Os gregos vivem uma das maiores crises de sua história |
Neste final de semana uma coisa aproxima Porto Alegre
de Atenas. Ou ainda, poderíamos dizer, o Rio Grande do Sul da Grécia. Se aqui o frio promete baixar significativamente as temperaturas, em Atenas a promessa é de muito calor, pois os gregos vão às urnas
decidir o futuro do país.
Quem sabe nós também não deveríamos realizar um referendo
para decidir o futuro do Estado? Tal a complexidade da crise que nos atinge?
O novo governo empossado em janeiro deste ano, expos
as vísceras das contas públicas. Gastamos muito mais do que arrecadamos. E a
semelhança com a Grécia neste quesito é muito grande. Em reportagem do dia 30
de junho, jornal relevante da capital traça a realidade dos motivos que levaram
o país grego ao fundo do poço: “A origem está no desequilíbrio entre as
receitas e as despesas. Na década passada, o país gastou muito mais em relação ao
que arrecadava. Para cobrir a diferença, recorreu a empréstimos e a dívida não parou
de crescer. As despesas se avolumaram porque os gastos do governo subiram
muito. Os salários do funcionalismo, por exemplo, praticamente dobraram, mas
sem que isso fosse coberto pela arrecadação.”
As intermináveis reuniões no Palácio Piratini para discutir a crise |
Pois no nosso Estado, isso não foi muito diferente. Ao
longo de décadas, a irresponsabilidade de nossos gestores públicos fez das
contas públicas um sistema inadministrável. E aqui cabe a responsabilização de
todas as esferas de poder, seja no executivo, no legislativo ou no judiciário,
já que vivemos num país de poderes independentes.
A máquina pública ao longo destes anos se assoberbou,
com folhas de pagamentos impossíveis de serem cumpridas. A cada administração estadual
os porcentuais de aumento concedidos foram engolindo as receitas que o Estado
arrecadava, até chegar ao ponto que conhecemos. Algumas empresas estatais
atualmente, empregam verdadeiros “marajás” do serviço público. E uma grande
parcela destas empresas são totalmente ineficientes e deficitárias, como o
conhecido DAER, que é responsável pela qualidade e manutenção da malha rodoviária
estadual, a CESA, responsável pela política oficial de armazenagem do estado e
a CEEE, hoje empresa de economia mista, concessionaria dos serviços de distribuição
de energia elétrica na região sul-sudeste, abarcando a região metropolitana, o
sul, o litoral e a campanha gaúcha, e que recentemente sofreu intimação da Agencia
Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, podendo perder seu status de fornecedora
pelas falhas consecutivas no serviço de concessão.
CEEE estuda vender sua sede para recuperar empresa |
Os salários dos executivos e profissionais concursados
do alto escalão destas estatais são assombrosos, se comparados com outros órgãos
do mesmo governo, e até mesmo com os da iniciativa privada. O acesso proporcionado
pelo Portal da Transparência do RS permite constatar, por exemplo, um salário
líquido de “Especialista Rodoviário” do DAER na ordem de R$ 16.303,00. Um outro
salário líquido de “Analista de Computação” da PROCERGS, que consta no portal referente
ao mês de junho, no valor de R$ 26.848,00. Já a CEEE, de acordo com recente artigo
do jornal Zero Hora, mostrava relação de salários de envergonhar qualquer
contracheque de professor estadual: Economista aposentado recebendo R$
60.045,00, onde aparecia R$ 28.667,00 como “gratificação de férias”. Na mesma
empresa a nutricionista percebe salário líquido de R$ 38.200,00, sociólogo R$ 37.000,00
e jornalista R$ 27.000,00.
O humor de "O Bairrista" já prevê a adoção da moeda |
E quanto ao judiciário gaúcho, é considerado um dos
mais radicais do país, onde as famosas “jurisprudências” tem isolado o Estado das
intenções de investimento privado, tal a brutalidade das ações unilaterais.
Ao longo de décadas os três poderes esbanjaram o dinheiro
público, como se o futuro fosse uma verdadeira utopia. Agora, tal qual a
Grécia, sofre os efeitos da irresponsabilidade passada, onde Executivo,
Legislativo e Judiciário se debatem em permanentes reuniões de tratativas sem
qualquer resultado objetivo.
Pois, se atualmente o Executivo aperta o cerco na redução
de despesas, e conclama os demais poderes a seguir o exemplo, o Legislativo
segue aprovando “planos de saúde” privilegiados aos seus pares e o judiciário acatando
“liminares” para evitar o parcelamento de salários. Ou seja, ninguém se
entende. É a transformação das piadas de “O Bairrista” na nossa realidade.
Acredito
piamente que, tal como a Grécia, Sartori está às vésperas de conclamar também
nosso referendo, para saber se continuamos fazendo parte do Brasil, ou
decretamos a adoção do “pila” como moeda e escrevemos uma “nova constituição”
da República Rio-Grandense. Talvez assim, "sirvam nossas façanhas de modelo à toda a Terra".
Um comentário:
Muito estimado Jairo,
tua blogada deste fim de semana está em consonância com conversas que tivemos na minha privilegiada visita que recebi, nesta sexta-feira para nosso almoço mensal.
Contei-te, então, que uma secretaria de estado do Rio Grande do Sul agendara comigo uma formação para cerca de duzentos professoras e professores. Valor ajustado 200 pilas (para já usar o padrão monetário que apregoas). Na última segunda-feira, recebi constrangido telefonema para acertar o cancelamento acordado. Motivo, não havia verba para o pagamento. Nada mais a aditar.
A admiração de
attico chassot
mestrechassot.blogspot.com
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