11 outubro 2014

ME ORGULHO DA SOCIEDADE EM QUE VIVO

Quem não tem orgulho da sociedade em que vivemos? Se comparada a outras que nos antecederam, temos um conhecimento acumulado que permite desfrutar de inúmeros confortos. Não é necessário nem desfiar o rol de benefícios que o ser humano, através do uso da mente, foi capaz de criar nestes séculos. 

A Guerra do Fogo mostra a evolução das sociedades humanas
Toda vez que inauguro uma das turmas de Tecnologia Industrial do curso técnico em segurança do trabalho, para criar uma consciência crítica nos meus alunos, costumo exibir “A Guerra do Fogo”, epopeia humana transformada em película para a tela grande pelo diretor Jean Jacques Annaud, no ano de 1981. O filme mostra algumas sociedades pré-históricas convivendo com as grandes dificuldades de nossos primórdios, como a falta de habitação, a escassez de alimentos e os perigos da convivência com os animais selvagens sem a posse de armas e ferramentas tão eficientes como as que conhecemos. O uso, a preservação e a disputa pelo fogo é o grande fio condutor da produção francesa, de excepcional qualidade. [Aliás, esse recurso me foi primeiramente apresentado pelo professor Chassot em nossas aulas do Mestrado em 2006.]

Estação de Transbordo da Lomba do Pinheiro
Ao longo da trilha se pode perceber o quanto evoluímos desde então. Tribos de vários matizes de conhecimento vão surgindo dentro da trama, algumas detendo conhecimento parco e mais adeptas da violência como meio de sobrevivência, outras mais determinadas em buscar soluções racionais para as dificuldades do dia-a-dia. 

Mas e atualmente? Até onde chegamos? Somos realmente tão avançados quanto supomos? Podemos nos considerar o supra sumo das sociedades que até então habitaram o planeta? É correto afirmar que caminhamos para uma sociedade sustentável? Que utiliza de forma adequada os recursos disponíveis?
Eu diria: Basta observar as toneladas de resíduos que produzimos! Será que isso pode ser considerado o resultado de uma sociedade sustentável? E que está preocupada com o futuro?

Caminhões caçamba carregados de lixo circulam pela avenida Ipiranga 
Minha decisão de escrever sobre este tema possui seus motivos. Não é de hoje que insisto em falar do “desperdício”. Ele está presente em minha vida há quase vinte anos, quando comecei a estudá-lo como “mote” de um trabalho de conclusão de curso em 1999. Observei a precariedade de material de pesquisa para aprofundar meus estudos. Ou seja, pouca preocupação existe com este tema. E por não conseguir muitos recursos à época, meu óculo foi direcionado aos catastrofistas ambientais, aqueles pioneiros do ecologismo. Foi neste momento que tive contato com nomes de grande significado: Padre Balduíno Rambo, precursor dos estudos geológicos do RS, Henrique Roessler, um afinado defensor das bacias hidrográficas regionais, e José Lurzenberger, nosso grande mestre ecologista.

Mas o que mais me chamou a atenção recentemente foi a quantidade de caminhões envolvidos na remoção do lixo urbano da capital. Talvez porque eu tenha mudado de cidade neste início de 2014, vindo morar em Porto Alegre, próximo à saída para Viamão, e porque faço um roteiro no retorno de meus trabalhos em que, coincidentemente, me deparo com os veículos contratados do DMLU para transportar estes resíduos até a Estação de Transbordo da Lomba do Pinheiro. São caminhões caçambas enormes que durante toda a noite trafegam pela avenida Ipiranga e depois na continuação da avenida Bento Gonçalves. Fico a imaginar a quantidade de toneladas de lixo transportadas diariamente. Onde vamos parar?
 
Condomínio com lixo de final de semana aguardando retirada sobre a calçada
Quando vejo a quantidade de lixo gerada no condomínio onde moro, e me ponho a tentar multiplicar isso em relação à toda a região, me ponho impressionado. E nos finais de semana parece que a quantidade dobra. Outro dia, numa segunda-feira de manhã, quando saia para trabalhar, passei em frente a um condomínio na avenida Antônio de Carvalho (foto acima) e me assustei com a quantidade de lixo depositado sobre a calçada. Outra demonstração do volume de recursos que temos consumido desmesuradamente.

A degradação ambiental é a marca desta sociedade
Nas mesmas aulas de Tecnologia Industrial de que falei inicialmente, trabalho com os alunos os processos de fabricação, onde vemos como são elaborados os materiais que nos proporcionam conforto, tais como embalagens, rótulos, manuais e panfletos. Mas saber que tudo isso vai parar na lata do lixo é muito triste. Estamos extraindo recursos naturais sem a preocupação da reposição disso tudo. No mínimo, deveríamos utilizar estes recursos com parcimônia e reponsabilidade. Mas não é o que acontece. O uso é irrestrito e sem comedimento.

Infelizmente parece mesmo que caminhamos para o fim. E para tanto, gostaria de expor um pequeno trecho do que disse Lutzenberger em seu Manifesto Ecológico Brasileiro, em 1980:

Um capital insubstituível só se destrói uma vez. Os recursos bióticos, minerais e energéticos, dos quais tão prodigamente se serve a Sociedade de Consumo, são o resultado de longa evolução geológica e orgânica que não tem retorno. As matérias-primas que dissipamos, o petróleo que queimamos, as espécies que apagamos nunca voltarão. Fossemos espécie realmente racional, não poderíamos estar agindo da maneira como estamos”.

Portanto, observando os exemplos trazidos pelo filme "A Guerra do Fogo" e comparando com nosso tempo, o comportamento humano em relação à natureza parece ter mantido o viés da violência e da barbárie desde nossos primórdios. O "hommo sapiens" não é tão racional como pensamos, pois se comporta de maneira irresponsável com o futuro que irá legar às próximas gerações. 

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
li esta postagem no domingo. Mas fi-lo no smartphone e minhas limitações de digitador em mini-teclado são muitas, daí porque não consegui postar comentários.
Primeiro agradeço a referência ao incentivo no uso do excelente filme acerca “A Guerra do Fogo”. Não sabia deste teu trabalho.
Acerca do meio ambiente, este semestre estou lecionando a primeira vez a disciplina Ética, Sociedade e Meio Ambiente. Os estudantes fizeram um trabalho de campo excelente. Contei um pouco em uma blogada no dia 01 de outubro.
Peso que temos que trocar figurinhas.
Já que posto este comentário no dia do professor, cumprimento-te pelo entusiasmo que tens em ser professor: Feliz aquele que transfere o que sabe, marcando as páginas de nossas vidas!
attico chassot