24 setembro 2011

PLANOS DE SAÚDE: UMA OUTRA VISÃO

Para nós, blogueiros de carteirinha, mantermos uma edição periódica no ar por mais de quatro anos requer uma postura hercúlea e comprometida. Para terem uma idéia, faz exatamente quatro anos e três meses que mantenho religiosamente um artigo por semana aqui neste espaço. Em alguns momentos sou acometido pela "síndrome do papel em branco" e nada flui na cabeça nestas horas. Também há semana em que parece ocorrer uma escassez de assuntos a tratar. Contrariamente, em outros períodos há uma avalanche de temáticas e assuntos que nos fazem adotar uma postura seletiva. E fica o temor de que nossos leitores, submetidos às nossas preferências, possam ser contrariados naquilo que gostariam de ler. Mas, infelizmente, não há escapatórias para essa ação um tanto mesquinha e egoísta.

Se semanas atrás tive dificuldades de eleger um assunto para comentar aqui com os meus fiéis leitores, esta semana é prenhe de fatos relevantes e intrigantes. Dentre eles alguns são quase impossíveis de passar imperceptíveis. Vejamos:

a) DILMA ROUSSEFF FALA NA ABERTURA DA ASSEMBLÉIA DA ONU

Poderia comentar aqui a importância de termos a primeira mulher a falar na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Nesta última quarta-feira, dia 21 de setembro, a presidenta Dilma Rousseff cobrou a união dos países no combate à crise econômica internacional e "lamentou" ainda não poder saudar a presença de um Estado palestino nas Nações Unidas. E isso é importante para a história do Brasil? Claro que é. Lembro perfeitamente quando nas aulas de História do Ensino Fundamental, quando ainda se chamava Ensino Primário, da importância de Rui Barbosa, nosso Águia de Haia, ao falar na Conferência de Paz em 1907. Isso foi alardeado por muitos anos pelos historiadores brasileiros. Pensei inclusive em trazer aqui o discurso da presidenta e comentá-lo. 

b) ALUNO ATIRA EM PROFESSORA E SE SUICIDA

Mais uma vez a educação assume papel de destaque no noticiário nacional, e mais uma vez de forma trágica. Nesta quinta-feira, dia 22 de setembro, um aluno do 4º ano do Ensino Fundamental disparou contra a professora Rosileide Queiros de Oliveira, 38, dentro da sala de aula. No momento do disparo, 25 alunos estavam na sala. O que mais impressiona é que o aluno não denotava qualquer tipo de comportamento que levasse à suspeita de algum transtorno psíquico ou coisa parecida. 

c) PALESTINOS QUEREM RECONHECIMENTO DA ONU COMO PAÍS MEMBRO

Os palestinos querem que o Conselho de Segurança das Nações Unidas decida sobre seu pedido de reconhecimento como Estado pleno no organismo dentro de duas semanas, disse uma autoridade da Fatah, do presidente Mahmoud Abbas, neste sábado. Se aceito, a Palestina seria o 194º Estado-membro da organização. Seria esse um outro tema a render muitas reflexões, já que os Estados Unidos se vêem acuados como membro com poder decisório na ONU e recentemente rememorando o evento de 11 de setembro.

d) MÉDICOS BOICOTAM PLANOS DE SAÚDE

A AMB (Associação Médica Brasileira) estima que 70% dos médicos aderiram à paralisação do atendimento a planos de saúde que atinge 23 Estados e o Distrito Federal nesta quarta-feira. Os médicos protestam contra parte dos planos de saúde, que não negociaram reajustes da forma desejada pelas entidades médicas nos últimos meses.

Com dificuldade confesso, foi difícil eleger o assunto. Mas desta vez me curvo ao tema que por inúmeras vezes tem ocupado o noticiário e que está descrito neste último item: os Planos de Saúde. 

E para embasar meu comentário trago aqui um artigo escrito pela Dra. Isabella Vasconcelos de Oliveira, pesquisadora da Unb e auditora médica da CAREPLUS, e que por ser da classe médica, possui muito mais competência para falar do assunto do que eu. Assim relata ela em seu artigo:

“Hoje, 21 de setembro de 2011, meus colegas médicos brasileiros que atuam como prestadores para operadoras de saúde suplementar participaram de uma paralisação nacional em defesa de seus honorários. Defendem uma remuneração mais justa, de R$ 60,00 pela consulta, o que, comparado a serviços prestados por outros profissionais, realmente não é muito.

Concordo que as tabelas de remuneração estão defasadas e admiro quem luta pela valorização do trabalho médico. Entretanto, da forma como a mídia anuncia o fato à população, as operadoras ficam parecendo as vilãs da história, enquanto que a classe médica ocupa a posição de vítima.

Nós que estamos dentro do sistema, sabemos que as coisas não são tão simples assim. Só quem acompanha o dia-a-dia de uma operadora de saúde suplementar, constata que a responsabilidade pela atual relação entre OPs e médicos é de todos e que a situação não é assim tão claramente fragmentada.

Venho repetindo ad nauseam que a principal responsável pela inflação da saúde é a classe médica. É a caneta do médico que solicita exames desnecessários, indica cirurgias quando o tratamento padrão é o conservador, pede próteses de marcas e medicamentos de alto custo dos quais recebe participações financeiras e atualmente até indica advogados a pacientes para que eles entrem com liminares, quando seus planos de saúde negam algum procedimento. Não estou dizendo que todos os médicos agem desse modo, sabemos que é uma minoria. Mas temos que parar de fingir que essas coisas não acontecem.

É claro que também sabemos por outro lado que existem OPs que praticam glosas lineares, ferem contratos e interferem na conduta médica.

Mas o que é exatamente interferir na conduta médica? É querer conversar com o colega quando ele solicita algo que nós, como auditores médicos consideramos sem evidencias ou desnecessário? Por que somente nós auditores temos que nos preocupar com o custo da saúde? Isso não deveria ser uma obrigação de todos???

Hoje, durante a tarde, indeferi uma solicitação de uma colega obstetra que pedia uma internação de véspera para uma cesárea numa gestante portadora de estreptococo do grupo B. Sua conduta médica estava corretíssima: pretendia fazer a profilaxia da infecção do recém nato pela bactéria presente na mãe com um antibiótico venoso. O problema: a operadora teria que pagar uma diária a mais por isso. Como a profilaxia é feita 4 horas antes do parto / cesárea, não vi justificativa para internação de véspera. Caso a paciente internasse às 7 da manhã, poderia ser operada na parte da tarde com toda a segurança. Diante da negativa, a colega médica entrou em contato comigo para tentar justificar sua solicitação. Havia agendado a cesárea eletiva para às 9 da manhã e então precisava que a gestante internasse na véspera. Então pedi que ela remarcasse a cirurgia para mais tarde, pois isso não justificava uma internação na véspera e ela argumentou que tinha consultório à tarde e não queria desmarcá-lo. Quando eu, educadamente disse que isso não era argumento que justificasse um incremento de custo para a operadora, a colega se enfureceu e disse: "Isso é um abuso. Você, como minha colega médica deveria entender que tenho meus compromissos". Pois bem, na cabeça da minha colega, os "seus compromissos" justificam a transferência do ônus para a operadora, e conseqüentemente para toda a carteira da empresa da paciente. Ela se acha coberta de razão e certamente engrossará a fila dos que dizem que as Ops interferem na conduta dos médicos.

Estou cansada de ouvir dos meus colegas que eles não têm que se preocupar com custo, mas sim com o paciente, pois precisam oferecer a ele o melhor atendimento possível. Correto. Mas e nós auditores de OPs, não estamos preocupados com os nossos beneficiários? Temos uma preocupação muito mais complexa que vai da saúde do paciente / indivíduo à saúde de todos os beneficiários de uma carteira. Pois quando um colega indica um procedimento desnecessário, são todos os beneficiários daquela carteira que pagam por ele (é o princípio do mutualismo). Quando será que a classe médica se conscientizará disso?

Para finalizar este belo dia, ouço no Jornal Nacional que o TCU auditou os hospitais federais no RJ e encontrou um rombo de 16 milhões de reais por desvios de verba. E o Governo querendo nos impingir um novo imposto para financiar o rombo da saúde pública....

Algo está errado com o mundo ou estarei ficando louca??????”

Ao analisarmos mais friamente esta relação Planos de Saúde x Classe Médica é possível admitir que há mais do que imagina nossa vã filosofia por detrás das queixas médicas e da população. Pense bem! Você já refletiu a respeito da quantidade de exames que os médicos nos pedem a cada consulta, sem sequer encostar a mão no paciente para um exame inicial mais detalhado? E quantas vezes somos obrigados a peregrinações intermináveis em clínicas de avaliação, para que através dos laudos o médico consiga concluir qual o mal que nos aflige? Mas o que aprenderam esses “doutores” nos bancos escolares, se os auditores que rejeitam exames desnecessários e próteses onerosas pertencem à mesma classe daqueles que os solicitaram? Não estará aí a razão dos preços atuais dos Planos de Saúde e da resistência destes na adoção de determinados procedimentos considerados abusivos? Nem vou comentar aqui sobre aqueles médicos que viajam e passam férias no exterior às custas de laboratórios e tantos outros fornecedores, inclusive destas próteses relatadas pela Dra. Isabella.      

2 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
realmente tens nesta edição uma assemblage de bons assuntos, mas aquele dos ‘planos de saúde’ surpreende.
Uma boa semana de estreia na primeira semana da primavera de 2011 e parabéns por mais esta blogada que não teve a síndrome da tela por desvirginar (versão pós moderna para a pane da folha em branco),
attico chassot

Anônimo disse...

Estive pesquisando na Internet tentando encontrar idéias sobre como obter o meu blog pessoal codificado, o seu atual estilo e tema são maravilhosos. Você código de sua própria ou você contratar um programador para fazê-lo para você pessoalmente?