objetos de precisão já são feitos para um só
uso.
O desperdício é a marca da sociedade atual |
Toda
fabricação industrial, inclusive a fabricação de muita máquina de ferramenta,
segue hoje a filosófica da obsolescência planejada, ou envelhecimento
premeditado dos produtos. As coisas são feitas para não durar, porque se
pretende vender sempre mais. Quem se atreve a criticar este estado de coisas é
acusado de querer o desemprego. Mas, se produzíssemos apenas aquilo que
realmente necessitamos e se os produtos fossem duráveis, poderíamos todos
trabalhar menos e dedicar mais tempo a atividades realmente humanas, atividades
intelectuais, artísticas, recreativas, sociais. O resultado seria também um
mundo materialmente melhor, menos degradado. Talvez também sobrasse mais para a
maioria que não pode participar da orgia... A decisão não é técnica, é
política, moral!
Um comentário:
Estimado colega e amigo Jairo, bela abertura para o dia / semana / mês do meio ambiente e da Rio+20.
Um domingo frutuoso e agradecido pela profunda reflexão,
achassot
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