ATITUDES DE UM PROFESSOR DO ENSINO TÉCNICO

Nesta semana em que se comemorou o Dia do Professor, quero refletir sobre nossas atitudes enquanto docentes. E aqui quero ser bastante específico no papel de educador do Ensino Técnico. Até porque tenho de concordar que agimos algumas vezes de forma impulsiva, e até mesmo, porque não dizer, de forma autoritária. Principalmente quando temos de chamar a atenção de alguns alunos relapsos em relação às atividades de aula e a pouca dedicação dispensada aos estudos. O que também se observa muitas vezes é a fraca formação no Ensino Básico, pré-requisito para freqüentar os cursos técnicos profissionalizantes. Confesso que essa minha atitude não passa de uma grande preocupação com a realidade do mercado de trabalho.

Para nós que trabalhamos como educadores do Ensino Técnico, e que como eu possui a vivência da realidade da rotina das organizações, por mais de 15 anos como Gestor Industrial em empresas de médio porte, é uma grande responsabilidade formar profissionais competentes para assumir posições estratégicas numa área que vai cuidar da saúde dos trabalhadores. Sim, porque os profissionais da área da saúde, especificamente de enfermagem e segurança do trabalho, devem ter a dimensão exata da responsabilidade que assumirão quando receberem o certificado ao final do curso. E essa tem sido minha grande preocupação. Relembremos recentemente uma técnica de enfermagem formada em escola técnica da região metropolitana, e que resolveu fazer experimentos com inocentes bebês num hospital de relevância da capital gaúcha. O caso tomou conta das discussões em salas de professores das escolas, quando muitos docentes se conscientizaram da responsabilidade imputada a eles como formadores destes profissionais. Uma emissora de televisão inclusive, fez contato comigo na oportunidade, solicitando-me uma entrevista, já que havia atuado naquela escola num curso de especialização em Enfermagem do Trabalho. Neguei-me peremptoriamente a dar entrevista, pois achei de um oportunismo tamanho a atitude da emissora, num momento tão devastador para a escola.

Nossas escolas, enquanto instituições de formação desses profissionais, possuem grande responsabilidade na emissão dos certificados, pois foram autorizadas pela Secretaria Estadual de Educação a ter o curso em suas dependências, tiveram de demonstrar capacidade, e para tanto, receberam um número de registro. Mas quem efetivamente forma esses profissionais? Quem os avalia? Quem os aprova ou reprova? Essa é nossa grande responsabilidade na formação profissional destes alunos. À Escola cabe disponibilizar o espaço e fornecer a infra-estrutura necessária para a atuação docente.

Em muitas ocasiões recebemos alunos oriundos das mais diversas origens: do Ensino Médio normal, de Cursos Supletivos e até mesmo do EJA (Educação de Jovens e Adultos). Tem-se a consciência das grandes diferenças nestas formações, principalmente em algumas instituições onde o que vale é o pagamento em dia das mensalidades. Sem contar algumas da iniciativa pública onde a aprovação não é um mérito, mas um simples rito de passagem. Isso por si só, já é um fator que dificulta a atuação docente, pois requer uma diferenciação no ato pedagógico, reconhecendo um leque de experiências disformes com um objetivo comum. Mas, em nossas Escolas Técnicas não há espaço para entender o aluno tão somente como um Cliente. Ou seja, o Cliente nem sempre tem razão. Não é porque o aluno mantém a mensalidade em dia que estará automaticamente sendo contemplado com a aprovação.

A grande maioria de nossos alunos freqüenta a escola em busca de uma formação técnica que os possibilite galgar postos no mercado de trabalho e, por conseqüência, realizar um sonho profissional que também os compense financeiramente. Mas também há alguns que estão em busca tão somente do certificado, sem a menor dedicação às atividades escolares e demonstrando despreparo total e falta de conhecimento, de ética, de dedicação e de respeito ao professor. E quando são avaliados como Não Aptos, incorporam atitudes agressivas e exercem pressão sobre o professor, que muitas vezes, se vendo acuado, não resiste e cede ao ímpeto discente. E essa atitude impõe um grande risco: disponibilizar a um sujeito despreparado uma responsabilidade da qual ele não possui as mínimas condições de assumir.

É dessa forma que quero justificar algumas atitudes mais radicais que muitas vezes tenho tomado em sala de aula, chamando a atenção de alguns para entenderem certos conceitos fundamentais da profissão, salientando a importância de conhecimentos essenciais no desempenho das atividades profissionais, bem como, as exigências do mercado de trabalho e da atenção para com a saúde do trabalhador. Tenho a plena consciência que educar é uma grande responsabilidade, pois temos nas mãos o futuro das próximas gerações. E tudo que fizermos agora terá reflexos no futuro.

Acreditem! Minhas atitudes são fruto dessa preocupação que me faz vislumbrar a atuação desses profissionais futuramente. Será que estarão preparados adequadamente para o que vão enfrentar? Serão realmente pessoas imiscuídas com a saúde do trabalhador?