Caloura da USP obrigada a ingerir bebida alcoólica durante o trote |
Sempre que tenho dúvida sobre determinado conceito, faço
de acordo com o que aprendi e como fazem a maioria dos estudiosos, recorro ao
dicionário. E neste momento, como estou em dúvidas sobre o que significa
“trote”, busquei no Dicionário Michaellis. Ali está definido como: “Troça ou
vaia que estudantes veteranos impõem aos calouros”. Mas o resultado não me
deixou satisfeito. Até porque, quando penso em "trote", logo me vem à cabeça aquelas "pegadinhas" feitas por telefone para confundir quem atende o aparelho. E por essas, muitas vezes fui obrigado a passar nesta vida.
Nathália teve as pernas queimadas num trote da FAI em Adamantina - SP |
Em tempos de internet, melhor consultar a Wikipédia,
enciclopédia coletiva universal e multilíngue, essencial nestes tempos de
conteúdos virtuais. Ali foi possível consultar o que significa “trote
estudantil”. E o resultado foi: “Trote Estudantil: consiste num conjunto de
atividades para marcar o ingresso de estudantes no ensino superior e, em
algumas exceções, no Ensino Médio, geralmente no caso dos aprovados num
processo seletivo, que podem ser leves ou graves”.
Eu também passei pelo “trote” estudantil, quando
aprovado em meu primeiro vestibular lá pelos idos de 1975. Tive a “cara pintada” com tinta solúvel
em água, e consegui me safar do corte de cabelo num primeiro momento, como a foto abaixo comprova. Mas uns tres dias depois, ao ser descoberto, não fui poupado. A sensação não é muito boa, mas o “rito de passagem” era imposto a
todos sem exceção. Todavia, pude notar alguns exageros por parte dos veteranos,
e o constrangimento de colegas que não sabiam como reagir ou que se viam
humilhados em público. Não tenho dúvidas de alguns saíram traumatizados da experiência.
Mas, hoje, o que deveria ser um momento de alegria e congraçamento entre calouros, como são chamados os estudantes novatos, e os veteranos, que já estão incluídos há tempo no ensino superior, tornou-se uma verdadeira sessão de medo, terror e pânico para muitos alunos. As recentes notícias dos trotes impostos aos calouros da Escola Superior de Agricultura da USP em Piracicaba pelos veteranos, demonstra a superação de todos os limites de tolerância e respeito ao ser humano. Felipe José Yarid, calouro da escola, relatou que foi envenenado com um líquido agrícola desconhecido, provavelmente creolina, utilizada na desinfecção de ferimentos em animais. Outra aluna da mesma escola também sofreu os abusos dos veteranos, com chutes e cuspes na cara. Num outro tipo de trote, denominado “Rala Doido”, a que calouros desta escola são submetidos no meio de um canavial, os alunos são obrigados a tirar a roupa, levam chibatadas e são abandonados sem orientação no início da noite, dificultando o retorno para a sede da faculdade.
Minha carteira estudantil de cara pintada |
Mas, hoje, o que deveria ser um momento de alegria e congraçamento entre calouros, como são chamados os estudantes novatos, e os veteranos, que já estão incluídos há tempo no ensino superior, tornou-se uma verdadeira sessão de medo, terror e pânico para muitos alunos. As recentes notícias dos trotes impostos aos calouros da Escola Superior de Agricultura da USP em Piracicaba pelos veteranos, demonstra a superação de todos os limites de tolerância e respeito ao ser humano. Felipe José Yarid, calouro da escola, relatou que foi envenenado com um líquido agrícola desconhecido, provavelmente creolina, utilizada na desinfecção de ferimentos em animais. Outra aluna da mesma escola também sofreu os abusos dos veteranos, com chutes e cuspes na cara. Num outro tipo de trote, denominado “Rala Doido”, a que calouros desta escola são submetidos no meio de um canavial, os alunos são obrigados a tirar a roupa, levam chibatadas e são abandonados sem orientação no início da noite, dificultando o retorno para a sede da faculdade.
Banhos de bebidas e produtos químicos são comuns em trotes de faculdades paulistas |
Pelo visto, será difícil chamar de veteranos os
membros de um grupo capaz de criar tamanhas barbaridades e submeter pessoas a
elas. Mais correto seria se chamássemos de “criminosos”. Deixando de lado o
objetivo principal de integrar os “novos” ao grupo existente, alguns “ritos de
passagem” são verdadeiras barbáries.
Entende-se que o ensino superior é uma esfera do
ensino onde se deva encontrar indivíduos dotados de um maior nível de conhecimento;
por consequência, mais civilizados e evoluídos em suas capacidades de avaliar,
pensar e agir. Mas, em alguns casos, parece que não é isso que acontece.
Principalmente numa das mais conceituadas instituições de ensino superior do
país, a Universidade de São Paulo. Ali se instalaram verdadeiras camarilhas especializadas
em trotes humilhantes e totalmente despropositais. São elementos que se
utilizam das condições oferecidas pela escola, como as repúblicas para moradia,
e se reúnem para maquinar estratégias de trote similares aos piores eventos medievais.
Trote Solidário reuniu estudantes em Pelotas, com doação de sangue, de medula e arrecadação de alimentos |
Entretanto, não se pode ser reducionista, na crença de
que isso ocorra em todas as escolas. Felizmente, em algumas tem se aplicado o “trote
solidário”, com doação de sangue ou assistência a asilos e creches nestes dias de
integração entre calouros e veteranos. Um bom exemplo, e que deveria ser
seguido pelos futuros profissionais que se formarão em nossas escolas e estarão
em contato com a população; a saber: médicos, advogados, engenheiros, geógrafos,
pedagogos entre outros.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
cumprimentos pela blogada ‘trote em dois tempo’.
No primeiro, algo vandálico. Inenarrável e abominável. Talvez, para ser mais exato: criminosa, porque mata.
No segundo, diametralmente oposto: a solidariedade, ou o de fazer-se fraterno.
Por que precisa existir o primeiro? Por que não apenas o segundo?
Parabéns pela elucidação de uma e outra dimensão. Mais criminalize-se aqueles da primeira modalidade.
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