01 junho 2012

DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

O dia 05 de junho na semana que se inicia traz a marca ambiental. Nele se “comemora”, se isto é possível, o Dia Mundial do Meio Ambiente. Recentemente fiz um destaque aos 10 anos da morte de José Lutzenberger, um dedicado ambientalista que nos deixou em 2002, e que sempre teve a minha admiração pela relevante contribuição ao país e à causa ambiental brasileira. Ele foi tema de meu trabalho de conclusão de curso de pós-graduação em Ciências Sociais Aplicadas na UPIS de Brasília no ano de 2004 que se chamou: “José Antonio Lutzenberger: um estímulo ao movimento ambientalista brasileiro na década de 1970”.

E o pensamento de Lutzenberger, com o qual pude ter o primeiro contato naquele período, é permeado de idéias que, mesmo tendo se passado todos estes anos, jamais deixou de ser atual. Um dos escritos do velho Lutz que mais me chamaram a atenção foi um discurso proferido por ele na Universidade de lós Andes na Venezuela, chamado “La Bacanal del Despilfarro”, ou em português “A Farra do Desperdício”.
Lutzenberger: precursor do ambientalismo brasileiro
Nada melhor neste início de semana em que temos a marca do dia 05 de junho, para relembrar suas palavras e refletir sobre o momento atual da sociedade pós-moderna. A seguir um extrato do discurso.

Se a humanidade e a Civilização sobreviverem aos próximos 50 anos, os historiadores apontarão nossa época como talvez o momento mais anormal de toda a História do Homem e os biólogos considerarão este o momento mais crítico da longa História da Evolução Orgânica. Nunca antes o homem pôde comportar-se como hoje se comporta e nunca no futuro poderá repetir o atual delírio. O comportamento atual da humanidade pode comparar-se ao do pobre diabo que ganhou o grande prêmio na loteria e que, sem saber o que é capital e como preservá-lo, se encontra em plena bacanal de esbanjamento, seguro de que a festa não terá fim. A Sociedade de Consumo é uma orgia. Como tal ela não terá duração. O momento da verdade é inevitável. Estamos agindo hoje como se fôssemos a última geração e a única espécie que tem direito à vida.  Nossa ética que não abarca os demais seres, não inclui sequer os nossos filhos.

Nossa megalomania nos cega diante dos limites das coisas. Adoramos a quantidade pela quantidade e perdemos de vista os aspectos qualitativos. Com isto chegamos a uma perfeita inversão de alvos. A tecnologia, cuja verdadeira função seria a de escravo do homem, já se tornou seu soberano. Tão cegos e alienados estamos que aceitamos de bom grado esta escravidão. Um delegado brasileiro nas Nações Unidas, em discussão sobre a problemática demográfica, ilustrou acertadamente esta atitude ao afirmar que o Brasil necessita demais população e de maior densidade de população para, note-se bem, criar mercado para as indústrias de bens de consumo. Não mais a tecnologia para suprir as necessidades do homem, mas o homem para atender as necessidades da tecnologia.
Desde pequenos somos incetivados ao Consumo

A atual forma de sociedade industrial, para funcionar eficientemente, necessita ou crê necessitar de crescimento exponencial constante. Para manter este crescimento, utiliza um vasto aparelho publicitário, apoiado em uma maravilhosa tecnologia de comunicações em massa que, por sua vez, se serve dos mais sofisticados truques psicológicos para incutir-nos hábitos de consumo que só merecem o qualificativo de irresponsáveis, hábitos nunca vistos em sociedades anteriores e insustentáveis no futuro. Apelando à frivolidade, à vaidade e à ânsia de simbolizar status fictício, criam-se necessidades fúteis e artificiais que em nada contribuem para a verdadeira felicidade humana e que, muito ao contrário, estão na base de muita frustração desnecessária.
Lixo Tecnológico: uma amostra da obsolescência
Com isso multiplicamos nosso impacto ambiental muito além do que exigiria a explosão demográfica. Gastamos mais matéria-prima, destruímos mais natureza, poluímos mais do que seria necessário para a sobrevivência e qualidade da vida. Basta pensar no esbanjamento irracional de papel. Quanto bosque permaneceria de pé, quanta poluição poderia ser evitada, quanto lixo deixaria de enfear nossas ruas e praças, se nossos jornais fossem de tamanho razoável, se usássemos só os invólucros estritamente necessários, se os escolares usassem completamente seus cadernos, se a publicidade servisse a finalidades sãs, se reciclássemos sempre que possível todo papel usado? Afinal, quem consegue ler de ponta um jornal dominical com trezentas páginas?
Além da criação de necessidades fictícias, as necessidades reais são atendidas de maneira a maximizar os custos em recursos e em poluição. A garrafa de leite ou de cerveja significa uma fração apenas do impacto ambiental do saquinho de plástico ou da lata de alumínio de um só uso. Todo objeto de um só uso significa esbanjamento criminoso de preciosa matéria-prima, além de criar detritos desnecessários, tanto no processo de sua fabricação, como no lixo após o uso. Até seringas, isqueiros e objetos de precisão já são feitos para um só uso.
O desperdício é a marca da sociedade atual
Toda fabricação industrial, inclusive a fabricação de muita máquina de ferramenta, segue hoje a filosófica da obsolescência planejada, ou envelhecimento premeditado dos produtos. As coisas são feitas para não durar, porque se pretende vender sempre mais. Quem se atreve a criticar este estado de coisas é acusado de querer o desemprego. Mas, se produzíssemos apenas aquilo que realmente necessitamos e se os produtos fossem duráveis, poderíamos todos trabalhar menos e dedicar mais tempo a atividades realmente humanas, atividades intelectuais, artísticas, recreativas, sociais. O resultado seria também um mundo materialmente melhor, menos degradado. Talvez também sobrasse mais para a maioria que não pode participar da orgia... A decisão não é técnica, é política, moral!

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Estimado colega e amigo Jairo, bela abertura para o dia / semana / mês do meio ambiente e da Rio+20.
Um domingo frutuoso e agradecido pela profunda reflexão,
achassot