01 outubro 2011

PRESSÕES ANORMAIS E ESPAÇO CONFINADO

A semana que termina neste início de outubro foi plena de atividades educadoras no espaço das Escolas Cristo Redentor e Factum, onde há quase cinco anos estou inserido como docente dos cursos Técnicos de Segurança do Trabalho. Num primeiro momento, a quinta-feira, dia 29 de setembro, nos reservou a presença do Professor Gustavo Oliva, do IPA Metodista, que falou aos alunos da Escola Técnica Cristo Redentor sobre as Pressões Anormais. Depois, na sexta-feira, dia 30 de setembro, marcou presença na turma TS205 da Escola Factum, o engenheiro de segurança do trabalho do Departamento de Esgotos Pluviais da Prefeitura de Porto Alegre e coordenador da Equipe de Monitoramento em Espaço Confinado (EMEC) daquele órgão, Luiz Francisco Pedroso Lopes, para falar de seu trabalho e da importância da segurança do trabalho nestas atividades. Foram dois momentos muito importantes na aquisição de conhecimento e na troca de informações, onde a prática se aproxima da teoria e enriquece o ambiente da sala de aula, e que passo agora a relatar resumidamente.
 
PRESSÕES ANORMAIS

Na Escola Técnica Cristo Redentor, o professor Gustavo Oliva iniciou sua fala destacando o papel relevante que desempenha o diafragma na respiração humana. Segundo ele, o diafragma é responsável pelo movimento de nossos pulmões na absorção do oxigênio. Para a respiração humana o importante é a pressão atmosférica que faz com que o ar seja insuflado em nossos pulmões. Portanto, se analisarmos como o corpo humano realiza o processo de respiração, tudo é uma questão de diferença de pressões.

Quando subimos uma estrada em direção a uma região serrana, deixando o nível do mar onde nosso organismo está acostumado àquele tipo de atmosfera, somos submetidos a um ambiente rarefeito. Isso não quer dizer que haja deficiência de oxigênio nestes lugares. Mas sim, que ocorre uma redução da pressão que empurra o ar para dentro dos pulmões. Alguns lugares são famosos pela altitude e pelas pressões hipobáricas que impõe às pessoas que para lá viajam: Cidade do México e La Paz. A primeira possui uma altitude de 2.240 metros acima do nível do mar e a segunda 3.636 metros acima do nível do mar. Nestas cidades os efeitos do ar rarefeito são muito peculiares. Segundo Gustavo Oliva, quando as pessoas mudam-se para estas cidades, o organismo se adapta desenvolvendo um numero maior de hemoglobina, responsável pelo transporte do oxigênio no sangue. Mas isso não ocorre imediatamente. É um processo gradativo e que demora várias semanas. E são essas pressões que podem ser consideradas agentes de riscos físicos para os trabalhadores envolvidos em atividades executadas em grandes altitudes, especialmente os pilotos de aeronaves e comissários de bordo. 

Quanto às pressões hiperbáricas, elas estão presentes nas atividades de profundidade, como aquelas desenvolvidas por mergulhadores. Nestas atividades a pressão do ar aumenta, pois a coluna de água em torno do corpo dificulta a respiração. Na verdade, segundo o professor Gustavo, as células de forma geral são submetidas a grande pressão e acabam reduzindo seu volume. Por isso é necessário insuflar uma quantidade de ar sob pressão, para que o pulmão consiga resistir a pressão exercida pela coluna de água. Desta forma, o ar do cilindro de oxigênio utilizado pelo mergulhador está sob uma pressão bastante alta, pois é preciso expandir o pulmão para adaptá-lo àquela profundidade. E isso cria um grande risco: se o mergulhador necessitar voltar à superfície poderá ter o pulmão esfacelado. Por isso, esta subida deve ser gradativa e não repentina, de forma que a descompressão seja possível e evite acidentes como a embolia pulmonar.

ESPAÇO CONFINADO EM PORTO ALEGRE
Num segundo momento importante desta semana plena de novos conhecimentos, na sexta-feira, dia 30 de setembro, na Escola Factum, o engenheiro Luiz Francisco, trouxe toda sua experiência a frente da Equipe de Monitoramento em Espaço Confinado nas galerias pluviais da capital gaúcha.

Durante toda sua fala, Luiz Francisco trouxe um comparativo do uso da NR33 – Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados e sua adaptação para uso naqueles locais, as galerias pluviais de Porto Alegre. Luiz é crítico da inexistência de uma legislação de segurança do trabalho que ampare os servidores públicos. Para ele, já passou da hora de o poder público, em todas as suas esferas administrativas, definir uma legislação específica para os trabalhadores estatutários. Na Prefeitura de Porto Alegre são 20.800 servidores ativos, sendo 76% deles estatutários e que muitas vezes ficam desamparados pela ausência de legislação específica. Todo esse contingente, assim como os demais estatutários país afora, deveriam ter uma legislação específica bem como um órgão fiscalizador encarregado da aplicação. Ou seja, Normas Regulamentadoras adaptadas, orientação e fiscalização (Repartição Pública ou Órgão de Saúde e Segurança do trabalho) para os servidores estatutários.

Os espaços confinados onde são desenvolvidos os trabalhos da Equipe EMEC de Luiz Francisco são as galerias pluviais e os equipamentos de drenagem, responsáveis pelo amortecimento das águas em períodos de pluviometria intensa. São dutos com diâmetros internos variáveis entre 10 centímetros e 2 metros e vinte, muitas vezes de formato quadrado ou retangular de uma ou mais células paralelas.

Na seqüência ele mostrou como são realizadas as “vistorias técnicas” nas galerias pluviais ou mistas de Porto Alegre. Também trouxe mapas de alguns lugares da capital gaúcha que são totalmente desconhecidos para muitos de nós, que somente olhamos a parte superficial da cidade, e esquecemos que há um complexo emaranhado subterrâneo de túneis e galerias debaixo de nossos pés.

Por fim, Luiz Francisco trouxe-nos uma curiosidade. Destacou sua participação no filme “Amores Passageiros”, que teve parte das filmagens rodadas numa das galerias da cidade, onde atuou como “dublê” do ator Osmar Prado. O filme deve ser lançado a nível nacional nos próximos meses e Luiz Francisco prometeu avisar-nos sobre o lançamento.

Portanto, foram dois momentos onde estivemos envolvidos com o conhecimento e comprovando que é possível tornar a sala de aula um ambiente rico de experiências e de aproximar a prática da teoria.    

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
estes quase cinco anos que estás inserido como docente dos cursos Técnicos de Segurança do Trabalho das Escolas Cristo Redentor e Factum fazem diferenças no que é overecido aos docentes e discentes das mesmas.
Vibro com o teu vibrar.
Parabéns desde Ponta Grossa.

attico chassot