18 janeiro 2014

O CACHORRO TOMA CONTA DA LINGUIÇA?



Em nome da audiência, emissoras usam e abusam

Somos vítimas diariamente de uma invasão televisiva, de muitos personagens ávidos pelos pontos de audiência exigidos pelo patrocinador. Se não há venda direta oferecendo uma gama infindável de produtos e serviços, as mensagens e imagens de forma subliminar (sem que se perceba) são capazes de nos cooptar na aquisição de bens supérfluos ou até mesmo de descartáveis. Ou seja, coisas sem grande utilidade mas que, por influencia deste meio, somos instados à aquisição. É o que um professor meu de graduação dizia tempos atrás: “Se há um curso onde o Diabo faz especialização, este se chama Propaganda e Marketing". Aqui não é intenção minha recriminar quem é ou está em formação na área. Me refiro ao marketing agressivo que influencia o consumo pelo consumo simplesmente.

Influenciar e convencer. Esse é o papel deste poderoso veículo de comunicação capaz de adentrar desde as mansões dos Jardins Paulistas, até mesmo, as favelas da Rocinha, os sertões de Pernambuco e as aldeias indígenas da Amazônia, via antenas parabólicas. Cerca de 90% dos lares brasileiros sofre a influencia da televisão.
 
O lixo que as emissoras disponibilizam diariamente
E o que muita gente não sabe é que este poderoso meio de comunicação de massa é uma concessão do Estado. Ou seja, regularmente são renovados seus contratos e avaliados em seus conteúdos e direcionamento do que divulgam. O Estado é responsável por fiscalizar as ações das emissoras de rádio e televisão naquilo que divulgam e disponibilizam aos seus consumidores.

Mas a devassidão e a agressividade de algumas cenas exibidas, até mesmo em horário nobre, é de assustar. São imagens que instigam a violência, a sexualidade, a arrogância, o egoísmo, a falsidade, a traição, prá não falar em outros tipos de comportamento. Raras são as cenas capazes de ensinar atitudes de ternura, gentileza, sinceridade e entendimento. No tocante a comportamentos negativos e perniciosos, as novelas levam o premio máximo. Personagens falaciosos capazes de enganar até mesmo o elenco todo, pois nunca se sabe o que ocorrerá no próximo capítulo. O próprio autor deixa a sequencia em aberto para poder conquistar a audiência. Com isso, o personagem que hoje era bom, pode se tornar amanhã num grande vilão. Basta que a audiência assim o exija, ou o próprio patrocinador da novela.
 
Imagens insólitas fazem parte da programação das TVs
Outras cenas chocantes também fazem parte desta miscelânea televisiva. Como o que ocorreu recentemente num desafio dito “esportivo” das lutas de MMA (Mistura de Artes Marciais), com o lutador Anderson Silva. Ao desferir um golpe em seu adversário, teve ambos os ossos da perna esquerda esfacelados instantaneamente, em imagens que puderam ser vistas mundo afora com estarrecimento. Coisa comum nestas disputas. Basta que se observe nos finais de semana os confrontos exibidos nos ringues preparados de forma circense, com espectadores berrando e gritando barbáries nas cercanias do octógono (local dos confrontos). O público parece descarregar toda sua ira dos desconfortos diários naquele local.

Quando penso a quantidade de pessoas visualizando toda esta parafernália, principalmente crianças e adolescentes, cuja personalidade ainda em formaçao não sabe distinguir o “certo” e o “errado”, me dou conta do quanto a TV é capaz de influenciar estas cabeças. Sem levar em conta também os aparelhos que dão acesso à internet, e que também é outra discussão à parte. 
 
Crianças são influenciadas por imagens e mensagens de TV







Recentemente, o deputado José Mentor (PT-SP) apresentou um projeto de lei que defende a retirada do ar dos programas de UFC da televisão de canais abertos ou pagos. Segundo ele: “É importante tirar essa luta da TV, porque a única lição que ela propagandeia a violencia. São golpes violentos, joelhadas, onde o sangue é o suor, como dizem aqueles que gostam do MMA”.

Mas é interessante observar que esta preocupação com a violencia e agressividade das lutas não atinge também a divulgação de imagens e comportamentos das novelas e outros eventos da grade de programação das emissoras. E que são, ou deveriam ser, fiscalizados pelas autoridades públicas responsáveis pela renovação periódica destes contratos. Espetáculos de erotismo, cenas explícitas de sexo, atitudes agressivas e de violência são comuns nas novelas do horário nobre, nos Reality Shows (como o BBB e A Fazenda) e ainda nos Programas de Auditório, cada vez mais sedentos de audiência.
 
Não se pode deixar o cachorro tomar conta da linguiça
Está mais do que na hora de se colocar um freio na forma como a televisão brasileira tem explorado a concessão que o Estado lhe fornece. Temo que a população telespectadora, em sua maioria jovens e adolescentes, não possui capacidade crítica para escolher de forma sensata o que lhe convém. E acredito que há por parte do Estado uma grande responsabilidade neste sentido, pois este também é um dos motivos responsáveis pela violência que estampa cotidianamente as manchetes de jornais Brasil afora. Se esperarmos que as próprias emissoras assumam este papel fiscalizador, isso dificilmente ocorrerá. Afinal, não se pode deixar  que "o cachorro tome conta da linguiça".

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Não há reparo no que dizes acerca da programação da TV! Há, todavia, excelentes programas culturais e científicos!
Não podemos demonizar a TV e sim criticar os proprietários e programadores das redes.
Lamentavelmente eles põem a venda o que é comprado pelos consumidores.
Com admiração
Achassot

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Não há reparo no que dizes acerca da programação da TV! Há, todavia, excelentes programas culturais e científicos!
Não podemos demonizar a TV e sim criticar os proprietários e programadores das redes.
Lamentavelmente eles põem a venda o que é comprado pelos consumidores.
Com admiração
Achassot