11 junho 2011

INVERNO: MOMENTO DE REFLEXÃO

Este quem sabe é um final de semana dos mais frios deste ano de 2011. Os dias iniciais de junho, antes de valer mesmo o inverno a partir de 21 do corrente, prenunciam uma estação de temperaturas radicais. E quando essas temperaturas se tornam tão hostis a nós acostumados com a proximidade da linha equatoriana, normalmente nos aconchegamos ao gostoso ambiente do lar, consumindo mais alimentos em frente à televisão, o que redunda em uma maior camada de gordura acumulada. Por isso, esse também é um momento de pensar naqueles que não possuem as condições que alguns de nós possuímos: o conforto da comida e de um ambiente quente e aconchegante.

Isso também me faz refletir sobre o desperdício.

Começo pelo desperdício que muitos de nós acumulamos em nosso guarda-roupas. Você já se deu ao trabalho de realizar um 5S no guarda-roupas? Pois bem, dê uma olhada. Aquela calça que você mantem pendurada no cabide desde o inverno passado, e que já está com o tecido mais desgastado e a cintura apertada, certamente não fará falta. Aquela camisa um tanto desbotada pelo uso intenso nos últimos meses, também não será uma perda se você decidir doá-la a alguém que neste momento passa frio por falta de agasalho. Aquele sapato que você sequer tem tocado há mais de um semestre, e que já nem combina com suas roupas, está fazendo falta pra quem pisa no solado frio de um chinelo de dedos. Seja crítico com esse desperdício que entulha sua casa.

Quanto à comida, penso que muitos de nós temos exagerado no consumo. Basta observar os recipientes de lixo próximo de nossas casas, ou ainda, de quem convive em prédios de apartamentos e condomínios com uma população mais densa. Para se ter uma idéia regional do desperdício de alimentos, Porto Alegre tem um lixo composto por 57% de matéria orgânica, onde a maioria desses resíduos é oriundo de mesas de refeições. Ou seja, se tomarmos o lixo total produzido por dia na capital, cerca de 1,4 milhão de toneladas, aproximadamente mil toneladas são compostas de resíduos orgânicos. Ou ainda, de todo o lixo produzido, aproximadamente 15% são restos de comida. Mais ainda, cada um dos 1,4 milhões de habitantes portoalegrenses produz próximo de 1 quilo de lixo por dia, sendo 106 gramas composta de alimentos. Isso quer dizer que cada morador da capital envia 3,2 quilos de comida por mês para o lixo, ou 38,2 quilos por ano.

Mas parece que o desperdício ainda possui nuanças sutis e sedutoras que podem levar ao cometimento de pequenos delitos, de maneira irresponsável, mas, sempre, com justificativas plausíveis por parte do autor. E, em muitas dessas oportunidades, o transgressor vê-se imbuído de um direito de consumidor. É o caso dos desperdícios que ocorrem em restaurantes e churrascarias, nos tradicionais “rodízios” de carnes ou de massas, ou ainda nos conhecidos ‘cafés coloniais’, oferecidos a turistas na serra gaúcha, mostrando de maneira equivocada de como era / é a vida na colônia. A quantidade e variedade de pratos que compõem esses serviços parecem proporcionar ao consumidor um sentimento de poder diante de tal disponibilidade, caracterizado principalmente pelo uso e abuso.

O desperdício de comida se naturalizou na sociedade a partir do desenvolvimento de formas de conservação e estocagem mais eficientes. É o que diz Sérgio Schneider, professor do departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador nas áreas de Desenvolvimento Rural e Sociologia da Alimentação. Para ele há três fatores envolvidos no desperdício de alimentos. Primeiramente há uma cultura de abundância em nossa sociedade, ou o que se poderia chamar de Sociedade da Abundância. As sociedades primitivas não estocavam comida e por isso tinham a incerteza da busca pela caça e coleta. Nossas condições de conservação e estocagem alimentam a sensação de excedentes. Também não tivemos, principalmente no Brasil, períodos onde se convivesse com uma economia de tempos de guerra ou conflitos, como em outras nações. Segundo fator é que com o fim da Segunda Guerra Mundial, houve um incremento tecnológico na agricultura que proporcionou um abastecimento significativo de mercado. E o terceiro fator é a ineficiência constatada na cadeia produtiva de alimentos, onde há perdas por transporte, armazenagem e preparação da comida.

Segundo o professor Sérgio, a Sociedade da Abundância não é econômica e culturalmente preparada para a poupança, sendo perdulária e crédula na prodigalidade de forma geral. As perdas ocorridas no processo, pela falta de cuidado e pela falta de preocupação com o sistema produtor, são internalizadas e acrescidas aos custos.

Diante disso, cabe lembrar que tudo aquilo que muitas vezes desperdiçamos ou deixamos de utilizar de maneira egoísta, pode ser a solução para pessoas mais próximas que neste momento passam por sérias dificuldades. Sem contar que a fome é palavra constante de muitos de nossos intelectuais e demonstra o quanto esse mal que persegue os necessitados e desvalidos deve nos preocupar.

“A fome e a miséria terão que estar em todos os debates, palanques e comícios.” (Betinho)

“Quem está com fome fica surdo até mesmo à voz de Deus.” (Érico Veríssimo)

“O problema da fome mundial não é, por conseguinte, um problema de limitação da produção por coerção das forças naturais, é antes um problema de distribuição.” (Josué de Castro)

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.” (Mahatma Ghandi)

Pense Nisso!!!

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Professor Jairo,
leio tuas densas reflexões e uma vez mais aflora o que tem sido o cerne de tuas reflexões: o desperdício.
Escrevo na madrugada de segunda-feira e olho a quantidade de jornais amealhados no fim de semana e que vão ao descarte.
Muito o oportuno tua sugestão de fazermos reciclagem em nossos roupeiros. ¿Quanto do que ali está nunca mais será usado por nós? E...como isto poderá ser muito valorizado por outros!
A frase de Gandhi dá o tom para tua blogada para esta semana: “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.”
Obrigado por nos lembrares a pensar nisso,
Uma muito boa semana, com alguns momentos para reciclar nossas posses
atttico chasssot
http://mestrechassot.blogspot.com

Anônimo disse...

Boa tarde Prof. Jairo,

O Senhor entrevistou um dos colegas mais dedicados e especializados na segurança (não só do trabalho mas de vida também) que conheci.

Sua dedicação é exemplar, ele não despreza nenhum detalhe.

Minha área é administrativa, mas tenho como conceito conhecer todas a áreas e atividades dos locais onde trabalho e passei por uma visita a espaço confinado sob a supervisão do Chico Lopes, como ele é conhecido aqui no DEP, e garanto que não tive nenhuma preocupação quanto a minha integridade quando deixei a coordenação de minha segurança para ele.
Parabéns pela escolha do entrevistado e parabéns para o entrevistado que honra sua profissão.

Helio Oliveira
Coordenador da Unidade Administrativa do DEP
Helio.oliveira@terra.com.br