04 abril 2010

UM SONHO DE VOAR

Muitos de nós por vezes somos compelidos a repensar nossas trajetórias. Quem um dia não parou para pensar de como seria sua vida se pudesse retornar ao passado e reconstruir novamente toda uma vida? Pois comigo também isso já ocorreu. Não que me arrependa do que hoje estou envolvido, mas, me deixa curioso imaginar outras possibilidades. E dentre essas, a mais forte até hoje pensada, é a possibilidade de ter me tornado um piloto de aeronave. Mais propriamente um piloto de caça da Força Aérea Brasileira.

Nasci e cresci vivendo emoções aeronáuticas. Meu pai era funcionário da combalida VARIG quando eu ainda era criança. Vivia em viagens pelo país realizando manutenções nos sistemas de refrigeração das aeronaves comerciais da empresa. No período de Natal, a empresa aérea realizava uma grande festa em seu pátio próximo ao aeroporto Salgado Filho, onde o Papai Noel descia de helicóptero com mil presentes para toda a criançada. E isso nos fazia, a mim e meu irmão, ouriçados desde o inicio do mês de dezembro na espera da grande festa natalina. Também fazia parte da solenidade um passeio aéreo pelos céus da capital gaúcha.

Minha primeira viagem aérea foi aos oito anos de idade, quando meu pai recebeu uma gratificação sob a forma de viagem para toda a família. Viajamos num Douglas DC-3 de Porto Alegre a Santana do Livramento. Foi uma de minhas maiores emoções.

Afora tudo isso, tivemos o privilégio de vir morar a alguns metros da pista de manobras da Base Aérea de Canoas, quando em 1958 nos mudamos para cá. Dali pra frente acompanhamos toda a atividade dos caças da FAB. Sabíamos, eu e meu irmão, instruídos por meu pai que tinha um conhecimento razoável sobre essas máquinas, quais eram os tipos de aviões, para que serviam e quais suas especialidades. Anualmente, nas comemorações da Semana do Aviador (ou Semana da Asa como outros denominavam), havia demonstrações nos céus da cidade, e nós orgulhosos relatávamos aos colegas nosso conhecimento.

Em meu retorno ao Rio Grande do Sul, tive a felicidade de retomar o contato com esses bólidos e rememorar meu desejo frustrado de ser um piloto, principalmente nas festividades do dia 12 de Outubro, em que a Base Aérea de Canoas se torna palco de comemoração. E um dos momentos mais estupendos é a demonstração da Esquadrilha da Fumaça, da qual me tornei fã confesso, talvez por esse meu desejo enrustido. Não esqueço de uma apresentação que assisti em Brasília, quando estive na festa da posse do presidente Lula em 2002.

Pois nessa Sexta-Feira Santa fui surpreendido pela notícia da morte do tenente Anderson Amaro Fernandes, o numero “sete” da Esquadrilha da Fumaça, numa demonstração realizada em Lages, Santa Catarina. O tenente Anderson era natural de Fortaleza, possuía 3.250 horas de vôo e fez parte de 110 apresentações. O Comando da Aeronáutica está investigando os motivos do acidente, mas, conhecendo a bravura e a competência desses ases, por certo, uma falha na máquina ou um mal estar repentino seria a explicação mais lógica para tal tragédia.

Na condição de admirador da Esquadrilha da Fumaça, é muito difícil dizer qualquer coisa a respeito da morte do tenente Anderson. Para quem já assistiu as manobras da Esquadrilha, possui a perfeita noção da coragem necessária para tanto. Assim, esses destemidos pilotos parecem transcender os sentimentos normais do ser humano. É necessário possuir um algo mais, uma certa reserva de energia e de coragem.

Deixo aqui minha homenagem à família enlutada do tenente Anderson, bem como, à família fumaceira, que por certo está bastante sentida com sua morte. Da página no Orkut que o homenageia ( http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=274111 ), retiro a seguinte mensagem:
“Quando almejamos um sonho nada nos impede de alcançá-lo.Quando esse sonho ganha asas nós alçamos vôo e o tornamos realidade”.
Cap. Anderson Amaro Fernandes, Piloto da Esquadrilha da Fumaça, fumaceiro 7 (Solo).

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu querido colega Jairo,
emocionas-me nessa manhã de domingo, enquanto ouço sinos como que cantando aleluias, ao ler relatos de tua infância ligados a aviação e a homenagem que fazes ao aviador desaparecido.
Teu texto aviva em mim duas dimensões. Tenho um ‘pequeno avião que tu um dia fraternalmente agregaste aos meus souvenires; obrigado uma vez mais. Outra: a evocação da Varig me remete ao seu símbolo primeiro (Ícaro) e sua audácia em voar, desobedecendo às recomendações do pai.
È bom saber-te um pouco Ícaro.
Uma Páscoa abençoada para ti e os teus leitores.

attico chassot

Nilma disse...

Olá! Professor Jairo,
Temos a mesma paixão a aviação. Tinha um sonho de pilotar um aviação comercial ou militar. Porém diante da nossa sociedade machista, desistir e fiz um curso para comissária de vôo em 1997. Conseguir o CCF-CERTIFICADO DE CAPACIDADE FÍSICA E CHT-CERTIFICADO DE HABILITAÇÃO TÉCNICA através do instinto DAC(atual ANAC)porém é uma área restrita, na qual só as pessoas com "QI" conseguem, rsrsrrsrsrs. Mas... Tudo vale a pena quando a alma não é pequena
(Fernando Pessoa). Caso exista as reencarnações, quem sabe????rsrrsrsrrs

Felicidades a todos