Muitos assuntos predominaram na última semana |
Quem escreve religiosamente todas as semanas, como eu,
há mais de sete anos, está sempre perscrutando assuntos interessantes e
intrigantes para atingir o grande objetivo: temas que contribuam para o conhecimento geral. Há semanas em que os assuntos
minguam e se tem dificuldades no delineamento do que será abordado. Entretanto,
há semanas em que afloram inúmeros temas, dificultando a escolha. E esta última
semana de janeiro se faz assim, repleta de matérias que merecem uma maior atenção.
Dentre estas poderia enumerar os setenta anos da libertação dos judeus de Auschwitz
pelos russos, os dois anos da tragédia de Santa Maria sem nenhuma condenação formal,
a apatia do governo federal diante da crise gravíssima da Petrobras, nossa
maior empresa, e a ameaça de uma tragédia que pode se abater sobre regiões metropolitanas
desabastecidas de água potável.
As represas paulistas sob ameaça do caos total |
Mas de todos os assuntos, para esta semana o bom senso
me diz que devo reprisar o tema da semana passada, o da “água nossa de cada dia”;
já que o caos é iminente,
principalmente na capital paulista, a mais prejudicada de todas. Iminente traz a raiz da palavra imediato.
Ou seja, estamos às vésperas de ver uma população em desespero na busca de um
recurso que, até poucos anos, não parecia preocupar ninguém, nem as
autoridades. O Brasil e a população brasileira sempre acreditaram no embuste falacioso
do país de recursos hídricos infindáveis, até que São Pedro resolveu “fechar as
torneiras” e os agricultores mantiveram os pivôs regando as culturas sem preocupação.
A curto prazo parece que a única saída é a reposição dos
níveis das barragens por uma previsão otimista de chuvas intensas. Caso isso não
se concretize, o Plano “B” do governo paulista [isso no curto prazo] é um
racionamento radical de cinco por dois. Ou seja, cinco dias de torneiras secas
por dois dias de fornecimento. É o que diz o diretor da Cia. de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo, Paulo Massato Yoshimoto. É a única maneira para
evitar o colapso completo do sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento
da capital e que já detém somente 5% de sua capacidade.
E mesmo com as obras de 830 milhões de reais a serem
iniciadas imediatamente, visando a melhoria do abastecimento da capital, e cujos
valores terão a ajuda do governo federal, não se terá resolvido o problema
atual. Pois o prazo de conclusão está previsto em dezoito meses. Até lá, [poderia ser hilário se não fosse trágico]
muita água vai deixar de rolar por debaixo da ponte.
Agora imaginemos São Paulo com racionamento semanal de
cinco dias de água. Quais organismos terão prioridade no uso do recurso neste período?
Sim, até porque alguns não se tem como reduzir o funcionamento tao
drasticamente, pois impactam diretamente na vida da população. É o caso de
hospitais, órgãos de segurança pública, creches e sistemas prisionais e outros
tantos. E as indústrias, escolas, comércio, bancos, etc, etc? Como resolverão este
impasse?
Esta semana, assistindo um seminário realizado pela TV
Cultura, onde se fazia presente o empresário Oded Grajew, proprietário da Grow
Jogos e Brinquedos, e um dos mentores do Forum Social Mundial, trouxe ele uma reflexão
muito intrigante e que merece ser vista com preocupação, no meu modo de ver a
crise da região. Para Grajew, a redução dos níveis de chuva na região Sudeste
demonstra um processo evolutivo semelhante ao que ocorreu em outras regiões do
globo terrestre. Para ele, tal qual aconteceu na Europa e nos continentes asiático
e africano, a desertificação poderá alcançar o sudeste brasileiro muito em
breve. Principalmente se não for dada uma atenção maior ao desmatamento da região
amazônica, região esta responsável pela evaporação e formação de nuvens que precipitam
as chuvas no sudeste.
SP na iminência de uma guerra por água |
A argumentação do empresário parece muito plausível e
racional. Todavia, se não houver uma mudança radical na postura de toda a população
no uso deste bem finito, certamente a crise concentrada hoje na porção central
do país se alastrará avassaladoramente por todo o território brasileiro. São necessárias
atitudes individuais, deixando de lado o egoísmo coletivo que predomina em
nossa sociedade, para que possamos continuar desfrutando de um bem tão precioso.
Algumas ideias de uso racional já começam a despontar neste cenário, frutos da
criatividade diante da tragédia anunciada. Pelo bem de todos, ou então, para o
desespero, caso não se vejam soluções a curto prazo.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
como teu leitor a cada semana, acompanho tuas preocupações nesta última semana da janeiro. Neste 27 de janeiro, terça-feira, estava em Cracóvia acompanhei com o Planeta com a celebração dos 70 anos de liberação dos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau.
Na quarta-feira estive em Auschwitz e Birkenau. Quase que deveria sustar aqui meu registro. São inenarráveis as emoções. As velas depositadas pelas comemorações dos 70 anos dia anterior, antes referidas, ainda estavam acessas; as flores não haviam murchado.
Vivi por mais por cerca de 1,5 hora em cada dos dois campos de extermínios momentos por demais emocionantes Estar em cenários que de maneira tão densa documentam uma das maiores barbáries, de todos os tempos, cometidas por humanos contra milhões de crianças, mulheres e homens infundiu-me tamanha dor que parece deveria apenas fazer silêncio.
Em Auschwitz, com 28 prédios, por exemplo, contemplar locais dos banhos antes do acesso a câmaras de gás e depois a crematórios. Conhecer o paredão das execuções e as forcas. Impressionar-me com as tentativas (muitas vezes frustradas) de resistências. Ver locais de experimentos promovidos em mulheres e crianças. Percorrer vitrines com toneladas de sapatos (de crianças, de mulheres, de homens) de óculos, de próteses, de louças e esmaltados, de malas endereçadas, de roupas de bebes e crianças fere-nos tão profundamente que parece que vivemos um pesadelo.
Em Birkenau — um dos 45 campos satélites de Auschwitz, que chegou a ter 300 barracões — caminhar sobre a neve e entre árvores desnudas ver numa extensa área de 175 hectares dezenas de chaminés de crematórios é tão incrível que parece estarmos vendo um filme de ficção.
Não tenho condição de narrar mais nada. Se algum leitor quiser saber mais acerca 1,3 milhões de pessoas que morreram ali: a maioria gaseificada e 500.000 de fome e doenças, sendo 90% deles de judeus. Outros deportados e executados ali foram 150 mil poloneses, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades, basta colocar em qualquer buscador a palavra que não cessa de martelar em meus ouvidos: Auschwitz.
Um abraço com admiração deste Varsóvia.
Postar um comentário