Nos últimos tempos muita visão tem se dado nos meios
de comunicação à ocorrência do trabalho escravo, e das mazelas a que os seres
humanos são submetidos por causa dele. Em muitas edições deste semanário dei
destaque a estas penúrias, mostrando a decadência de certas empresas que são capazes
de qualquer coisa para buscar o lucro fácil.
O Ministério Público do Trabalho tem sido incansável no
resgate de trabalhadores submetidos a estas condições. Um dos casos mais
recentes, e que repercutiu sobremaneira entre a população da região, foi o de
um idoso submetido numa fazenda. O proprietário, além de ressarcir
todos os direitos ao trabalhador sob a exigência do Ministério do Trabalho, tem
prazo para lhe fornecer uma residência digna.
O trabalho portuário também encerra trabalho escravo |
Mas quem pensa que o trabalho escravo está somente em
terra firme, se engana. Esta prática também se dá no trabalho marítimo, e com
bastante intensidade. A exploração da mão de obra bem longe dos recursos legais,
dificultando a denuncia, não é nova. Ela tem passado bastante largo, podendo
ser comprovada ainda na Antiguidade, quando uma grande parte dos trabalhos era
realizado em sua maioria pelo transporte marítimo ou fluvial. Não foram poucos
os trabalhadores submetidos à escravidão desde os fenícios, os egípcios e
outros povos que se utilizaram do mar como meio de desenvolvimento.
Outro dia, fui tomado de surpresa por uma notícia
vinda do nosso maior porto da região, o Porto de Rio Grande. Dizia o jornal
local em manchete: “Tripulação denuncia falta de alimentos em navio fundeado em
Rio Grande”. E ainda complementava em seu texto que:
“A
tripulação de um navio de bandeira liberiana denunciou ao Ministério do
Trabalho em Rio Grande, no Sul do Rio Grande do Sul, que os marítimos estão sem
alimentação dentro da embarcação. O navio está fundeado fora da barra do Porto
de Rio Grande desde o dia 9 de agosto.
Trabalhadores pedem ajuda em Rio Grande |
O navio Adamastos
carregou 50 mil toneladas de soja no porto gaúcho e tinha como destino a China.
No retorno, a embarcação acabou encalhando dentro do canal do porto e precisou
do auxílio de rebocadores.
Na vistoria realizada
pela Capitania dos Portos, foram constatadas diversas irregularidades no navio,
como problemas no motor. A embarcação recebeu a determinação de ficar retida
até que todos os problemas sejam sanados.
O cargueiro tem 20
tripulantes de diversas nacionalidades, como filipinos e egípcios. As dividas
com resgate e mais taxas portuárias ultrapassam R$ 1 milhão. Como o dono do
navio não se manifestou, as agências de navegação não fornecem mais alimentação
para a tripulação.”
Não sei se os leitores sabem, mas o Ministério do
Trabalho atua em duas frentes para debelar casos de injustiça com os trabalhadores;
há a Delegacia do Trabalho em terra e a Delegacia do Trabalho marítimo, que
atua em casos específicos desta área. No caso destes trabalhadores, que não são
brasileiros, não possuo maiores informações de como o ministério atua. Mas certamente,
estando em território brasileiro, isso poderá repercutir negativamente em âmbito
internacional nas altas cortes. Portanto, creio que a intervenção do ministério,
buscando recursos para alimentar aquela tripulação, tenha ocorrido visando uma questão
mais humanitária do que propriamente legal.
Mas em outra oportunidade, conversando com um
conhecido que atua como “prático” na Marinha Mercante nacional, me chamava ele
a atenção sobre um aspecto destes cargueiros internacionais e seus
trabalhadores. [O "Prático" é o profissional portuário responsável pela movimentação das embarcações no porto. Uma espécie de responsável pelo estacionamento e retirada dos navios. Por isso, creio ser
importante o contato com pessoas de áreas totalmente distintas das nossas. Um
bate-papo, uma boa conversa são insuperáveis para aprendermos coisas que jamais
imaginamos, com pessoas cujas atividades somos muitas vezes inábeis. E isso sempre
me encantou, aprender realidades díspares. Talvez este seja um dos segredos da sabedoria que se pode acumular, estar em contato constante com a diversidade.] Me dizia ele que, por detrás das bandeiras
ostentadas por estas embarcações, se escondem inúmeras irregularidades.
A Libéria é um país pobre e vive em guerra civil |
Portanto, não é exclusividade brasileira a existência do
trabalho escravo nas mais diversas atividades. Este tipo de trabalho também se
perpetua em âmbito internacional, e singra os mares diariamente, carregando
riquezas de um continente a outro sob o manto da exploração do homem pelo próprio
homem. E como um camaleão, se modifica e adquire requintes apropriados para
fugir das autoridades.
Trabalho escravo: uma mancha na nossa sociedade!
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