Mais uma vez a Educação é vítima da agressividade e da violência. E quando trato dessa questão, me refiro a contendas entre professor e aluno e, até mesmo, aluno contra aluno. Os casos são os mais variados possíveis por todo o país.Escola Factum, centro de Porto Alegre, terça-feira, nove de novembro de 2010.
Aluno de curso técnico investe contra a coordenadora pedagógica da Escola, Jane Antunes, e por pouco não lhe tira a vida. Não fosse o reflexo de utilizar os braços para defender a fronte das cadeiradas desferidas pelo aluno, e que por isso foram motivo de múltiplas fraturas, possivelmente não teria chances de sobreviver diante de tamanha brutalidade. Não satisfeito com o resultado da ofensiva, o agressor ainda esmurrou o rosto da professora cinco vezes, resultando na quebra de vários dentes. A razão para tamanha violência? Insatisfação com o resultado de uma avaliação.
Ocorrido o delito, o agressor foge, e aparece três dias depois para prestar depoimento na delegacia, com uma versão que a ninguém convence. Além disso, pousa de vítima queixando-se de ter sido atacado por seguranças da Escola e de ser motivo de preconceito racial.
Penso que devemos trazer, à luz dessa realidade da violência na Escola, alguns fatos históricos que possam explicar (se é que há explicação para isso) tamanha bestialidade.
É sabido que os regimes militares, que predominaram nas décadas de 60 e 70 do século passado no continente sul americano, privaram a população de muitos de seus direitos. Passado esse
período, tivemos uma ânsia pela busca de um novo tempo, onde se pudesse expressar opiniões, fazer reivindicações e retomar a realidade democrática como um todo, senso comum que já predominava em grande parte do mundo moderno. Para atender essas expectativas, consolidou-se a Assembléia Constituinte, que iria elaborar a Carta Magna de 1988, e de que tanto precisávamos. E ela, a nossa Constituição atual, veio repleta de direitos, justificando o nome de Constituição Cidadã: direito do consumidor, do idoso, da criança, do adolescente, da mulher, etc, etc. A partir de então, esses direitos repercutiram em toda a sociedade, fazendo com que as pessoas se sentissem mais protegidas contra regimes autoritários e cientes de todos os seus direitos. Mas, se por um lado tivemos uma grande evolução desses direitos, houve também um retrocesso em nossos deveres. O que se observa atualmente é uma imensa amnésia em relação aos deveres.E a educação na família também é ponto crucial na formação de uma sociedade mais justa e mais democrática, pois no seio dela é que se perpetuam os v
alores do individuo. Creio que o espaço ocupado pelas mulheres no mercado de trabalho foi um ponto determinante na desestruturação da família. E aqui quero deixar bem claro que não sou contra o novo papel desempenhado pela mulher na sociedade. Também tenho uma esposa que trabalha fora e sei o quanto é difícil educar adolescentes sem a presença da mãe no convívio diário. Ela que assumia o papel de educadora e que impunha limites a essas crianças e adolescentes, agora tem de terceirizar a atividade. Sem contar aquelas genitoras que não possuem condições financeiras para tal e que dependem de creches comunitárias para deixar seus filhos. Essas crianças crescem sem ter a noção exata de valores, disputando espaços muitas vezes a dentadas e agressões. O amor maternal fica tão somente para as raras horas noturnas e os finais de semana, quando grande parte das mães está em busca de descanso.A mídia também tem sua parcela de contribuição nessa realidade. Emissoras de televisão tem sido coniventes com muitos comportamentos, principalmente naqueles demonstrados em telenovelas e programas de competição estilo “Big Brother”, onde o que vale é o prêmio e a vitória a qualquer preço. Ética e moral estão muito distantes dessa programação, pois há inclusive o incentivo para que os personagens hajam sem qualquer pudor em relação a esses valores.
Dessa forma, se pode tirar algumas conclusões a respeito desse comportamento observado. Será que estamos proporcionando aos nossos filhos um senso de valores condizente com uma sociedade justa e ciente de seus direitos e deveres?
E nesse caso específico, creio que a Escola Factum, através de sua diretoria, assumiu uma postura que merece reconhecimento: expôs os fatos e o nome da instituição sem qualquer receio.
É comum nesses casos a restrição à divulgação do nome da Escola na imprensa, o que não aconteceu. A agressão foi exibida em rede nacional, pois talvez assim se tenha a oportunidade de refletir sobre o futuro que queremos para nossas instituições, entre elas inclusive a família.E a coragem que demonstrou a pedagoga Jane Antunes, ao se postar em frente as câmeras e assumir seu papel de educadora, referendou o nome de uma instituição séria e com profissionais competentes no que fazem há quinze anos: a verdadeira Educação.
Um comentário:
Meu querido colega e amigo Jairo,
Estou no aeroporto de Curitiba vindo de Buenos Aires, via Assunção. Às 21h embarco com destino a Porto Alegre. Na Argentina acompanhei o triste e muito lamentável episódio da agressão a uma colega nossa. Como de escrevi de Buenos Aires hipoteco solidariedade a colega agredida e a todos professores e professoras da Factum. A direção da escola cumprimentos pela imediata eliminação do pérfido indivíduo.
Oxalá jamais tenhamos que repudiar atos semelhantes..
Com estima e admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br
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