24 janeiro 2015

O GRAVATAÍ PEDE SOCORRO

O longo caminho da energia elétrica até nossas casas
Foi-se o tempo em que o Brasil era considerado um país sem escassez de recursos hídricos. A água à vontade sempre fez nossa população acreditar que o recurso era infinito. O tempo chegou! E não foi por falta de avisos! É hora de pagar a conta pelo descuido, pelo desleixo e pelo enorme desperdício.

As notícias são péssimas! Estamos na iminência de falta de água e falta de energia elétrica. Dois recursos essenciais para a sobrevivência humana em tempos modernos. Poderíamos argumentar que, sem energia elétrica até se vive, mas sem água, é a morte certa. Mas como dispensar a energia elétrica depois de nos acostumarmos com tantos confortos da vida contemporânea? O drama que a capital paulista tem vivido nos últimos meses já era previsto há anos. Metrópole dotada de grande contingente populacional, ávida pelos recursos indispensáveis, está correndo risco de se tornar uma megalópole fantasma. Já se fala inclusive de uma debandada para o interior, devido ao caos que pode se instalar ali nos próximos meses. 
  
Nossa água potável depende dos rios locais
Mas, se a água já é escassa para atender nossas necessidades prementes, como matar a sede e para nossa higienização – sim, porque temos de lembrar que a saúde depende da higiene –, se faltar nos reservatórios de nossas hidrelétricas, o caos estará instalado definitivamente. Um mundo sem esta energia, e que no nosso caso depende em sua maioria das hidrelétricas, inviabiliza qualquer atividade econômica comercial ou industrial. Uma tragédia que poderá se abater em breve tempo, se não mudarmos a forma de utilizar esse recurso indispensável.

Toda vez que os ambientalistas soavam os alertas pela conservação e uso comedido dos recursos naturais finitos, eram taxados de “catastrofistas” e de “obstrutores do progresso”. Pois agora não resta qualquer dúvida de que a razão ali estava.

O leito do Rio Gravataí está em fase crítica. O Rio pede socorro...
Esta semana, um levantamento realizado pela Fundação Municipal do Meio Ambiente de Gravataí, exemplifica bem o que o futuro nos reserva por aqui. As águas do rio que abastece boa parte da nossa população, está próxima de se tornar inviável para o consumo humano, segundo o estudo. Segundo o biólogo Jackson Muller, diretor técnico da fundação, “hoje o Gravataí está entre os dez rios mais poluídos do país”. A equipe da fundação coletou amostras de água em 14 pontos do rio, entre os municípios de Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viamão.

Dentre os problemas mais sérios encontrados estão os agrotóxicos oriundos das lavouras de arroz e a devastação das margens do rio nos trechos de Viamão, o acúmulo de lixo e esgotos despejados sem controle na parcela de Gravataí e Cachoeirinha. Próximo à BR116, a situação é ainda mais crítica. Para Jackson, ali a poluição atinge níveis que inviabilizam o tratamento da água para consumo humano. Para entendermos melhor, o nível de coliformes fecais (bactérias presentes nas fezes) tolerável é de 1.000 para cada 100ml de água. Pois as amostras coletadas em Gravataí e Cachoeirinha demonstraram um nível de 26.600 coliformes para cada 100ml. Já na foz do rio, próximo da BR116, a quantidade de coliformes da amostra demonstrou a presença de 816.400 a cada 100ml. 

Ocupação habitacional irregular das margens em Cachoeirinha
Um dos problemas indicados pelo biólogo como emergencial para reverter parte do problema, é a ocupação habitacional irregular nas margens do rio em Cachoeirinha. Segundo ele: “Não é possível aceitar uma situação dessas. Um dos desafios, se quisermos garantir a preservação do Gravataí, é encontrarmos um meio de remover essas pessoas ou reduzir o impacto da presença humana nesse ponto, que é local de captação da água que bebemos.”

Portanto, antes de ficar criticando o governo paulista pela incompetência na condução da crise de água que ali se estabeleceu, que tal olharmos o “nosso próprio umbigo” e resolver os problemas locais? Já é tempo de tomarmos atitudes responsáveis com nossos recursos hídricos e adotarmos uma postura mais comedida no seu uso.
Fonte: Correio de Gravataí - 23/01/15

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
leio teu SOS ao Gravataí, aqui em Cracóvia, onde vivi um dos dias com neve dos mis adversos (comparado com situações de neves mais intensas vividas, por exemplo, em Estocolmo e Aalborg). A situação da água no Planeta é atroz. Contextualizo tua blogada em dois detalhes desta semana: as milhares de pessoas que estão sem água em São Paulo e a entrevista que ouvi com Bill Gates mostrando a alternativa de destilar fezes humanas para produzir água potável.
Ainda na tua excelente blogada é bom encontrar referências ao nosso ex-colega de Unisinos Jackson Muiller.
Obrigado pelo teu comentário hoje em Mestrechassot.blogspot.com
Um abraço desde uma das cidades mais lindas que já estive, mesmo quando inclemente.
Achassot
PS.: Na semana passada comentei teu blogue desde Berlin e não vejo minha postagem.