23 agosto 2014

GENTE QUE AMA O QUE FAZ

Na educação básica se deveria orientar para a profissão
Sempre tive a impressão que há uma falha na educação básica de nossos alunos, e que dificulta a eles tomar decisões quanto à profissão que irão seguir. Observo uma quantidade enorme de pedagogos defendendo a tese de que se deve deixar esta decisão ocorrer naturalmente, na medida em que o aluno evolui em sua formação. Mas quando estes alunos tem de se decidir qual curso técnico ou superior devem cursar, a maioria é acometido de uma cruel indecisão.

Acredito que, se houvesse uma antecipação da educação básica, no sentido de encaminhar os alunos dentro das especificidades e preferencias, e que isso pudesse ser observado como um laboratório na adolescência, o sofrimento seria reduzido nas etapas posteriores.

Todavia, o que mais importa mesmo é desempenhar um ofício que nos dê prazer, que nos sintamos úteis naquilo que fazemos. Só assim sentiremos satisfação a cada dia, a cada manhã, a cada segunda-feira.

Tenho visto muitas pessoas infelizes no que fazem, com uma expressão cansada. É como se carregassem um fardo muito pesado, que lhes compromete a saúde e traz muito infortúnio. As vezes, fico pensando que estas pessoas estão ocupando cargos aos quais, se fossem proporcionados a outras, certamente o desempenho seria muito melhor. Então porque não se afastam destas profissões? Já que lhes é tão árdua a tarefa diária?

A recepção das empresas é um bom lugar para se observar
comportamentos e atitudes
Outro dia estava numa empresa, aguardando para ser atendido pelo gerente da qualidade. Sentado no sofá da recepção se pode ouvir e aprender muito a respeito do grau de satisfação e de desprazer naquilo que as pessoas fazem. Conversavam dois vigilantes de uma empresa terceirizada, contratada para aquela atividade. Um deles declarava estar realizando curso técnico de segurança do trabalho, porque já percebera que o cuidado da saúde alheia lhe trazia satisfação. E que, portanto, se decidira investir na profissão. Já o colega, como um urubu agourento, lhe induzia a desistir do intento. Fazia questão de trazer exemplos de amigos que fizeram o mesmo e que se decepcionaram. Que o salário não era tão atraente assim, e que essa profissão trazia muita responsabilidade e pouco reconhecimento por parte da empresa. E prá reforçar o seu agouro, emendou: “Se eu fosse você, apanhava esse dinheiro e saia a viajar e conhecer o país!”

Ali estavam duas pessoas de comportamentos bem díspares, uma otimista e bem intencionada, outra pessimista e de visão reduzida. É isso que muitas vezes encontramos por aí.

Dona Matilde, distribuindo diariamente o jornal no viaduto Obirici
Mas o que mais me chama a atenção são as pessoas que são felizes em seus afazeres, que amam suas profissões. Elas possuem tanta satisfação no que fazem que não se deixam abater por nada. Dificilmente se ausentam de seus postos, pois sabem o quanto são importantes em suas tarefas. Sabem que estar ali faz uma grande diferença. Elas sentem orgulho daquilo que realizam.

E nisso quero trazer dois exemplos que observei inúmeras vezes, por muitos meses, quem sabe, anos, e agora se fazem presentes nesta edição.

Um deles é a Dona Matilde, que distribui jornal no viaduto Obirici todos os dias. Pulando e saltitando por entre os veículos, sempre com alegria radiante estampada no rosto, ela não falha uma manhã. Passo por ali todos os dias, quando vou à Escola Técnica Cristo Redentor, no meu fazer docente.  Jamais percebi uma expressão de cansaço, de mau humor na Dona Matilde. A todos contagia o seu cumprimento vigoroso de “bom dia”, como se conhecesse a cada um de nós ali aflitos pelo sinal verde do semáforo. Entrega a cada motorista que abre o vidro a edição matinal de seu jornal. Fico a imaginar quantos problemas pessoais esta senhora não deve ter.

Gilberto da Roan, uma parceria de muitos anos
Outro exemplo que tem me chamado a atenção há muito tempo, é o Gilberto, proprietário da empresa Roan de Canoas, que comercializa equipamentos de proteção individual. Temos uma parceria, eu e o Gilberto, há muitos anos. Levo meus alunos iniciantes no curso técnico em segurança do trabalho, de todas as escolas, para conhecer as instalações da empresa do Gilberto. Jamais obtive um “não” em minhas solicitações de visitas. Impressiona a amabilidade do Gilberto e de toda a sua equipe. Apesar de ser um sujeito bastante ocupado, o Gilberto não se furta em nos atender e disponibilizar tempo e explicações sempre que vamos à Roan. O sorriso sempre esteve estampado em seu rosto, demonstrando a grande satisfação que possui naquilo que faz. Um outro grande exemplo de pessoa que ama o que faz.

Portanto, se você está insatisfeito com sua profissão, com aquilo que faz, que tal repensar seu futuro? Ainda é hora de dar uma guinada e navegar em outros oceanos. Quem sabe outros mares lhe trarão mais alegria e satisfação. É hora de decidir, pelo menos enquanto ainda é tempo. O que não se pode é estar a toda hora imputando culpa aos outros, como se eles fossem responsáveis pelo seu fracasso.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu Caro Jairo,
segunda parte do texto excelente.
Discordo da primeira. Penso que não devemos acelerar a escolha. Nem dona Matilde nem o Gilberto escolheram o que são no ensino fundamental.
Há acidentes que definem algo que se transformam em escolhas promissoras. Um exemplo: em mestrechassot.blogspot.com do dia 22 de agosto, sexta-feira
Com estima e admiração