O banho de chuva parece revigorar nossas energias |
Sou um cidadão dos anos 1950, nascido em meados desta
década do século passado. E naqueles tempos nos deleitávamos com banhos de
chuva nos verões calorentos. Isso quando nossa mãe aprovava essa peraltice. Pois
sabia ela que, em caso de doenças, era quem deveria nos socorrer com aqueles
chás miraculosos ou a “sopinha” capaz de revigorar um organismo acometido.
Minha adolescência tinha uma mistura que muitos jovens
e adultos de hoje desconhecem totalmente. Vivíamos um tempo distante de
equipamentos sofisticados. Pouco se conhecia de coisas eletrônicas e computadores. Mas isso não nos impedia de ser muito felizes. A maioria de nossos brinquedos era
pura artesania, eivados de inventividade e criatividade.
E a natureza tinha inserção em muitas de nossas
brincadeiras. Nelas se faziam presentes as árvores, os pássaros, os insetos, os animais domésticos, o fogo e a água. Toda essa maravilhosa miscelânea adentrava nossa
realidade. Poderia aqui desfiar muitas brincadeiras que envolviam
todos estes elementos. Mas um deles era meu preferido desde pequeno, a água.
A água foi sempre um elemento presente em minha infância |
Um dia ouvi um comentário de meu primo mais velho que também participava destas delícias, e que
me deixou “preocupado”. Afirmou ele: “Eu já ouvi dizer que ainda vamos ter guerras por
causa da água!“ Essa taxativa em minha cabeça juvenil teve o efeito de uma
bomba. Balancei a cabeça atordoado com o que ouvira e pensei quase em voz alta:
Isso é uma asneira! Ora, com tanta água
por aí, quem vai brigar por causa dela? Mesmo que eu duvidasse, isso povoou meus
pensamentos dali por diante.
A água potável representa uma pequena parcela do total disponível |
Houve um tempo em que me submeti a uma experiência enriquecedora e de grande conhecimento, mas extremamente difícil e complexa. Me
candidatei a síndico do condomínio onde morava, e fui eleito para um mandato. Bastou
para que eu entendesse a importância deste recurso indispensável na vida das
pessoas. Mas também pude conviver com pessoas responsáveis e outras
esbanjadoras. Algumas sequer se impressionavam com o desperdício de água.
A água necessária para produzir nossos alimentos |
Outras vezes me espantava a escassez de água em
determinados rios, que a cada temporada tinham seu potencial reduzido,
principalmente pela utilização nas plantações. Também consegui entender há
poucos anos o conceito de “Água Virtual”, que é aquela utilizada na elaboração,
criação e produção de todos nossos víveres. Imaginem que para se produzir um
quilo de arroz são necessários 2.500 litros de água, e que para 1 quilo de carne
bovina são necessários quase 20.000 litros de água.
Mas agora, quando o estado de São Paulo expõe os
leitos secos recortados e estriados de suas barragens, como se fosse uma
carniça fétida ao sol, cobiçada por abutres famintos a espera do golpe final, entendo
o que disse aquele meu primo.
São Paulo enfrenta uma das maiores secas de sua história |
Houve um tempo em que eu imaginava que as guerras por
água estavam distante de nós; que eram uma realidade do empobrecido e maltratado
continente africano. Pensava eu: “Aqui
nós temos rios que jamais secarão! Temos o Amazonas, maior rio do planeta; temos o Velho Chico na Serra da Canastra, o Madeira e o Solimões, em São Paulo o Tietê e o
Pinheiros; o Uruguai e o Jacuí aqui no Sul. E muitos outros. Jamais nos faltará
a água”. Ledo engano. Outro dia assisti moradores de um município paulista avançando sobre um caminhão pipa que não conseguia manobrar, sem que o motorista pudesse intervir. Em poucos segundos ele foi esvaziado. Então me perguntei: "Será que a guerra por aqui já tem data e hora prá começar?" Talvez estejamos às vésperas de que ocorra aquela premonição de meu primo.
Um comentário:
Muito estimado colega Jairo, dupla dimensão na blogada de hoje:
1) a evocação de brincadeiras nossa infância, onde banho de chuva era o máximo.
2) o destaque acerca do consumo (e dos cuidados) do mais precioso dos líquidos.
A admiração do
Attico chassot
Mestrechassot.blogspot.com
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