30 agosto 2014

PROMESSAS DE CAMPANHA

Éramos investidos de algumas
responsabilidades desde cedo
Houve um tempo em que se falava muito dos nossos deveres. Lembro muito bem de meu pai e minha mãe, cobrando a mim e meu irmão do quanto devíamos nos dedicar aos estudos e buscar aprender o que a escola nos ensinava. Ressaltavam a necessidade de sermos muito melhores do que eles, em termos de conhecimento e de formação, facilitando assim o futuro de cada um. Havia uma percepção e uma preocupação de não passarmos pelas mesmas privações que eles enfrentaram quando vieram do campo para a cidade. A isso poderíamos chamar de “responsabilidade”, e que deveríamos assumir desde cedo.

As alternativas de acesso à educação eram escassas. Pouco havia de politicas públicas para a educação, para a saúde, para a segurança e demais áreas. Nos anos 50, 60 e 70 do século XX, ainda se buscava melhorar sobremaneira a infraestrutura dos núcleos urbanos, sem contar que estávamos sob os desígnios de um regime ditatorial que sequer ouvia os reclames da população.

1988: Ulisses Guimarães apresenta a nova constituição
Passado o regime dos militares, a constituição de 1988, denominada “constituição cidadã”, retomou uma liberdade sonegada por mais de vinte anos. A Carta Magna reconheceu a todos alguns princípios de direitos até então desconhecidos. Houve uma transformação na sociedade brasileira.

Pois os tempos se passaram e governos se sucederam. Chegamos ao século XXI, com inúmeras alternativas e facilidades que outrora jamais imaginávamos. Não há como deixar de reconhecer a quantidade de programas de governo que amparam as populações que antes viviam marginalizadas. Programas estes capazes de elevar pessoas a ascenderem socialmente, saindo de extratos de miséria para classes mais dignas. E isso tem ocorrido nos últimos anos sem qualquer sombra de dúvida.

Não sou declaradamente um adepto do partido dos trabalhadores, mas reconheço nele este esforço em melhorar as condições de vida das populações mais carentes. Ou seja, um governo que tem dedicado atenção especial a estas classes. E isso pode ser constatado em muito lugares: supermercados, cinemas, shoppings, aeroportos e, principalmente, nas escolas. Este fenômeno ocorreu ao longo dos governos petistas, apesar das inúmeras críticas relacionadas aos desvios de verbas públicas em prol de sua manutenção, como o caso do “Mensalão”.
Delfim: "o bolo deve primeiro crescer, para depois
ser distribuído"

Mas eu, que tenho mais de um cinquentenário de existência, já vi muito governo passar pelo poder com parcos benefícios à população. E olha que não foram poucos. 

No tempo da ditadura, que não era de se esperar muito neste sentido, havia um ministro da economia chamado Delfim Netto, que apregoava em todas as entrevistas que “o bolo deveria crescer, para depois ser distribuído”. E assim ficamos por anos e anos, esperando o bolo crescer, coisa que nunca aconteceu. Aliás, ele crescia, mas quando era distribuído, a gente só ficava sabendo tarde demais. Quem o devorava era a elite brasileira. Houve ainda um outro tempo em que se falava que o Brasil era “um país do futuro”, e nós acreditávamos nisso. Ficamos esperando por décadas e décadas, e o futuro nunca chegava. Depois, já no período democrático, um outro partido teve o mérito de estabilizar a moeda, às custas de um programa econômico que mudou definitivamente a moeda para esta que conhecemos até hoje, o real. Todavia, liquidou muitas riquezas nacionais, principalmente empresas estatais cuja lucratividade causou estranheza pela venda, como a Vale do Rio Doce. Recentemente, uma denuncia sob a forma de publicação [A Privataria Tucana – do jornalista Amaury Ribeiro Jr.] trouxe à luz algumas irregularidades destes programas de privatização ocorridos naquele governo.
As privatizações irregulares denunciadas
por Amaury Ribeiro Jr.

Pois bem, o governo atual, entre outras ações, estabeleceu a educação gratuita em muitos níveis, proporcionando à maioria da população a formação sem custos. Basta que se tenha boa vontade e responsabilidade. Aliás, dois ingredientes fundamentais para quem quer transformar a vida. E disso eu sou testemunha, pois já estou na profissão docente há quase duas décadas.  

Mas o que me chamou a atenção essa semana foi o programa de um certo candidato a presidente, que debatia com estudantes a causa de não terem concluído o ensino médio. Fiquei curioso para saber por quais motivos aqueles estudantes haviam abandonado os bancos escolares, já que esta tem sido uma preocupação nossa enquanto docentes do Ensino Técnico, principalmente depois da gratuidade do Pronatec. E diante de inúmeras justificativas dos estudantes, muitas imponderáveis, fiquei pasmo ao ouvir o candidato dizer que, se eleito presidente, iria criar um programa “Poupança Jovem”, idêntico àquele criado quando governou o estado mineiro recentemente. Ou seja, vai pagar para que os estudantes frequentem a escola que já é gratuita. Tem cabimento?
O candidato a presidente conversa com estudantes na Bahia

Tracei um comparativo com as décadas em que meu pai e minha mãe garimpavam recursos para irmos a Escola, e que nos imputavam a responsabilidade que tínhamos na busca de uma formação condizente com o que o futuro nos exigiria. 

Mas, agora, pelo que vejo, esta responsabilidade está sendo jogada para a sociedade como um todo. Ou seja, não são mais as pessoas que devem ter a responsabilidade de construir o seu futuro? 

Concordo plenamente com os programas que oferecem oportunidades iguais a todas as classes. Mas convenhamos; eximir de responsabilidades nossos estudantes desta forma, utilizando verba pública para incentivar a lassidão e o desleixo é uma grande irresponsabilidade. Vamos tomar cuidado com estas promessas de campanha.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
neste quase ocaso de domingo leio a edição semanal de teu blogue.
Realmente, ouvir no rádio, as peças publicitárias de campanha, faz em muitos momentos pensar que estamos ouvindo um programa de comédias. Tem até ‘O gauchinho de Deus’ para salvar o Rio Grande do Sul. Estamos muito mal. Aliás, foste tu, que já em outra eleição denunciaste o partido da RBS Rádio Boba do Sul. Corremos o risco de elegerem a governadora e o senador. É incrível como aqueles que ocupam microfone tem o poder de convencimento.
Com admiração de teus blogares,
votos de boas reflexões a teus leitores.