08 agosto 2014

O PREÇO DA FAMA

Fãs enlouquecidas tomam aeroportos e chegam mais cedo nos
shows para estarem próximas de seus ídolos
Quem nunca um dia não pensou em ser famoso? Ganhar muito dinheiro e viver “paparicado” por fãs o tempo todo? Esse é o grande desejo de artistas, esportistas, modelos e outras profissões em começo de carreira.

Todavia, ser figura pública implica também certas responsabilidades. Associar a imagem a algum produto, alguma marca ou algum tipo de serviço requer uma avaliação mais detalhada dos resultados que esta decisão pode trazer em futuro breve. E o artista conhecido recebe inúmeras solicitações para encher a conta bancária, com cachês de todos os portes. Foi o caso recente do cantor Roberto Carlos e de um dos maiores grupos frigoríficos mundiais, a JBS detentora da marca Friboi, que fechou contrato cuja especulação dá conta de algo em torno de 25 milhões de reais. Mesmo assim, o cantor símbolo da jovem guarda dos anos 60 continua sendo “vegetariano”. Similar ao caso, a apresentadora Fátima Bernardes também não resistiu aos clamores da marca Seara e embolsou cerca de 5 milhões de reais. Apesar de não comprometerem suas imagens, observei um certo descrédito de meus amigos com relação a estes famosos depois de  exporem nestes comerciais de gulodices. Alguns amigos sugeriram que tanto Roberto quanto Fátima não acreditavam nas marcas, mas buscavam somente os valores. Roberto realmente não come carne, e Fátima parece não ter muita paixão pela cozinha, local em que aparece no comercial. 
Roberto Carlos e Fátima Bernardes são os mais recentes
Garotos-Propaganda da indústria frigorífica

Na década de 1970, um jogador de futebol se tornou famoso nacionalmente por sua participação na seleção que venceu a Copa do Mundo do México.  Foi convidado para uma peca publicitária e aceitou fazer comercial de uma marca de cigarro. Lembro bem, foi uma campanha que tomou as telas de todas as emissoras do país. O meia esquerda Gerson da seleção, e do Clube de Regatas Botafogo do Rio, foi garoto propaganda da empresa J. Reynolds, fabricante da marca Vila Rica. Jamais imaginaria ele consolidar um princípio conhecido até hoje, a “Lei de Gérson”, pois na fala o mesmo dizia “gostar de levar vantagem em tudo”. E por tal afirmação, nos dias atuais, quando uma pessoa demonstra querer levar vantagem em tudo, se diz ser a mesma adepta da tal lei. Portanto, o personagem virou “vilão” pela decisão tomada em associar sua imagem e seu nome ao produto e, principalmente ao texto sugerido pela empresa de publicidade.

Jogador Gérson paga até hoje um alto preço
por associar sua marca inadequadamente
Atualmente outros famosos também tem se descuidado, ao associarem sua imagem e seu nome a determinadas marcas. Apesar dos valores embolsados. Há pouco tempo, o ex-craque Ronaldo Nazário, ao se envolver com “travestis” em baladas, acabou tendo sua imagem vilipendiada e ameaçada pelo patrocinador. Todas as explicações trazidas não foram suficientes para evitar um certo afastamento de fãs e admiradores.

No mundo televisivo, principalmente o das novelas, a imagem de artistas está diariamente em contato com o público. Isso determina uma grande invasão da privacidade destas pessoas. Qualquer visita ao cabeleireiro, compra em supermercado ou comparecimento à Escola para buscar os filhos, pode se tornar um martírio. As solicitações de “pousar para uma foto” ou “dar um autógrafo” são comuns como exigência dos fãs. E ninguém como fã admite seu artista “mal humorado”. Foi o que ocorreu recentemente com o casal Angélica e Luciano Huck ao chegarem no aeroporto de Guarulhos vindos de uma temporada de férias. Ao serem flagrados, foram motivo de várias solicitações pelos fãs, e que, não atendendo os clamores destes, acabaram como manchete de revistas em todo o país.

Os apresentadores Luciano Huck e Angélica foram motivo de
crítica por terem desprezado seus fãs no aeroporto
Mas retomando a questão das novelas, creio que estes famosos da televisão acabam influenciando em muito seus fãs e telespectadores. Seja pelo jeito que agem, que reagem, que se vestem, que se comportam, etc e tal. Os ídolos são referenciais na concepção principalmente dos adolescentes, que nesta idade buscam padrões de postura e comportamento. Creio que ai reside mesmo a grande responsabilidade do artista, do famoso. E desta forma, o verdadeiro artista é aquele que não se vende tão fácil para qualquer emissora; que não aceita inconteste qualquer papel a ser desempenhado. Sabedores da influência que exercem sobre o comportamento da população, porque tem consciência de que adentram os lares brasileiros diariamente sem pedir permissão, escolhem minuciosamente os papeis que irão desempenhar.

Mas parece que isso não ocorre com todos os famosos. Recentemente, a atriz Débora Falabella aceitou ser garota propaganda do governo de Minas Gerais, o que lhe rendeu um grande constrangimento. O texto produzido para leitura durante o comercial, segundo o sindicato dos trabalhadores em educação do estado mineiro, estava repleto de “inverdades”. Tanto que o Sindutemg – Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais resolveu publicar em vários órgãos de imprensa uma Carta Aberta à atriz. 


Veja o comercial em que participou a atriz Débora Falabella e que causou polêmica

Também a professora mineira Ana Soares Guida, indignada com o que ouviu na peça publicitária gravada pela atriz, não só escreveu-lhe uma mensagem, como anexou seu contracheque para provar o que dizia. Leiam a mensagem enviada pela professora à atriz:
        
"Querida Débora Falabella:

Às vezes vale a pena recusar alguns trabalhos apenas para não queimar seu filme com milhares de fãs. Às vezes vale a pena procurar mais informações sobre o personagem que você vai representar.

Milhares de PROFESSORES, ALUNOS E COMUNIDADES foram extremamente prejudicados pelo governante [...] que atualmente governa Minas Gerais.

Segue em anexo o MEU CONTRACHEQUE de setembro para demonstrar um pouco do que estou falando (este foi apenas um mês, se quiser posso te mandar os outros).

O mesmo que aconteceu comigo, aconteceu com centenas de milhares de outros professores, pais de família que não tiveram como colocar comida na mesa porque o governador acreditou que podia cortar cada centavo do nosso salário e o fez.

Então, querida, não me venha falar de coisas que não sabe, demonstrando um conhecimento de causa que, na verdade, DINHEIRO NENHUM JAMAIS TE DARÁ.
O contracheque enviado pela professora Ana Soares para a atriz
(clique para ampliar)
Portanto, ser famoso e estar exposto ao público pode ter um grande glamour, e traz facilidades de se auferir valores por esta exposição. Todavia, selecionar as oportunidades talvez seja das maiores dificuldades de uma carreira de fama, pois se pode ir “do céu ao inferno em pouco tempo” por uma escolha mal feita. Nem sempre se pode “levar vantagem em tudo”, como cria o nosso querido Gérson, “canhotinha de ouro” da seleção, e que acabou virando adágio popular.  

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
de teus muitos exemplos pinço apenas um: é incompreensível o que fez Roberto Carlos. Ele reivindica a volta à censura.
Pessoas públicas podem ter narrada sua vida pública.
Sua atitude com seu biógrafo é fã foi um desserviços aos estudos biográficos.
Obrigado por tantas informações que criticamente nos ofereces a cada semana
attico chassot