O brasileiro Marco Archer no banco dos réus, à espera de um milagre |
Quem assiste aos boletins de notícia televisivos
costumeiramente, ou tem o hábito de ler o periódico diário da maior rede de
comunicação do estado, certamente não se cansa de ver cidadãos clamando: “Eu
quero é justiça!” Somos todos vítimas de uma sociedade onde impera a violência,
e onde a morosidade da justiça faz com que nos sintamos amordaçados em nosso
direito à reparação dos danos causados. Mas nem sempre a pena aplicada em casos
de crime é uma forma de se fazer justiça. Que se dirá então se a pena for a “pena
de morte”, como ocorre em alguns países.
Esta semana uma notícia vinda de bem longe, prá ser
mais específico, vinda do outro lado do mundo, dá conta de que o brasileiro
preso e condenado na Indonésia, por crime de tráfico de drogas, será
realmente executado neste final de semana. Alheio aos pedidos de clemencia da
família, aos apelos de organizações internacionais e até mesmo da
presidência brasileira, o governo indonésio vai colocar Marco Archer Cardoso
Moreira frente a frente com o pelotão de fuzilamento. Segundo a tradição
daquele país, o sentenciado tem algumas escolhas sobre a forma como quer
morrer. [Como se isso trouxesse alguma atenuação ou conforto num momento como
este]. Marco poderá escolher ainda se quer utilizar uma venda nos olhos e
também se quer ficar em pé, sentado ou deitado na hora fatídica. Os
jornais locais dão conta de que as autoridades já prepararam o esquadrão de tiro, um clérigo e
médicos que participarão da execução. Segundo a Procuradoria da capital,
Jacarta, os condenados são avisados com três dias de antecedência para que
possam se preparar mentalmente e façam seus derradeiros pedidos.
Alguns poderiam dizer que lá sim, na Indonésia, se faz
justiça. Mas, mesmo que isso signifique fazer justiça, sou e sempre serei a
favor da vida. Acredito que a verdadeira justiça é aquela que resgata o acusado
para pagar e reparar os danos provocados à sociedade. Não é excluindo-o do meio
dela que se fará justiça. O que ganha a sociedade com a morte simplesmente?
Diriam outros: “Agora, sim! Morto, não poderá continuar sua trajetória
criminosa”. Mas na minha concepção, a sociedade perde mais uma força de
trabalho, uma força que poderia ser colocada a serviço desta mesma sociedade.
Para mim, numa sociedade que se diz pós-moderna, a
simples execução de um condenado sem direito a julgamento, ou até mesmo, de
imposição de uma pena que não permita a reflexão pelo mal feito, é um atestado de
incompetência geral desta mesma sociedade. Foi o que entendi nalgumas
execuções ocorridas em breve tempo passado, com a anuência de nações
que se dizem desenvolvidas e defensoras da democracia e da liberdade: o
enforcamento de Saddam Hussein, o trucidamento de seus filhos, o ataque ao
bunker de Osama Bin Laden, entre outros.
E o que isso modificou? Acabaram-se os ataques
terroristas? Não! Basta ver o que aconteceu esta semana na França com os
jornalistas do Charlie Hebdo.
Sou contra a pena de morte desde que assisti um debate
de dois excepcionais professores na FURB (Universidade Regional de Blumenau)
sobre o tema. O debate contemplava essa dualidade: a favor e contra a pena de
morte. A favor da sentença se postava um professor da área do Direito daquela
instituição. Do outro lado estava o professor Sálvio Muller, eminente filósofo
e antropólogo, falecido em 2008. Os dois apresentaram inicialmente suas argumentações,
defendendo as respectivas posições, às quais o auditório ouviu atentamente por
quase uma hora. Depois veio o debate, mediado pelo reitor da FURB. Foi um
momento único em minha vida acadêmica.
Pelotão de Fuzilamento é mais comum em tempos de guerra |
Prof. Sálvio Muller |
O argumento usado pelo Professor Salvio Muller foi
muito convincente e me fez ver com mais clareza o absurdo da pena de morte.
Para ele, a pena de morte em nada contribui para a sociedade como punição. Pelo
contrário, ela pune a sociedade mais do que o próprio crime cometido.
Imaginemos uma família que perde um ente querido por assassinato. Fica ali uma
lacuna, um vazio. O preenchimento desta lacuna deveria ser responsabilidade do
criminoso, substituindo a vítima no atendimento a todas as necessidades a que
submeteu aquela família a partir desta ausência. É isso que a justiça deve
fazer, exigir do apenado o cumprimento desta pena. Mas não! Com a pena de morte
se pune em dobro. Pune-se a sociedade, que não tem mais como reparar o dano
cometido, e pune-se ainda a família do apenado, que perde uma força de trabalho
que poderia contribuir na educação e formação de uma família decente; e que,
agora, fica a mercê desta mesma sociedade, talvez vivendo às suas custas e
gerando cidadãos sem a referência de um pai ou de uma mãe, agora ausentes.
Quanto ao brasileiro condenado na Indonésia, só resta
torcer como fazem seus amigos, “à espera de um milagre”.
Um comentário:
Eu caro Jairo,
não aconteceu o milagre.
Somos contra a pena de morte. Abstenho de comwntar a extensão do crime praticado.
Um abraço desde Berlin, capital de um pais que aplicou a pena de morte a milhões apenas por sua etnia.
É dolorosa esta realidade,
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