14 novembro 2010

A EDUCAÇÃO AGREDIDA

Mais uma vez a Educação é vítima da agressividade e da violência. E quando trato dessa questão, me refiro a contendas entre professor e aluno e, até mesmo, aluno contra aluno. Os casos são os mais variados possíveis por todo o país.

Escola Factum, centro de Porto Alegre, terça-feira, nove de novembro de 2010.

Aluno de curso técnico investe contra a coordenadora pedagógica da Escola, Jane Antunes, e por pouco não lhe tira a vida. Não fosse o reflexo de utilizar os braços para defender a fronte das cadeiradas desferidas pelo aluno, e que por isso foram motivo de múltiplas fraturas, possivelmente não teria chances de sobreviver diante de tamanha brutalidade. Não satisfeito com o resultado da ofensiva, o agressor ainda esmurrou o rosto da professora cinco vezes, resultando na quebra de vários dentes. A razão para tamanha violência? Insatisfação com o resultado de uma avaliação.

Ocorrido o delito, o agressor foge, e aparece três dias depois para prestar depoimento na delegacia, com uma versão que a ninguém convence. Além disso, pousa de vítima queixando-se de ter sido atacado por seguranças da Escola e de ser motivo de preconceito racial.

Penso que devemos trazer, à luz dessa realidade da violência na Escola, alguns fatos históricos que possam explicar (se é que há explicação para isso) tamanha bestialidade.

É sabido que os regimes militares, que predominaram nas décadas de 60 e 70 do século passado no continente sul americano, privaram a população de muitos de seus direitos. Passado esse período, tivemos uma ânsia pela busca de um novo tempo, onde se pudesse expressar opiniões, fazer reivindicações e retomar a realidade democrática como um todo, senso comum que já predominava em grande parte do mundo moderno. Para atender essas expectativas, consolidou-se a Assembléia Constituinte, que iria elaborar a Carta Magna de 1988, e de que tanto precisávamos. E ela, a nossa Constituição atual, veio repleta de direitos, justificando o nome de Constituição Cidadã: direito do consumidor, do idoso, da criança, do adolescente, da mulher, etc, etc. A partir de então, esses direitos repercutiram em toda a sociedade, fazendo com que as pessoas se sentissem mais protegidas contra regimes autoritários e cientes de todos os seus direitos. Mas, se por um lado tivemos uma grande evolução desses direitos, houve também um retrocesso em nossos deveres. O que se observa atualmente é uma imensa amnésia em relação aos deveres.

E a educação na família também é ponto crucial na formação de uma sociedade mais justa e mais democrática, pois no seio dela é que se perpetuam os valores do individuo. Creio que o espaço ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho foi um ponto determinante na desestruturação da família. E aqui quero deixar bem claro que não sou contra o novo papel desempenhado pela mulher na sociedade. Também tenho uma esposa que trabalha fora e sei o quanto é difícil educar adolescentes sem a presença da mãe no convívio diário. Ela que assumia o papel de educadora e que impunha limites a essas crianças e adolescentes, agora tem de terceirizar a atividade. Sem contar aquelas genitoras que não possuem condições financeiras para tal e que dependem de creches comunitárias para deixar seus filhos. Essas crianças crescem sem ter a noção exata de valores, disputando espaços muitas vezes a dentadas e agressões. O amor maternal fica tão somente para as raras horas noturnas e os finais de semana, quando grande parte das mães está em busca de descanso.

A mídia também tem sua parcela de contribuição nessa realidade. Emissoras de televisão tem sido coniventes com muitos comportamentos, principalmente naqueles demonstrados em telenovelas e programas de competição estilo “Big Brother”, onde o que vale é o prêmio e a vitória a qualquer preço. Ética e moral estão muito distantes dessa programação, pois há inclusive o incentivo para que os personagens hajam sem qualquer pudor em relação a esses valores.

Dessa forma, se pode tirar algumas conclusões a respeito desse comportamento observado. Será que estamos proporcionando aos nossos filhos um senso de valores condizente com uma sociedade justa e ciente de seus direitos e deveres?

E nesse caso específico, creio que a Escola Factum, através de sua diretoria, assumiu uma postura que merece reconhecimento: expôs os fatos e o nome da instituição sem qualquer receio. É comum nesses casos a restrição à divulgação do nome da Escola na imprensa, o que não aconteceu. A agressão foi exibida em rede nacional, pois talvez assim se tenha a oportunidade de refletir sobre o futuro que queremos para nossas instituições, entre elas inclusive a família.

E a coragem que demonstrou a pedagoga Jane Antunes, ao se postar em frente as câmeras e assumir seu papel de educadora, referendou o nome de uma instituição séria e com profissionais competentes no que fazem há quinze anos: a verdadeira Educação.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu querido colega e amigo Jairo,
Estou no aeroporto de Curitiba vindo de Buenos Aires, via Assunção. Às 21h embarco com destino a Porto Alegre. Na Argentina acompanhei o triste e muito lamentável episódio da agressão a uma colega nossa. Como de escrevi de Buenos Aires hipoteco solidariedade a colega agredida e a todos professores e professoras da Factum. A direção da escola cumprimentos pela imediata eliminação do pérfido indivíduo.
Oxalá jamais tenhamos que repudiar atos semelhantes..
Com estima e admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br