21 março 2015

NÚMEROS QUE FALAM

Dados Estatísticos facilitam a interpretação e
mostram caminhos
Trabalhar com dados estatísticos é um desafio que se impõe a qualquer profissional de excelência. Aprender a interpretá-los é parte do aprendizado em todas as escolas que desejam formar técnicos e especialistas. Seja nas ciências exatas quanto nas ciências humanas, há necessidade de entender o que os números querem nos dizer. São estes dados capazes de mostrar-nos o caminho que deveremos trilhar na busca de soluções. Qualquer que seja a profissão técnica ou de pesquisa, não se pode deles abdicar.

No caso dos profissionais prevencionistas não há isenção neste aspecto. Um técnico de segurança do trabalho deve estar atento aos números e, mais do que isso, saber interpretá-los. Por isso, eu também vez por outra busco informações para analisar como estão os números que dizem respeito a esse trabalho aqui no Estado. E os dados são preocupantes, pois a realidade de outrora não é a mesma de hoje. Alguns municípios gaúchos parecem ter empresa que investiram em segurança do trabalho ao longo de décadas, reduzindo a acidentalidade, e outros receberam novos empreendimentos, mas que estão contribuindo para engrossar os dados de maneira negativa.
Anualmente o Ministério da Previdência
publica dados estatísticos importantes

Quanto aos números apresentados pelo Ministério da Previdencia, embora todo o esforço empreendido pelo órgão para torná-los confiáveis, não há como acreditar em sua veracidade. Uma grande quantidade de empresas, principalmente aquelas de pequeno porte, negligenciam a entrega de documentação e deixam de registrar ou mascaram os dados reais, cientes de uma improvável fiscalização, principalmente pela deficiência de um quadro de fiscais aquém das necessidades. Portanto, ao se observar os dados disponíveis, não há como duvidar que eles refletem de forma equivocada o que acontece na prática.

Mesmo assim, vejamos os números apresentados abaixo, e que selecionei esta semana. Fiz um ranking de municípios de nosso Estado, de acordo com o número total de acidentes apresentados pelas empresas que enviaram seus dados para o órgão da previdência.

Ranking dos Dez Municípios gaúchos mais acidentários
Na ponta da tabela já era de se esperar a liderança da capital gaúcha na quantidade de acidentes. Ela que concentra um grande contingente populacional, também emprega uma parcela significativa da população local e, por estar próxima dos órgãos fiscalizadores, possui números pouco mais confiáveis.

Em segundo lugar, acredito que também fosse se esperar a presença do município serrano que concentra um polo industrial metalúrgico de grande porte. Mesmo assim, os acidentes de trajeto, as doenças ocupacionais e acidentes sem registro de CAT são pouco críveis. Acredito que estes valores devem superar a casa do milhar.
Erechim está entre os cinco mais acidentários

O terceiro colocado é Gravataí, demonstrando que o município cresce em números de empresas, além logicamente da instalação do polo automotivo da GM, em que uma grande quantidade de fabricantes de autopeças ali também se faz presente.

A quarta colocação do município de Erechim chama a atenção, superando Canoas que, na maioria das vezes esteve naquela posição. Todavia, no caso de Erechim é possível observar a grande diferença entre os acidentes registrados via CAT e os sem registro. Isto pode denotar que em localidades interioranas ocorre um fenomeno conhecido de nossos profissionais, o acobertamento de acidentes pela falta de registro e a dificuldade do acesso do trabalhador aos órgãos de fiscalização.

Canoas em quinto lugar, município detentor de uma quantidade relativa de processos metalúrgicos, mostra números bem similares aos de Passo Fundo, embora este tenha processos em grande parte direcionado á agroindústria, com consertos e fabricação de implementos e suas atividades complementares. No caso destes dois municípios, os dados demonstram uma maior fatalidade no município metropolitano.
Caxias do Sul só é superado pela capital gaúcha

Por fim, analisando os quatro últimos da tabela, depreende-se uma mudança no posicionamento de São Leopoldo, que antigamente ocupava posição intermediária na tabela, e atualmente foi ultrapassado por Rio Grande, e até mesmo Santa Rosa. A conclusão possível é certamente a instalação do polo naval naquela região, e em Santa Rosa a intensificação da fabricação de veículos agrícolas e implementos para a agricultura. Sem contar aí também as atividades rurais que contribuem para uma maior acidentalidade.

Numa análise rasa, minha intenção esta semana é tão somente demonstrar aos leitores, e principalmente aos alunos e alunas, a importância que se pode atribuir aos dados estatísticos, e de quanto uma simples tabela nos fornece riqueza de informações. A análise acima tem a minha visão. Certamente muita coisa mais pode ser concluída a partir de outras óticas.  Basta que se esteja atento à realidade que nos cerca, para que possamos deduzir e refletir sobre estes números. E dentro da empresa não é diferente. Resgatar dados internos podem nos levar a adotar ações corretivas que contribuam para evitar acidentes de trabalho e preservar a saúde dos trabalhadores.  

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Estimado colega e amigo Jairo!
Ler com teus óculos estas estatísticas nos oferece uma visão de realidade que, de vez em vez, nos passa despercebida.
Surpreso com dolorosa cruenta realidade que apresentas.
Obrigado pelos oportunos esclarecimentos