21 junho 2014

UM HOMEM DA EDUCAÇÃO MORRIA HÁ 10 ANOS

Mesmo com ovações aos jogos da Copa, que se desenvolve em nosso território depois de 64 anos da desastrosa edição vitoriosa para nossos hermanos uruguaios, esta semana se faz notória para quem vive se debatendo pela educação de qualidade. Este sábado, 21 de junho, rememora os dez anos da morte de Leonel Brizola, um de nossos expoentes políticos que dedicou grande parte da vida pública à educação.

Brizola em conversa com Niemeyer
Leonel de Moura Brizola não foi qualquer político. Foi um representante do povo antes de tudo, na mais profunda acepção da palavra. Brizola tinha ideias próprias que se coadunavam com os anseios da população, arredio a conchavos e acordos espúrios em nome de alguma vantagem, fosse qual fosse. Coisa extremamente difícil na classe política atual. Defendia seus pontos de vista de forma apaixonada, arrebanhando adeptos em muitas empreitadas.

Poderia aqui relacionar grande quantidade de fatos históricos que elevam o nome de Brizola, por suas ações enquanto prefeito de Porto Alegre (1956/1958) e governador do estado (1959/1963), bem como, do Rio de Janeiro (1983/1987 e 1991/1994). Aliás, foi o único político brasileiro a governar dois estados pelo voto do povo. Mas o intuito desta feita é mostrar as realizações de Brizola na educação brasileira.

As "brizoletas" transformaram a educação no RS
Durante o mandato como governo de nosso estado, Brizola repetiu o que já havia feito na capital: multiplicou escolas de ensino primário e médio nos municípios gaúchos mais distantes, incluindo as regiões do Pampa, até então bastante esquecidas. Especialistas da educação consagram a Brizola o fato de o estado ter conseguido desenvolver uma geração inteira com maior bagagem cultural em função disso. E tenho depoimentos apaixonados em muitos membros de minha família, que moravam nas regiões que receberam as famosas “brizoletas”.

Posteriormente, como governador do estado do Rio de Janeiro, Brizola foi responsável por um dos maiores projetos educacionais do país: as escolas públicas de tempo integral – os populares CIEPs (Centro Integrado de Educação Popular). Para desenvolver este projeto, Brizola convidou nada menos do que Darcy Ribeiro para estudar a parte organizacional e pedagógica. A escola de tempo integral deveria envolver completamente os alunos, com fornecimento de café, lanche e refeição ao meio-dia. E para tanto, necessitava um espaço físico bem estudado e bastante racional. Para estudar o aspecto construtivo chamou também outro gênio de nossa arquitetura: Oscar Niemeyer.

O Sambódromo do Rio de Janeiro é um monumento multiuso criado
na administração Brizola no RJ. Durante o ano vira um CIEP.

Desta forma nasceram os CIEPs cariocas, e que se espalharam por todo o país, tornando-se uma referencia em educação. Tanto que no futuro, a maioria dos estados brasileiros adotaria a ideia de Brizola, tendo o auxílio financeiro do governo federal para a construção desde o governo Collor. Apesar da derrota na eleição presidencial, Brizola elogiou a atitude do presidente eleito em manter o projeto em todo o país.

Um outro projeto magnífico de Brizola, assessorado por Niemeyer, foi a construção do Sambódromo carioca. Num momento em que tanto se fala das arenas esportivas construídas no país para abrigar os jogos da Copa de 2014, o exemplo do monumento do samba que somente uma vez por ano abriga a maior festa brasileira, o Carnaval, poderia ser seguido pelas administrações atuais. O Sambódromo possui uma estrutura alternativa durante o ano, propiciando seu funcionamento como um grande CIEP durante o ano letivo.

As arenas da Copa que podem se transformar em elefantes
brancos e sem utilização
Seria talvez uma grande ideia transformar a arena da Amazonia num imenso centro de educação, de treinamentos, de desenvolvimento do esporte. Também a Arena das Dunas em Natal, a Arena Pantanal, em Cuiabá, e até mesmo o novíssimo Mane Garrincha no Distrito Federal, poderiam ser transformados em sistemas de multiuso. Para tanto, basta que se tenha boa vontade e políticos corajosos capazes de fazer isso se transformar em realidade. Como o fez Brizola que nos deixou há 10 anos.

Portanto, neste junho de 2014, pleno de Copa do Mundo, podemos abrir um pequeno espaço para recordar um político de nossa terra de grande importância no cenário nacional, e que trouxe significativa contribuição na área da educação. E que também soube se cercar de especialistas capazes de transformar ideias em projetos concretos. E isso hoje é possível. Basta que haja boa vontade. 

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado amigo Jairo,
Realmente este dia que inaugura o inverno no Rio Grande do Sul é prenhe de significados. Avulta com destaque o assunto que fizeste central no teu blogue de hoje: os 10 anos da morte do Engenheiro Leonel de Moura Brizola.
Não sem razão enfatizei o Engenheiro. Mais bem posto seria colocar ~~ como bem destacas com pertinência ~~ o EDUCADOR.
Brizola foi talvez dos nomes mais importantes para Educação brasileira. As brizoletas aqui e os CIEPs no Rio de Janeiro (com o genial Darcy Ribeiro como Secretário de Educação) são feitos indeléveis.
Como professor que sou, não poderia deixar de reconhecer a oportunidade desta edição de teu sempre instigante blogue.
A admiração e o compartilhamento
achassot