A Rua 25 de Março em SP é um símbolo do consumo nacional |
O mundo pós-moderno em que vivemos se
transformou numa avalanche de consumo. E o Brasil, como país emergente,
conseguiu se isentar das crises que assolam países do velho continente. Isto também justifica o consumo alarmante em terras brasileiras.
E os empresários procuram investir todo seu potencial de negócios não só
por aqui, mas também nos demais mercados emergentes, como China, Índia, Rússia
e agora a África do Sul. Ou seja, normal, onde há dinheiro e pessoas com sede de
consumo, lá eles estão.
Mas isso não significa dizer que tudo é
vantagem para o povo brasileiro, pois as pessoas não se dão conta de que também
nosso dinheiro nunca esteve tão valorizado. Fico atônito quando vejo alguns comentários
do tipo: “como as coisas estão baratas...” Quem tem este ponto de vista,
normalmente não valoriza os recursos que possui. Na verdade, estamos vivendo um
período de exceção e que, a qualquer momento, pode se modificar. Portanto, é
necessário que tomemos cuidado com o consumo afoito e pensemos em algumas
reservas para momentos difíceis.
Me impressiona o abuso de algumas lojas em relação
aos seus clientes brasileiros, que neste momento, detentores de um dos maiores
poderes aquisitivos entre as nações em desenvolvimento, sequer questionam promoções
e preços. A antiga mania da pechincha parece ter sido esquecida, e o engodo da “promoção”
e dos “prazos esticados” tem convencido facilmente a população ao consumo.
Lojas de departamentos promovem liquidações anuais |
Outro dia observei com muito espanto uma
grande rede de lojas que alardeava um “Fim de Semana Fantástico”, onde vendia
quase tudo com 70% de desconto. Houveram pessoas que permaneceram quase 3 dias
na frente da loja aguardando o tão sonhado dia do desconto. E naquela data, ao
abrirem as portas, os seguranças da loja tiveram de sair do caminho para não serem
atropelados. Clientes sequiosos de vantagens financeiras avançavam sobre ferros
elétricos, torradeiras, televisores, máquinas de lavar, geladeiras e outros eletrodomésticos
como se jamais tivessem tido contato com estas novidades.
Não quero ser “estraga prazeres” de ninguém.
Mas é sabido que as indústrias trabalham em seu processo de fabricação com uma política
astuta denominada “obsolescência programada”, na qual os aparelhos são construídos
com um prazo de validade, para que haja possibilidade de periodicamente serem
trocados. É possível perceber hoje em dia que, quando se compra um fogão a gás,
por exemplo, as chapas de metal que o recobrem parece uma folha de papel, e que
se não for bem cuidado, em breve estará totalmente oxidado. Diferentemente
daquele fogão antigo da vovó, que durava muitos anos e até mesmo era objeto de
herança aos filhos e netos.
Vídeo esclarece a Obsolescência Programada
Agora, um departamento de engenharia de
produto determina o tempo de uso e arquiteta melhorias e as insere nos produtos
de forma gradativa. Então, quando ocorrem ofertas de loja com promoções como
estas, significa que estes produtos já estão chegando ao limite da obsolescência
planejada. Ou seja, é o resto do estoque da fábrica que estava encalhado, e que
agora se transforma em promoção.
Creio que isso seja uma forma de girar a
roda da economia, como dizem os especialistas desta ciência, e pode gerar
empregos continuamente, mas também se pode considerar como um certo desrespeito
ao consumidor. Ou seja, nosso dinheiro vai perdendo valor com coisas que se
depreciam rapidamente.
Para a entrega de produtos é necessário esperar |
E por falar em desrespeito ao cliente, ou ao
consumidor, algumas outras atitudes de empresas tem me chamado a atenção nos últimos
tempos.
Outro dia eu solicitava à concessionária de
energia elétrica da região que desligasse a energia da casa de meu pai, que
está sendo alugada depois da morte de minha mãe. Pedi então que fizessem
contato comigo para que eu permitisse o acesso dos funcionários ao local quando
fosse necessário. De forma radical, a atendente me disse que isso aconteceria
em 48 horas e que ela não podia prever nem dia e nem horário. E nada mais
falou. Ou seja, tive de me posicionar com uma cadeira em frente à casa de meu
pai e aguardar os funcionários da concessionária. Os vizinhos que passavam e me
viam ali na frente ficavam intrigados e perguntavam: “O que estás fazendo aí?”
E eu respondia: “Estou aqui esperando o pessoal da AESUL para desligarem a rede
elétrica da casa de meu pai.” E assim fiquei ali dois dias.
Esta semana adquiri material de construção para
reforma da nova casa em que vou morar com minha família em Porto Alegre. Avaliados
preços e condições de pagamento, fomos até uma loja da rede francesa Leroy
Merlin, ali na avenida Sertório. Depois de fazer o pagamento entramos em acordo
para a entrega do material, cuja promessa foi de em dois dias estar já no
local, segundo o vendedor. E sabedor de minhas dificuldades com a questão de
horários, solicitei que me enviassem pela manhã, já que não podiam mensurar
horário específico.
Diz o anúncio em francês: "Onde seus desejos são atendidos!" |
No dia marcado, às 08 horas e trinta minutos
me postei com minha cadeira em frente ao prédio para aguardar a encomenda.
Chegou a hora do almoço e nada. Liguei para a loja e me disseram que já estava
a caminho, e que no início da tarde receberia. Passava das 17 horas e trinta
minutos quando uma van estacionou próximo do prédio e deu início à descarga do
material que perfazia um peso de mais de uma tonelada, e com somente um
funcionário. Após a entrega e a conferencia do material, fui chegar em casa
próximo das oito da noite, indignado e cansado.
Não entendo como estas empresas são incapazes
de usar o bom senso para entregar serviços e produtos aos seus clientes. Quer
dizer então que se eu adquirir um produto ou serviço, para recebê-lo em casa terei
de deixar de trabalhar no dia da entrega? Ou será que eu não pertenço ao mesmo
planeta onde está localizada esta empresa?
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