11 janeiro 2014

SEREI EU DE OUTRO PLANETA?



A Rua 25 de Março em SP é um símbolo do consumo nacional
O mundo pós-moderno em que vivemos se transformou numa avalanche de consumo. E o Brasil, como país emergente, conseguiu se isentar das crises que assolam países do velho continente. Isto também justifica o consumo alarmante em terras brasileiras. 

E os empresários procuram investir todo seu potencial de negócios não só por aqui, mas também nos demais mercados emergentes, como China, Índia, Rússia e agora a África do Sul. Ou seja, normal, onde há dinheiro e pessoas com sede de consumo, lá eles estão.

Mas isso não significa dizer que tudo é vantagem para o povo brasileiro, pois as pessoas não se dão conta de que também nosso dinheiro nunca esteve tão valorizado. Fico atônito quando vejo alguns comentários do tipo: “como as coisas estão baratas...” Quem tem este ponto de vista, normalmente não valoriza os recursos que possui. Na verdade, estamos vivendo um período de exceção e que, a qualquer momento, pode se modificar. Portanto, é necessário que tomemos cuidado com o consumo afoito e pensemos em algumas reservas para momentos difíceis.

Me impressiona o abuso de algumas lojas em relação aos seus clientes brasileiros, que neste momento, detentores de um dos maiores poderes aquisitivos entre as nações em desenvolvimento, sequer questionam promoções e preços. A antiga mania da pechincha parece ter sido esquecida, e o engodo da “promoção” e dos “prazos esticados” tem convencido facilmente a população ao consumo.
Lojas de departamentos promovem liquidações anuais

Outro dia observei com muito espanto uma grande rede de lojas que alardeava um “Fim de Semana Fantástico”, onde vendia quase tudo com 70% de desconto. Houveram pessoas que permaneceram quase 3 dias na frente da loja aguardando o tão sonhado dia do desconto. E naquela data, ao abrirem as portas, os seguranças da loja tiveram de sair do caminho para não serem atropelados. Clientes sequiosos de vantagens financeiras avançavam sobre ferros elétricos, torradeiras, televisores, máquinas de lavar, geladeiras e outros eletrodomésticos como se jamais tivessem tido contato com estas novidades.

Não quero ser “estraga prazeres” de ninguém. Mas é sabido que as indústrias trabalham em seu processo de fabricação com uma política astuta denominada “obsolescência programada”, na qual os aparelhos são construídos com um prazo de validade, para que haja possibilidade de periodicamente serem trocados. É possível perceber hoje em dia que, quando se compra um fogão a gás, por exemplo, as chapas de metal que o recobrem parece uma folha de papel, e que se não for bem cuidado, em breve estará totalmente oxidado. Diferentemente daquele fogão antigo da vovó, que durava muitos anos e até mesmo era objeto de herança aos filhos e netos.

 Vídeo esclarece a Obsolescência Programada
Agora, um departamento de engenharia de produto determina o tempo de uso e arquiteta melhorias e as insere nos produtos de forma gradativa. Então, quando ocorrem ofertas de loja com promoções como estas, significa que estes produtos já estão chegando ao limite da obsolescência planejada. Ou seja, é o resto do estoque da fábrica que estava encalhado, e que agora se transforma em promoção.

Creio que isso seja uma forma de girar a roda da economia, como dizem os especialistas desta ciência, e pode gerar empregos continuamente, mas também se pode considerar como um certo desrespeito ao consumidor. Ou seja, nosso dinheiro vai perdendo valor com coisas que se depreciam rapidamente.
Para a entrega de produtos é necessário esperar

E por falar em desrespeito ao cliente, ou ao consumidor, algumas outras atitudes de empresas tem me chamado a atenção nos últimos tempos.

Outro dia eu solicitava à concessionária de energia elétrica da região que desligasse a energia da casa de meu pai, que está sendo alugada depois da morte de minha mãe. Pedi então que fizessem contato comigo para que eu permitisse o acesso dos funcionários ao local quando fosse necessário. De forma radical, a atendente me disse que isso aconteceria em 48 horas e que ela não podia prever nem dia e nem horário. E nada mais falou. Ou seja, tive de me posicionar com uma cadeira em frente à casa de meu pai e aguardar os funcionários da concessionária. Os vizinhos que passavam e me viam ali na frente ficavam intrigados e perguntavam: “O que estás fazendo aí?” E eu respondia: “Estou aqui esperando o pessoal da AESUL para desligarem a rede elétrica da casa de meu pai.” E assim fiquei ali dois dias.

Esta semana adquiri material de construção para reforma da nova casa em que vou morar com minha família em Porto Alegre. Avaliados preços e condições de pagamento, fomos até uma loja da rede francesa Leroy Merlin, ali na avenida Sertório. Depois de fazer o pagamento entramos em acordo para a entrega do material, cuja promessa foi de em dois dias estar já no local, segundo o vendedor. E sabedor de minhas dificuldades com a questão de horários, solicitei que me enviassem pela manhã, já que não podiam mensurar horário específico.
Diz o anúncio em francês: "Onde seus desejos são atendidos!"

No dia marcado, às 08 horas e trinta minutos me postei com minha cadeira em frente ao prédio para aguardar a encomenda. Chegou a hora do almoço e nada. Liguei para a loja e me disseram que já estava a caminho, e que no início da tarde receberia. Passava das 17 horas e trinta minutos quando uma van estacionou próximo do prédio e deu início à descarga do material que perfazia um peso de mais de uma tonelada, e com somente um funcionário. Após a entrega e a conferencia do material, fui chegar em casa próximo das oito da noite, indignado e cansado.

Não entendo como estas empresas são incapazes de usar o bom senso para entregar serviços e produtos aos seus clientes. Quer dizer então que se eu adquirir um produto ou serviço, para recebê-lo em casa terei de deixar de trabalhar no dia da entrega? Ou será que eu não pertenço ao mesmo planeta onde está localizada esta empresa?

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