EDUCANDO À MODA PITAGÓRICA

Durante o ano todo as datas comemorativas são uma forma de homenagear a diversas categorias de nossos heróis, assim como, relembrar fatos que trouxeram significativa importância na construção histórica do país ou da humanidade. Para isso, temos resguardado o Primeiro de Maio, dia do Trabalho, o Sete de Setembro, dia da independência, o Quinze de Novembro, dia da proclamação da república, e assim por diante. Além disso, temos o segundo domingo de maio, Dia das Mães, o segundo domingo de agosto, Dia dos Pais, e o doze de outubro que, além de ser a data católica que homenageia a santa padroeira do Brasil, comemora o Dia das Crianças.

Mas também sabemos que muitas dessas datas comemorativas são oportunidades de negócios para alavancar as vendas do comércio lojista, e que é impossível imaginar essas comemorações sem a aquisição de presentes e lembranças para aqueles que nos são muito próximos: pais, filhos, namoradas(os), esposos(as), amigos(as).

Especialmente neste Dia das Crianças, oportuniza-se aos pequenos uma forma de mostrar a importância do valor das coisas, tornando-os sensíveis à poupança e ao bom uso do dinheiro. E isso tenho visto em alguns periódicos das últimas semanas. Um deles, por exemplo, tem como chamada de caderno especial “Dia das Crianças pode ser oportunidade para ensinar os pequenos a comprar”. Ou seja, o artigo publicado adverte para a formação de pequenos consumidores preocupados com valores e uso dos presentes adquiridos. Há inclusive um especialista educador financeiro que afirma que as crianças educadas na boa aquisição “vão adquirir noções de preço e descobrirão que um mesmo produto pode ter diferentes valores. Na hora de comprar, os pais devem até incentivá-las a pedir desconto. Elas precisam perceber que o dinheiro deve ser valorizado e que nossas atitudes diante das compras podem mostrar isso”.

Pois bem. Partindo dessa noção de valores e da educação dos filhos para o emprego adequado do dinheiro, vou mais além. Não creio que nossas crianças devam conhecer tão somente o valor do dinheiro e sua boa aplicabilidade, evitando o desperdício de recurso tão precioso e de difícil aquisição. Me parece que precisamos formar cidadãos antes de tudo conhecedores da origem desses bens de consumo, que são adquiridos nestas datas especiais e significativas. O custo ambiental de muitos desses bens, que são adquiridos e, não raras vezes, acabam nos depósitos de lixo precocemente, é um importante ensinamento a ser ministrado às nossas crianças.

Pitágoras ficou conhecido não somente por seu teorema – a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Nascido entre 570 a.C. e 571 a.C. em Samos, uma ilha grega no leste do mar Egeu, também foi responsável por elaborar várias frases que são cultivadas e valorizadas até o presente. E uma dessas frases, mesmo depois de mais de 2.500 anos de nosso calendário ocidental, se adequa perfeitamente a essa análise da educação das crianças. Diz ela: “Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos.”

Acredito que a grande responsabilidade dos pais não é somente repassar às crianças a conscientização do valor do dinheiro. Mas também mostrar-lhes, aproveitando a data dedicada à comemoração dos Dia das Crianças, a importância de preservar os recursos naturais ainda disponíveis em nosso Planeta, pois sabe-se que eles são finitos e não se renovam tão facilmente.

Nossa geração é considerada aquela que está consumindo acima do que a natureza consegue repor novamente na mesma proporção. E o mais preocupante é que pouco se fala em reduzir o consumo, amenizar o crescimento desenfreado, buscar fontes alternativas ou reaproveitar materiais. Basta que se observem os veículos em rodovias de grandes aglomerados urbanos, na sua grande maioria ocupados somente pelo condutor. Também é uma forma exemplar de verificar a triste realidade do nosso consumo, visitar o aterro sanitário de qualquer cidade de médio ou grande porte, para se observar a quantidade de plástico, papel, borracha e metais desperdiçados.

Por tudo isso, não creio que o Dia das Crianças seja uma oportunidade tão somente de ensinar às crianças o valor do dinheiro. Acredito sim, pela importância que a infância tem na formação do indivíduo, que essa seja uma excepcional oportunidade de conscientizar esses cidadãos das futuras gerações sobre o futuro do Planeta. Dessa forma, estaremos educando as crianças, como pensava Pitágoras há séculos atrás, e poderemos não ter de punir os adultos com catástrofes piores do que as que temos observado nos últimos tempos.