23 fevereiro 2013

O PODER DO CORONEL CALHEIROS


Promessa feita, promessa cumprida!

Renan toma posse da presidência do Senado
pela segunda vez
Na semana que passou anunciei que nesta edição traria um pouco da história deste profissional da política brasileira, José RENAN Vasconcelos CALHEIROS e da perpetuação do clã nos recônditos da política nordestina. Nascido em setembro de 1955, no distante município de Murici, na zona da mata alagoana, seduzido pelo poder e pelas benesses que dele advém, como a grande maioria de nossos políticos, está no cargo de Senador desde 1994. Ou seja, são mais de 18 anos na casa legislativa federal. Até porque, o mandato de senador é de 8 anos.

Já exerceu a presidência da casa no período de 2005 a 2007, quando renunciou por denúncias de corrupção, evitando desta forma a cassação do mandato por quebra de decoro parlamentar. Um dos fatos que mais chamaram a atenção naquela época, foi a constatação de que o empresário Marcelo Gontijo, da Construtora Mendes Junior, pagava a pensão e o aluguel da jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha fora do casamento. Com a renúncia o caso foi abafado e ficou no esquecimento, comportamento peculiar dentro do corporativismo que impera nestas instituições.
Remi Calheiros, irmão de Renan, e Olavo Calheiros Neto,
seu sobrinho, são prefeito e vice-prefeito de Murici - AL  

Mas o que me chamou a atenção, ao pesquisar a vida pregressa do novo presidente do Senado, foi ver a influência da família Calheiros na região de onde é originária. Bem ao estilo “coronelista” da ascendência lusitana, a família Calheiros espalha seus tentáculos por todo território alagoano, com raízes profundas na pobre Murici das Alagoas. Ali se pode constatar o poder deste coronelismo, e de como o público se confunde com o privado (ou como o privado se aproveita do público).

Minha fonte, neste caso, foi o artigo-denúncia “Os donos do Senado”, do Professor Marco Antonio Villa, da Universidade São Carlos ( disponível em http://oglobo.globo.com/opiniao/os-donos-do-senado-7611301). Segundo o professor, os Calheiros dominam a prefeitura há mais de uma década. Atualmente, o prefeito de Murici é o irmão de Renan, Remi Calheiros. E já pela quarta vez ocupa o cargo. O vice na prefeitura é sobrinho de Renan, Olavo Calheiros Neto. Aliás, o pai e também irmão de Renan, Olavo Calheiros, é deputado estadual em Alagoas, e ficou famoso por agredir um integrante do programa CQC, ao ser perguntado sobre o sumiço de 5 milhões de reais da Assembleia Legislativa, de que é acusado. E tem mais. O filho de Renan, cujo orgulho é possuir o nome de seu progenitor, e por isso se chamar José Renan Vasconcelos Calheiros Filho, exerce o cargo de deputado federal na atual legislatura em Brasília, pelo mesmo partido do pai, o PMDB.
Olavo Calheiros, irmão de Renan, é deputado estadual
em Alagoas e agrediu o repórter do CQC

Mas, voltemos à Murici dos Calheiros, como ressalta o professor Villa. Possui um analfabetismo de mais de 40% entre seus 26 mil habitantes e um índice de pobreza de 74,5% da população, com 41% recebendo mensalmente até um quarto do salário mínimo. Não seria de surpreender a todos nós que a maioria destas famílias fossem dependentes dos programas sociais do governo federal, como o Bolsa Família, cuja ajuda tem resgatado pessoas da miséria extrema. E o programa em Murici tem o cadastro controlado, como em todo o país, pelo executivo municipal. Pois foi aí, que me impressionou um dado levantado pelo professor Villa. O cadastro do Bolsa Família em Murici é controlado por nada mais nada menos que Soraya Calheiros, esposa do prefeito Remi Calheiros, portanto, cunhada de Renan Calheiros.

Renan Calheiros Filho é deputado federal por Alagoas
Pois quando ouvi Renan Calheiros em seu discurso de posse como presidente do Senado, no último dia 04 de fevereiro, me pus a pensar o quanto ainda temos de evoluir na ciência política, para que nossas escolhas sejam realmente de pessoas comprometidas com a sociedade e seu bem estar. Ao tomarmos alguns excertos de sua fala se pode comprovar a diferença substancial entre o discurso e a prática. E é isso que devemos ter em mente durante a solitária e individual tarefa de depositar o voto consciente na urna a cada pleito.

1)   Me refiro à reforma tributária e à reforma política. Temas sempre tão candentes e que, mais do que nunca, merecem prioridade absoluta.
 
2)   O que iremos discutir aqui nos próximos meses são as propostas e soluções para um crescimento sustentável, igualitário e justo.

3)   Estou certo que nossa conduta estará pautada, como sempre foi, pelo bem comum e patriotismo na busca de igualar as oportunidades, continuando a distribuir renda e minimizando a pobreza.

Soraya Calheiros, casada com o irmão de Renan e prefeito
de Murici, controla o Programa Bolsa-Família no município
 
4)   Mesmo que estejamos em situação de menor vulnerabilidade é necessária uma fiscalização permanente para não perdermos as conquistas da economia dos últimos anos, que beneficiaram especialmente os mais pobres.
 
Embora todo o cuidado nas palavras proferidas durante seu discurso de posse, Renan e o Senado jamais deram prioridade à reforma política (trecho 1), pois o corporativismo impede essa pauta. Quanto ao crescimento igualitário e justo (trechos 2 e 3), quem se apossa de recursos públicos no pagamento de despesas pessoais dificilmente está imbuído de intenções de patriotismo, de igualar oportunidades, de distribuir renda ou de minimizar a pobreza. E a fiscalização ressaltada (trecho 4) deveria sim, ser intensificada na correta e responsável utilização das verbas públicas, principalmente por parte dos nossos representantes no Congresso Nacional.

Para quem quiser uma maior aproximação com o senador, aqui vão seus contatos, com dados extraídos da página oficial do senado brasileiro (www.senado.gov.br):

Senador Renan Calheiros
nome civil: José Renan Vasconcelos Calheiros
data de nascimento: 16/09/1955
partido / UF: PMDB / AL
naturalidade: Murici (AL)
endereço parlamentar: Anexo I - 15º andar
telefones: (61) 3303-2261/2263
FAX: (61) 3303-1695
correio eletrônico: renan.calheiros@senador.gov.br 


Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
Ao chimarrear do ultimo domingo de fevereiro, leio teu elucidativo texto acerca do clã Calheiros. O torpe não ê existir esta família. O doloroso ê os senadores brasileiros, mesmo com o protesto de milhões fazê-lo presidente do Senado!
achassot
PS: quando se lê o blogue se instala um fundo "Love" que dificulta a leitura!