02 novembro 2008

A ESCOLA PRECISA SER REVISTA

Há cerca de quatro anos retomei minha trajetória aqui na região metropolitana de Porto Alegre, depois de atuar no fazer docente em escolas técnicas do Distrito Federal. O convite para atuar no Senai de Brasília, como professor do curso técnico de segurança do trabalho, nas disciplinas de Tecnologia Industrial e Segurança do Trabalho I, me foi feito pelo amigo engenheiro de segurança do trabalho Saraiva, atuante profissional na área de segurança da Só Frango Produtos Alimentícios, empresa em que eu desempenhava a função de Gerente Industrial nos idos de 1994. Daí em diante uma paixão pelo ensino técnico dominou minha rotina.

Mas, de uns tempos para cá, algumas transformações se notaram neste ambiente da educação técnica profissionalizante. E é sobre essas transformações que gostaria de fazer alguns comentários.

Quero chamar a atenção para uma coisa que tem acontecido com muitos alunos de nosso cursos técnicos: a falta de modéstia e humildade de muitos no reconhecimento de suas deficiências cognitivas. E esta atitude frequentemente vem acompanhada de uma completa falta de respeito aos professores, atitude esta muitas vezes incentivada pela própria escola no momento da matrícula, quando enfatiza que neste ambiente o cliente é que tem razão. Mas que história de cliente é essa, se educação não é uma mercadoria que se compra no comércio da esquina? Diferentemente de qualquer ramo comercial, o produto disponibilizado pela escola é o saber, o aprendizado, ou ainda, a competência para o bom desempenho profissional posterior. Portanto, isso não quer dizer que mesmo que os conteúdos não sejam absorvidos pelo aluno, a escola deva aprová-lo porque ele é o cliente e está pagando.

Educação é coisa séria, e deve ser assim encarada, tanto por professores quanto por alunos. Tanto o docente que faz de conta que ensina quanto o aluno que faz de conta que aprende estão na contramão do crescimento intelectual. Na minha opinião, a maior virtude da Escola, além de ensinar os caminhos que deve percorrer em sua trajetória, é dotar os educandos de espírito crítico, para que não sejam iludidos por falsos conceitos, para que se tornem elementos de transformação nos locais onde forem desempenhar seus ofícios.

Entretanto, ser crítico não significa perder o respeito para com aqueles que convivem conosco. Ser crítico significa avaliar diversas realidades, observar o contexto de forma geral fazendo uso de muitos conhecimentos que aquinhoamos com o passar dos anos. E para se ter conhecimento de várias realidades é imprescindível a leitura e a interpretação destas realidades. De que forma? Despertando bons hábitos, como os da leitura, como os da escrita, como os da reflexão solitária.

A falta de leitura é um dos fatores de maior desconhecimento de nossos alunos. As bibiliotecas são frequentadas muitas vezes para o acesso a computadores. E esses acessos servem normalmente para troca de mensagens e organização de fotos em sites de relacionamento, um verdadeiro culto à futilidade.

Os resultados de algumas avaliações escritas de nosso alunos são surpreendentes, deixando perplexo qualquer leitor menos avisado. Desde "protetor oricular" e "vaqueta de couro" até "curtuno de borracha", os mais diversos termos aparecem quando os alunos são solicitados a descreverem os equipamentos de proteção individual. Isto demonstra a inexistência, desde os primórdios da educação básica, de um continuado hábito de leitura, formando desta maneira um vocabulário enriquecido e proporcionando um maior poder de argumentação na hora de falar. É o que se espera de um aluno formado pela escola onde atuamos e o que a empresa espera do profissional que irá atuar em suas dependências.

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