SAPUCAIA DO SUL: UM EXEMPLO A SEGUIR

O DESCRÉDITO NA POLÍTICA

Diariamente somos acometidos de muita incredulidade nos destinos políticos do país, principalmente pelas ações de nossos representantes na política nacional. São vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, governadores e senadores que se utilizando do cargo público fazem com que sintamos vergonha de nossas escolhas. E realizam todos os tipos de falcatruas sob o manto da impunidade que a imunidade parlamentar lhes proporciona.

A quantidade de partidos confunde o eleitor

Parece que passamos por uma crise de identidade na política, onde há dúvidas sobre quem representa o quê ou quem defende o quê. Os partidos políticos realizam conjecturas, alianças e parcerias visando tão somente a vitória nas urnas. Não há mais fidelidade aos programas de governo, às regras de conduta do partido e à representação da sociedade que o originou. Partidos hoje não são uma representação dos segmentos sociais. Partidos políticos hoje são propriedade de pessoas, de corporações. Cada vez mais tudo é igual.

Sou de um tempo em que a sigla do partido significava as causas que o mesmo defendia. Por exemplo, sabíamos que o PMDB representava um caminho intermediário entre a situação e a oposição (aliás, foi um dos únicos que não mudou muito, porque este partido camaleão se ajusta de acordo com o momento político); o PDS era um partido elitista que representava os anseios da classe média alta. Ah! E tinha o PT, que oriundo do sindicalismo ABCdário, também fazia do operariado sua massa votante. Mas isso até atingir o poder e tornar-se flexível e tentado às mesmas práticas.  Por aí nos conduzíamos na hora de escolher os nossos representantes.

Mas hoje, se perguntarmos ao eleitor sobre estas características dos partidos, dificilmente conseguirá ele discernir entre um e outro. Os partidos viraram uma coisa só, um grande consórcio para troca de favores entre figuras conhecidas e seus cupinchas, principalmente pela possibilidade de alianças em todos os níveis de disputas, sejam municipais, estaduais ou federais. Isso fez com que o eleitor brasileiro ficasse cercado de uma grande confusão. Ele já não entende quem defende o quê.

Antigos inimigos agora se dão as mãos

ACORDOS ESPÚRIOS NA POLIÍTICA

E a comprovação disso foi o que ocorreu recentemente, quando o candidato a prefeito de São Paulo, ex-ministro Fernando Haddad, acompanhado pelo ex-presidente Lula, foi abraçar o deputado federal Paulo Maluf em sua residência. O passado de Maluf nem é preciso relembrar. Prá se ter uma idéia, ele é procurado pela Interpol por lavagem de dinheiro há muito tempo, e evita deixar o país por receio da prisão. Ou seja, antigos inimigos nos palanques agora se reconciliam e trocam amenidades em nome da vitória na campanha. Não interessam mais os códigos de conduta e de ética. Interessam sim os resultados. “Os fins justificam os meios” é uma frase que representa o maquiavelismo e quer significar que os governantes e outros poderes devem estar acima da ética e moral dominante para alcançar seus objetivos ou realizar seus planos.

Demonstrando uma capacidade de indignação e um senso ético político que lhe é característico, a candidata a vice-prefeita na chapa de Hadad, Luiza Erondina, diante da atitude do Partido dos Trabalhadores, resolveu retirar sua candidatura. Destacou que não sobe no mesmo palanque em que Maluf estiver. Isso demonstra que ainda resta gente séria na política, embora seja peça rara.

Protesto de moradores de Sapucaia do Sul (28.06.12)

Ainda ontem, outra notícia veio incentivar o atual descrédito na política. O Tribunal Superior Eleitoral resolveu recusar a necessidade da “Ficha Limpa” para estas eleições municipais. Por quatro votos a três, os ministros decidiram que não é necessária a aprovação das contas dos candidatos para a quitação eleitoral. Eles só necessitam apresentarem suas contas; a aprovação fica pra depois. Todo o esforço realizado pelas instituições que cobram ética e respeito ao eleitor foi desconsiderado. Isso denota uma certa cumplicidade entre Legislativo e Judiciário.

O EXEMPLO QUE VEM DE SAPUCAIA DO SUL

Adilson da Rosa: "Esse Legislativo não dá a mínima..."

Mas parece que há uma luz no fim do túnel. E essa luz tem dado sinais num lugar pertinho de Porto Alegre. A população de Sapucaia do Sul, município distante cerca de 30km da capital gaucha, tem demonstrado um comportamento cívico jamais visto nestes tempos de permissividade na política local. Enquanto em municípios vizinhos, prefeitos e vereadores fazem o que bem entendem com os recursos públicos, em Sapucaia a população resolveu dar um basta. Está marcando de perto as decisões da Câmara Municipal. E para isso, não mediu esforços em se organizar e comparecer às sessões do Legislativo Municipal, vaiando ou apoiando as decisões dos seus representantes. E o que tem mobilizado a população nos últimos dias é uma proposta de aumento de 77% nos salários do prefeito, do vice e dos vereadores. Ao ser votada a proposta em sessão secreta, os vereadores foram apanhados de surpresa por uma massa de moradores que comparecereu ao local para protestar contra o aumento.  No último dia 19 de junho, moradores foram impedidos de participar da sessão que consolidaria o aumento dos vereadores. Diante da revolta o presidente da Câmara resolveu cancelar a sessão por considerar o “ambiente muito tenso” para tomar decisões. Então, a sessão foi transferida para a quinta-feira, dia 21 de junho.

Qual não foi a surpresa dos moradores que lá compareceram e encontraram a Câmara Municipal vazia, sem ninguém. Isso mostra o receio dos vereadores quando o povo se rebela diante das decisões arbitrárias que o poder legislativo toma, mesmo tendo recebido do povo esse poder.  

O uso das Redes Sociais para protestar já é comum em Sapucaia

Sapucaia do Sul já possui tradição em protestos contra o uso indevido dos recursos públicos. O ex-prefeito do município, Marcelo Machado, também foi motivo de protestos na última legislatura e, ao concorrer à reeleição não obteve sucesso, sendo derrotado por Vilmar Ballin do PT, atual prefeito desde 2009. O protesto foi parar inclusive nas redes sociais.

E nesta quinta-feira, dia 28 de junho, manifestantes se posicionaram novamente em frente à Prefeitura de Sapucaia portando faixas com os seguintes dizeres: “Super $alário Não! Contra o aumento abusivo para os vereadores. Anulação Já!” e “Chega de Farra com o Dinheiro do Povo! 1.o o Trabalho e depois o Aumento de $alário!”. O projetista Adilson da Rosa, que participava do protesto, declarou a um canal de televisão presente: “Esse Legislativo que está aí não dá a mínima pra população, e aumenta na calada da noite o seu salário em mais de 110%”. Enquanto isso, lá dentro os vereadores participavam de sessão solene em homenagem à Associação Comercial.  

Pois bem, neste momento a população de Sapucaia do Sul se mobiliza para não reeleger qualquer um dos atuais vereadores do município. E diante disso, parece que alguns vereadores já repensam em alterar a decisão tomada. Isso sim é fazer valer a condição de eleitor, de cidadão. A população de Sapucaia do Sul dá um excelente exemplo para todos nós da região metropolitana, para todos nós gaúchos; porque não dizer, para todos nós brasileiros.