Mais uma semana de jogos, de sofrimento e de
torcida pelo time que pode conquistar outro título inédito, o de hexacampeão
mundial em futebol. Inédito igualzinho a esse, do qual já somos portadores, de
pentacampeão.
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O que aprendemos com a Copa de 2014 |
E o que de bom ou de ruim nos traz a Copa, e
que nos ficará de “legado”, conforme a FIFA e o governo federal?
Os mais otimistas ressaltarão os valores
arrecadados neste período; salientarão que nosso país se tornará conhecido e
isso impulsionará a indústria do turismo por aqui; dirão ainda que esta é a “Copa
das Copas” como já se ouviu. E os pessimistas? Esses dirão do absurdo do dinheiro
público mobilizado para toda a infraestrutura; destacarão que se deveria ter investido
em educação, saúde e segurança, ou ainda, bradarão aos quatro ventos que a Copa
não trouxe nenhuma contribuição para nosso país.
Mas eu sou otimista em relação à Copa. Não só
por aquilo que os otimistas desfiam como legado, mas por aquilo de exemplos que
pudemos perceber até agora, antes do capitão da esquadra vencedora levantar o
caneco. [E tomara que seja aquele nosso capitão
“chorão” mesmo. Prefiro ele do que o Messi, com aquela cara de “sonso”] E
foram muitas as vezes em que pude aprender com tudo que assisti até aqui da
nossa Copa no Brasil. Vejamos.
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Cristiano Ronaldo observa o telão do estádio |
O melhor do mundo, Cristiano Ronaldo,
impacientemente aguardado por aqui, nem disse por que veio. Já na primeira entrada
em campo para o jogo inicial, parecia muito aflito com a aparência e esquadrinhava
o telão do estádio para avaliar o visual. Mas, alijado dos craques que o servem
com maestria no ataque do Real Madri, e em recuperação de lesões, o CR7
frustrou não somente os portugueses. Deixou torcedores do mundo todo
decepcionados ao se despedir precocemente do evento juntamente com seus
patrícios. Ou seja, o brilho do craque se esboroou, provando que na maioria das
vezes o sucesso vem de um trabalho em equipe, mesmo que haja talento individual.
Isso me fez lembrar o que disse Albert Einstein, um de nossos maiores
cientistas: “O valor do homem é determinado, em primeira linha, pelo grau e pelo
sentido em que se libertou do seu ego”.
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Vicente Del Bosque, técnico da fúria espanhola saiu mais cedo |
Nem convém tecer comentários sobre a atuação
da atual campeã mundial, a Espanha. Desde que desembarcou em terras brasileiras,
o técnico Vicente Del Bosque ouvia comentaristas esportivos especular sobre a
idade de seus pupilos. Ficou furioso inicialmente, afirmando que tinha na mão
um elenco bastante experiente. E foi o que se viu. Repousados sobre o louro das
vitórias em campeonatos espanhóis e da Copa da Europa, subestimaram países
pouco conhecidos e tiveram como efeito a desclassificação. Isso demonstra a
necessidade da humildade e de se evitar o pré-julgamento. O que ocorreu com a fúria
espanhola me relembrou as sábias palavras de nosso maior educador, Paulo Freire:
“A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que
ninguém é superior a ninguém”.
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Suárez, atacante do Uruguai, parecia procurar um dente perdido |
E o “canibal uruguaio”? Ou seria “vampiro uruguaio”?
Bem, tanto faz... A seleção uruguaia contava muito com o atacante Luiz Suárez,
para avançar na competição. Mas por uma atitude inusitada para todos que
estavam em frente à tela, acabou sendo estirpado pela FIFA. Mesmo que a pena
imposta tenha sido pesada na visão de alguns, seu destino foi o chuveiro mais
cedo, incluindo aquele de sua casa, pois deixará de atuar por alguns meses. Observei
que ao enfiar o canino na jugular do zagueiro italiano Chiellini, Suárez sentou
no gramado e ficou procurando o dente perdido. Dizem alguns repórteres que
estavam próximos, ali atrás do gol, que posteriormente ele pedia aos colegas
que se achassem o canino, o entregassem no vestiário. Ou seja, ato feito, se
fez de morto para tentar sensibilizar o árbitro. Nesse momento, me veio à mente
o poeta soviético Aleksandrovich Yevtushenko e sua frase: “O verdadeiro
hipócrita não é o que dissimula, mas o que tenta persuadir os outros daquilo em
que ele não acredita”.
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o colombiano Zuniga acertou com o joelho as costas do atacante brasileiro |
Mas esta semana, embora a suada classificação
para as semifinais da próxima semana, o futebol brasileiro ficou mais triste. Se
o jeito de jogar que a seleção vinha apresentando, já era meio melancólico pelas
fracas atuações, a lesão de Neymar, nosso melhor futebolista, tirou mais brilho
do palco das disputas. E o zagueiro colombiano Juan Zuniga, foi de uma covardia
tremenda. Num golpe traiçoeiro empunhou o joelho sem dar chance de esquiva a
Neymar. E depois do fato consumado, em frente às câmeras, pediu desculpas, como
se o pedido pudesse indenizar a frustração de um país inteiro. Assim que revi
as cenas daquela jogada, depois de terminada a partida, lembrei-me de uma frase
de Michel de Montaigne, político e filósofo francês que viveu entre 1553 e
1592: “A covardia é a mãe da crueldade”.
Portanto, para mim, além dos confrontos, a
Copa tem possibilitado inúmeros momentos de reflexão. Um grande aprendizado a
cada instante, a cada imagem das trinta e duas seleções que desfilaram desde 12
de junho até aqui. Por isso, além de tudo que a Copa nos deixa de “legado”,
ficam também os bons e os maus exemplos.
2 comentários:
Meu caro Jairo,
escrevi esta manhã, ainda escuro, um comentário que não consegui postar. Dizia então:
só um cientista social como tu para falar de Copa da Fifa trazendo Einstein, Freire, Yevtushenko e Montaigne. Todavia discordo da afirmação de que o injustiçado Luisito Suarez mordeu a jugular de italiano. Ele tocou com os dentes no ombro.
A Fifa não tem moral para castigá-lo.
Acrescento que dificilmente verás o capitão que fugou à cobrança de penalidade elevar a taça. Ela será erguida por um argentino ou por um alemão.
Brincando com algumas provocações,
achassot
Meu caro Jairo,
realmente poderia ter sido pior. Aliás, cheguei a pensar que hoje a tarde, iria ser bisado outro 7X1.
Estranho que na edição passada postei dois comentários conectando teus comentários com os autores que citas, mas não aparecem.
Com admiração,
achassot
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