Recusando apoio dos partidos políticos e com cartazes próprios, a juventude tomou as ruas em todo o país |
Marque este dia: 20 de junho de 2013. Ele
certamente estará presente na maioria dos livros de História das futuras
gerações de brasileiros. Um professor que tive no Ensino Médio comentava algo
que me fez rememorá-lo no dia de ontem. Dizia ele: “a História é feita de episódios,
e esses episódios, dependendo de sua grandeza e do significado que possuem,
marcam o início de uma nova fase”. E foi nisso que pensei quando a televisão
mostrava o movimento desta quinta-feira histórica. Tenham a certeza, o Brasil não
será mais o mesmo depois desse “20 de junho”.
E a nós, que vivemos as décadas da ditadura
militar, e que nos colocávamos como ícones dos movimentos sociais que mudaram o
país, fica agora uma grande lição. A lição de não menosprezar esta geração que
aí está, classificando-a de acomodada, de alienada. A juventude que todos nós
costumávamos relegar ao conformismo e incapaz de reagir, resolveu sair do ostracismo
e mostrar a cara, e muito mais, tomar parte das decisões. E outra coisa, fazendo
uso das ferramentas características da sua época, as mídias sociais. É! Aquelas
mesmas que achávamos nós serem responsáveis pela alienação destes jovens. Quem
diria?
Mesmo que o resultado não seja aquele
esperado pelos manifestantes, esta geração que aí está já passou para a
História.
Mas não foi realmente só os 20 centavos, meu
caro Arnaldo Jabor, que mobilizou esta multidão toda.
Fui ouvir uma voz política pela qual nutro grande
respeito. (Aliás, um dos únicos que restou no “limbo das almas” desta classe).
Me tocou a fala de Cristovam Buarque no plenário do Senado esta semana, um
defensor da educação e em quem aprendi a confiar por seu passado irretocável. Imputou
ele a razão desta “Voz das Ruas” à falta de oposição aos governos. Ou seja, inexiste
em quase todas as administrações públicas uma oposição forte, e que questione
as ações destes governantes. Pode-se considerar inclusive que a “oposição” se
corrompeu, deixando-se alinhar à “situação” em troca de favores e de cargos
públicos. É o caso histórico do maior partido brasileiro, o PMDB.
Talvez este seja o grande motivo que levou a
juventude a assumir o papel das oposições. Foi ela que resolveu ir para a rua
dizer que está cansada disso que está aí. Foi ela que resolveu dizer que assim
como está não dá mais. Mas não só ela, pois nas ruas viu-se também pessoas de
mais idade e até aposentados, cansados de ver seus salários corroídos pelo
fator previdenciário instalado ainda no governo FHC.
Sim, essa juventude que vive atrás do
computador resolveu iniciar tudo isso, tendo como primeiro motivador aqueles 20
centavos. Não se pense que todos estes motivos não são discutidos diuturnamente
nos lares, em encontros de família, entre filhos e pais. Também em outros
espaços se discutem essas questões. Faço parte de três quadros docentes e de
salas de aula de escolas da capital gaúcha. Ali também estes assuntos invadem o
currículo com frequência. Somos testemunhas do esforço que alunos e alunas
fazem para buscar melhores condições de vida, com um sonho de carreira
profissional próspera; onde muitos, depois do desgaste de uma jornada diária de
oito horas, se esforçam para competir com aqueles que estudam patrocinados
muitas vezes pelo dinheiro público. Dinheiro público cuja origem é o imposto
pago por estes opressos de um sistema injusto.
Me somo àqueles que repelem as atitudes de
vandalismo de uma minoria no movimento de protesto dos últimos dias. Estes não
representam aquilo que o movimento anseia demonstrar ao sistema de governo em
todas as suas esferas do poder, executivo, legislativo e judiciário; sejam eles
municipais, estaduais ou federal. O Brasil já deu mostras de que pode ser um
grande gerador de riquezas. Entretanto, esta riqueza não pode ficar concentrada
nas mãos de uma minoria, que dela usufrui sem qualquer pudor.
Também acredito que a democracia brasileira,
representada pelos partidos políticos, está totalmente falida. Principalmente
pelos sinais que tem dado à população. Pela falta de caráter, falta de representatividade, com uso de legendas em
benefício próprio; pela infidelidade partidária, onde candidatos trocam de
partido buscando sempre a melhor forma de defender seus interesses, esquecendo da população
que o elegeu, e tantos outros motivos. O poder judiciário, também sabidamente
adepto da corrupção, com seus altos salários e a suntuosidade das edificações
que abrigam as cortes e seus magistrados. E o poder Executivo, onde prefeitos,
governadores e até mesmo presidentes são capazes de alianças das mais espúrias
em busca da aprovação constante de suas medidas e da eliminação da “oposição”.
Por isso mesmo, essa oposição costumeiramente pervertida, amansada, podre e
submetida, que a maioria de nossos governantes não tolera, ou paga pra não
tolerar, deu espaço ao movimento que agora está nas ruas, dizendo um BASTA! E assim, o dia 20 de junho de 2013 entrou para a história.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
se teu professor de História dizia “a História é feita de episódios, e esses episódios, dependendo de sua grandeza e do significado que possuem, marcam o início de uma nova fase”. eu acrescento que são historiadores como tu que a escrevem.
Com admiração
attico chassot
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